O clima da área central de Sinop ficou mais quente nos últimos três anos. Esta é (uma das conclusões) de uma pesquisa apresentada, recentemente, no 8º Congresso Luso-Brasileiro de Planejamento Urbano, Regional, Integrado e Sustentável, em Coimbra, Portugal. O estudo começou como tese de doutorado do professor João Carlos Machado Sanches, da Faculdade de Ciências Exatas e Tecnológicas (FACET), da Universidade Estadual de Mato Grosso (Unemat). Atualmente, é conduzida também por outros professores e alunos de Engenharia Civil do campus de Sinop.
Até agora, foram feitas duas medições do clima sinopense. A primeira, em 2014, e a última, em 2017. A análise dos resultados revelou que a área central de Sinop teve alterações climáticas. “Não sabemos dizer a média (de aumento de temperatura na cidade), pois nossa pesquisa faz análise de áreas alteradas. O que eu posso dizer é que estas aumentaram, ou seja, cresceram as regiões comprometidas do ponto de vista climático”, explicou Sanches, ao Só Notícias.
Para os pesquisadores, as mudanças ocorridas nos últimos três anos são “significativas e condizem com mudanças no uso e ocupação do solo”. O estudo constatou, por exemplo, que a diferença de temperatura entre diferentes regiões da área urbana de Sinop já chega a 4,2 graus Celsius. “É bastante para uma cidade de 120 mil habitantes. Ocorre principalmente por causa da expansão desordenada da cidade. Você perde área verde, que consome energia para fotossíntese e evapotranspiração, e, no lugar, coloca prédios, casas, concreto e, principalmente, asfalto”.
Há ainda outros fatores determinantes para as modificações climáticas, segundo Sanches. “Os carros, motos e ônibus perdem muito da energia que consomem soltando calor no ambiente. Então o excesso destes veículos também contribui. O ar condicionado, que, para resfriar, superaquece o ambiente, é outro fator. Então, a gente tendo áreas mais aquecidas, gasta mais ar condicionado para resfriar o comércio ou casa. Isso cria um ciclo ruim, e a tendência é piorar”, alertou o pesquisador.
Um dos locais onde houve “grande alteração” da temperatura, conforme o estudo, foi a região da avenida dos Tarumãs, no centro. De acordo com a pesquisa, o resultado se deve à retirada das árvores, em 2014, para construção de estacionamento, o que tende a “aumentar o fluxo de veículos e estabelecimentos comerciais”. O exemplo contrário é dado pela região da praça da Bíblia e estádio Gigante do Norte, onde o estudo constatou que o clima ficou mais “ameno”.
“Houve nesses locais uma preocupação com a inserção de vegetação urbana, não só arbórea, como também rasteira, com grama. Ainda, foi implantado na Praça da Bíblia, uma fonte de água, que influencia no arrefecimento e umidificação dessa área. Além disso, no centro da cidade, ao longo da avenida dos Mognos (Júlio Campos), ocorreu diminuição do fluxo veicular devido a implantação de estacionamento de ambos os lados da via, tornando-a mais lenta e de apenas uma faixa, vindo a ser evitada em alguns momentos pelos usuários”, diz a pesquisa.
Além de apontar as modificações, a pesquisa apresenta sugestões para frear as modificações climáticas na cidade. “De 2014 para cá, não houve nenhuma política para tirar carro da rua. Então, cada vez mais tem mais carro. É quase um carro por pessoa. Imagina como reverter depois. Fizemos uma série de propostas que podem ser incorporadas à legislação da cidade. A gente precisa mudar isso agora”, afirma Sanches.
Entre as sugestões estão a criação e preservação de sistemas de áreas verdes interligadas, arborização viária e redução no movimento de expansão da cidade. “A principal é a criação de parques lineares. Além de preservar as áreas verdes, interligá-las em sistema. Outra proposta é criar um programa de arborização viária. Hoje você vê algumas ruas com bastante árvores e outras com poucas. A outra questão é que você não tem como ter uma cidade sustentável, se ela está cada vez mais se expandindo sobre o meio natural. São bairros cada vez mais distantes e, dentro da cidade, tem muito terreno vago. Tem que usar as áreas consolidadas e depois abrir outras”, aponta o pesquisador.
O estudo também avalia, até o ano que vem, possíveis modificações climáticas em Cáceres, abrangendo, desta forma, cidades de clima amazônico e pantaneiro. A análise será utilizada como contribuição para criação do plano diretor do município, o qual é coordenado por João Sanches. “Hoje, estamos fazendo esta parceria entre o departamento de Engenharia Civil e a prefeitura de Cáceres. A ideia é contribuir com quem tem a obrigação de pensar a cidade”.
A próxima medição do clima sinopense, em contrapartida, será feita em 2020.