quinta-feira, 12/dezembro/2024
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Pesquisa aponta avanço de estradas ilegais na Amazônia

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Imagens de satélite analisadas pelo Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia, o Imazon, mostram que há 173 mil quilômetros de estradas abertas ilegalmente em terras públicas na Amazônia.

De acordo com o estudo, a cada ano surgem cerca de 1,9 mil quilômetros de novas estradas de chão batido, abertas na mata por meio de moto-serras, tratores do tipo patrol ou tratores de esteira com correntes estendidas (usados para maiores devastações).

As estradas clandestinas trazem a extinção da floresta e concentram o desmatamento. Nove em cada 10 quilômetros da malha rodoviária ilegal estão no Mato Grosso, Rondônia e Pará. No raio de 5 quilômetros das pistas ilegais estão 80% da destruição da Amazônia, calcula o geógrafo Carlos Souza Júnior, responsável pelo estudo do Imazon.

Ele explica que a análise das imagens de satélite permite compreender a “geografia da ocupação” antes que as novas fronteiras de exploração da floresta estejam delineadas. Com as fotos das rodovias “endógenas” ou “não-oficiais”, governo e sociedade podem antecipar onde ocorrerão processos de desmatamento.

“Se a gente consegue localizar essas estradas, a gente consegue prever com muito mais precisão onde vai acontecer o desmatamento nos próximos anos”, explica o geógrafo.

Para Marcelo Marquesine, um dos coordenadores das campanhas do Greenpeace na Amazônia, as estradas são “as veias abertas da destruição da floresta”, as rodovias clandestinas iniciam um ciclo de devastação.

A estrada serve primeiro para retirar madeira nobre, em seguida vem a ocupação da terra pública por meio de grilagem. Por fim, o uso da terra para a pecuária extensiva ou para a exploração agrícola em monocultura. “Os madeireiros abrem as estradas, retiram as melhores espécies (ipês, jatobás, mogno e cedro) e na seqüência entra o fazendeiro”, explica Marquesine.

A pesquisa do Imazon verificou que as estradas ilegais cortam inclusive áreas protegidas (como a Estação Ecológica da Terra do Meio, a Terra Indígena do Baú ou mesmo área militar do Caximbo, ambas no Pará) e formam caminhos vicinais às estradas regulares como a BR-163, que liga Cuiabá (MT) a Santarém (PA) e está em processo de licenciamento ambiental no Ibama para a pavimentação.

Para que a rodovia asfaltada não venha a aumentar a destruição, o governo federal e a sociedade civil formaram grupos de trabalhos que planejaram medidas mitigadoras da obra, entre elas a criação nos dois últimos anos de oito unidades de conservação e o estabelecimento de áreas de limitação administrativa provisória às margens BR-163 – de onde não podem partir rodovias vicinais irregulares.

Na avaliação de Marcos Ximenes, diretor-executivo do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia, e um dos articuladores da participação social no projeto de pavimentação da BR-163, a Lei de Concessão de Florestas vai aumentar a capacidade do Estado em controlar a ocupação da Amazônia e evitar a abertura de pistas irregulares. “O Estado se torna senhor da situação”, opina Ximenes.

Para Marcelo Marquesine, do Greenpeace, o projeto de concessão de floresta é “bom” mas restrito às empresas que trabalham com manejo florestal e não garante que as madeireiras que financiam a construção de estradas clandestinas saiam da ilegalidade.

Segundo ele, a “governança” da região será resolvida com medidas que criem mais alternativas econômicas e resolva a questão fundiária. “Não existe regularização fundiária na Amazônia. Daí se instala o caos.”

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