O número de mulheres no sistema prisional de Mato Grosso apresenta redução de 43,5%, se comparados os dados entre os anos de 2012 e 2015. O levantamento da Secretaria de Estado de Direitos Humanos e Justiça (Sejudh) demonstra que este ano o sistema conta com 381 detentas, contra 675 mulheres segregadas há três anos.
O dado de presos é “flutuante”, uma vez que a entrada e saída de suspeitos e condenados é diária. A Diretoria da Penitenciária Ana Maria do Couto May, responsável por abrigar 181 mulheres suspeitas de envolvimento em algum tipo de crime no Estado, pontua que 75% do público feminino encarcerado responde por tráfico de drogas, 15% por roubos, 5% por homicídio e o restante são crimes diversos.
Na avaliação da diretora da unidade, Gisele da Silva Araújo, normalmente as mulheres entram para a criminalidade inseridas pelos homens da família, seja marido, filho ou namorado, especialmente quando o assunto é o tráfico de drogas. Cita como exemplo os recorrentes flagrantes de mulheres presas ao tentarem entrar com drogas em cadeias ou presídios masculinos.
A delegada Anamaria Machado, adjunta da Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE), destaca que no cotidiano da Polícia Civil a mulher não é vista com um papel tão passivo. Destaca que elas costumam fazer parte das quadrilhas de tráficos pelo poder de ludibriar a Polícia e a própria sociedade. “Elas são vistas como pessoas importantes para o êxito do crime. Muitas vezes, fazem o papel de ‘mula’ ou motoristas porque não levantam suspeitas”.
Cita como exemplo um caso ocorrido na fronteira de Cáceres com a Bolívia em que uma senhora de 61 anos era integrante de uma quadrilha e nunca levantava desconfiança pela aparência. Se vestia de forma simples, andava em um Fusca e sempre com jeito humilde. “Quem vai imaginar que uma velhinha tão humilde está carregando 50 quilos de drogas no veículo? A mulher tem esse poder de escapar, de não levantar suspeita”.
Anamaria destaca ainda que as mulheres não ocupam papel de submissão e sim de liderança no tráfico de drogas, especialmente o tráfico doméstico, com ligação direta aos fornecedores e administração de “bocas de fumo”. Titular da Delegacia Especializada de Roubos e Furtos (Derf) de Cuiabá, a delegada Elaine Fernandes da Silva destaca o mesmo cenário em que as mulheres estão envolvidas com as quadrilhas de roubo. Pontua que não vê redução da presença do público feminino no cotidiano da delegacia.
Diferente do entendimento da diretora do presídio, a delegada frisa que a mulher deixou de ser coadjuvante no crime e passou a ocupar a posição de liderança. “Antes, era comum falar que a mulher era usada como isca para facilitar a ação do homem. Não é isso que vemos hoje. O que encontramos são mulheres liderando as quadrilhas, fazendo parte da articulação dos crimes de roubo”.
Elaine acredita que essa mudança de comportamento seja reflexo da própria situação familiar das mulheres que terminam entrando no mundo do crime. Habituada a prática de crimes dentro de casa, ela passa a fazer parte dos bandos e assume o papel de mentora.
“Normalmente, não identificamos que a mulher tenha sido induzida pelo homem. Vemos que a participação é por uma escolha pessoal. Cresce nesse meio e escolhe continuar as práticas”.
A delegada aponta como exemplo de mulher que passou a atuar no crime por escolha Glauce da Silva Neves, conhecida pelo apelido de “Gê”. Respondendo vários processos por crimes diversos, a acusada tem grande representatividade em crimes de roubos e já foi alvo de pelo menos duas operações do Polícia Civil.
Em 2014, ela constava na lista de procurados da operação “Grená”, deflagrada para desarticular a facção criminosa Comando Vermelho em Mato Grosso. As investigações da polícia demonstraram que “Gê” possuía “altíssima liderança, sendo a principal responsável pela administração de rua”, descreve trecho do inquérito.
Exercia a função de administrar todos os membros que estão na rua, bem como aqueles que saem em liberdade, além de controlar a contribuição mensal de cada membro que está em liberdade. Participava ainda de reuniões a fim de repassar todos as decisões ao “Conselho Final” (uma espécie de tribunal do crime para julgar os membros) para os líderes.
Glauce entrou no CV-MT, segundo a Polícia Civil, ao ser recomendada por um reeducando que faz parte de uma quadrilha de arrombamento de caixas eletrônicos. Em 2012, a mulher foi presa junto com outras 17 pessoas na operação “Lista Amarela”. O grupo que integrava era apontado como responsável por 50% dos grandes roubos praticados contra empresas do ramo de transporte e logística em Cuiabá.