Dois barracões que abrigam vários materiais de construção, prédios inacabados e outros demolidos, todos sendo tomados pelo mato, além de muito lixo e falta de segurança. Essa é a atual situação do Terminal de Turismo e Lazer da Salgadeira, localizado no km 45, da MT-251. As obras de revitalização do local tiveram início em novembro de 2013 e, desde então, foram paralisadas por diversas vezes. Um novo acordo foi feito entre o governo do Estado e o Consórcio Salgadeira, responsável pela obra, e a execução deveria ser retomada em junho deste ano, o que mais uma vez não foi cumprido. A recomendação da Secretaria de Estado de Cidades é que o contrato seja rescindido. O prazo para retomada das obras termina amanhã (1º).
O verde da mata, o frescor das quedas d’água e da cachoeira, além de um espaço para alimentação e diversão das crianças. Assim era o terminal da Salgadeira até outubro de 2013. Hoje, quem passa pelo local se espanta e decepciona ao olhar para onde era um dos cartões de visita de Mato Grosso e agora é isolado por tapumes. “Dá uma tristeza sem fim de ver a que ponto chegou a descaso com nosso bem natural, que é o que mais dá destaque a Mato Grosso nacionalmente”, diz a advogada Camila Fernandes, 27.Mesmo após a interdição do local, ela e o namorado ainda visitam o espaço, que segundo ela é sinônimo de lazer e descanso. “A cachoeira é linda e tem uma água deliciosa, por isso ainda escolho vir aqui para relaxar. Pena que está abandonado, espero que o Estado solucione essa situação o quanto antes”.
Natural de Sinop, um casal que se identificou apenas como Luiz e Karina também estava aproveitando o feriado prolongado para apreciar as quedas d’água do complexo da Salgadeira. “Não conhecia o lugar pessoalmente, apenas por fotos. Estamos indo para Chapada e decidimos parar aqui”, disse Luiz.
Mesmo apresentando um cenário não muito agradável aos olhos, Karina diz que acha a Salgadeira incrível e tem esperanças de que em breve o local seja reaberto com a obra concluída. “Teremos mais prazer ainda em frequentar o espaço”.
A vendedora ambulante na região, Ana Zélia Tedesco, 39 anos, diz que é comum ver pessoas frequentando a cachoeira da Salgadeira. “Aqui lota de gente, principalmente aos finais de semana e feriados. As pessoas sentem falta do espaço de lazer e contato com a natureza. E eu que moro aqui na região sinto é dó de ver essa maravilha toda acabando”.
Ana Zélia diz ainda que a conclusão da revitalização do local beneficiará não só os turistas e moradores locais, mas também os comerciantes. “Todos querem ter um quiosque dentro do complexo. Isso vai gerar mais emprego e rentabilidade para a economia local”.
O cantor João Marco Campos, 31 anos, é da cidade de Itiquira e diz que também frequentou o complexo antes deste ser interditado para obras. Ele fala que achava o local a cara do Estado, mas que agora representa mais uma vergonha do descompromisso do Governo e dos empresários corruptos. “Uma obra orçada em um valor altíssimo, que era para estar pronta antes da Copa do Mundo, mas que até agora não apresentou nenhum avanço. É uma decepção sem tamanho para nós mato-grossenses”.
Munícipe de Chapada dos Guimarães, o fotógrafo Geraldo David Santana, 55 anos, lamenta não só pelo terminal turístico, mas também pela sua cidade natal. “Chapada perdeu muito com o fechamento da Salgadeira, porque os turistas que antes tinham uma paisagem belíssima até o Município, atualmente só veem obras inacabadas. Não há ânimo para vir para essa região”.
Atualmente no canteiro de obras existe apenas um vigia, que segundo informações dos moradores locais, já não se importa mais com as pessoas frequentando o espaço, uma vez que seu salário, assim como os operários que trabalhavam na obra, não é pago há muitos meses.
Dos dois lados, do Terminal de Turismo e Lazer da Salgadeira, é possível encontrar vestígios de que pessoas estão frequentando o local. Muito lixo acumulado por todos os lados, especialmente próximo à cachoeira, onde existem garrafas de todos os tipos de bebidas, embalagens de alimentos e até peças de roupas íntimas. Responsável pela obra, o Consórcio Salgadeira é formado pelas empresas Farol Empreendimentos e Ypenge Projetos Florestais e Ambientais e realizaria a obra pelo valor de R$ 6,3 milhões. O Governo informou que até o momento, 39,2% do valor (R$ 2.505.562,95) já foi repassado para o consórcio, porém a obra está parada desde dezembro de 2014. A previsão era que esta fosse retomada em janeiro deste ano e entregue em junho e, mais uma vez, o acordo não foi cumprido pelas empresas.
Diante dessa situação, a Secretaria de Estado de Cidades (Secid) elaborou um relatório indicando a necessidade de rescisão contratual com o Consórcio Salgadeira. O documento será entregue à Secretaria Adjunta de Turismo, que é a autora do contrato.
Conforme levantamento realizado durante as fiscalizações da Secid, a empresa não tem cumprido os prazos e cronograma dos serviços. Na última fiscalização, a área não contava com qualquer movimentação no canteiro de obras. Apenas um vigia fazia a segurança do local.
De acordo com o cronograma, que foi repactuado com as empresas em junho deste ano, a expectativa era de que parte da obra fosse entregue ainda em dezembro de 2015. O restante das estruturas seria liberado em abril de 2016.Em setembro, quando o Estado já cogitava a hipótese de rescisão do serviço com as empresas responsáveis pela obra, o diretor do Consórcio Salgadeira, Domingos Silgueira, disse que não havia razões para a suspensão do contrato, uma vez que as empresas já teriam executado 45% das obras estipuladas.
Essa semana, o secretário de Desenvolvimento Econômico (Sedec), Seneri Paludo, afirmou que se as obras não forem retomadas até amanhã, o contrato deverá ser rescindido e um novo processo de licitação deverá ser aberto.