A Operação Ponta de Lança iniciada ontem pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) no Parque Nacional do Juruena, na Floresta Amazônica, flagrou em um dia pelo menos cinco crimes ambientais dentro da área de reserva federal: criação de gado, desmatamento, garimpo ilegal, extração de madeira e de palmito sem autorização. O ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, acompanhou o primeiro dia das ações.
“Há um sentimento de impunidade e de falta de alternativas sustentáveis. Nós temos que intensificar a repreensão e a fiscalização, mas também as alternativas para que essas pessoas possam viver com dignidade sem destruir”, defendeu Minc.
Cerca de 700 cabeças de gado – conhecidas como bois piratas, por ocuparem ilegalmente área de reserva – foram encontradas dentro do parque. Cerca de 600 delas pertenciam a uma mesma fazenda. Para garantir a pastagens dos bois, a proprietária do terreno, Helena Salomão, desmatou uma área total de 185 hectares. A multa pode chegar a R$ 1 milhão.
“O Parque Nacional do Juruena está virando pasto e carvão. São 185 hectares desmatados, madeira recém cerrada e curral sendo construído para botar mais boi. Isso é crime ambiental, tudo vai ser apreendido, e as pessoas vão depor por crime ambiental”, afirmou o ministro.
Os donos da fazenda terão 20 dias para tirar o gado do local, caso contrário o boi será confiscado pelo Ibama e pode ser doado ou leiloado. Algumas fazendas contam com grande infra-estrutura para as atividades dentro do parque, incluindo pistas de pouso.
Na fazenda Santo Antônio do Descoberto, a equipe de fiscalização do Ibama detectou o desmate recente de 30 hectares, também para pastagem bovina. O gerente das terras, Sidney Leal, foi encaminhado para a delegacia do município de Nova Bandeirante, a 190 quilômetros da propriedade, para abertura de inquérito. Ele alegou que a área havia sido desmatada há mais de dois anos, mas era possível sentir o cheiro da queimada recente.
“Tem gente que diz que é ilegal, outros dizem que não é, agora que a gente tá sabendo mesmo. Mas quando eu cheguei, há um ano e meio, isso tudo já estava desmatado, não fui eu quem fiz nada”, defendeu-se Leal.
O dono da fazenda possui uma licença ambiental concedida pelo estado do Mato Grosso anterior à criação do parque. Mas, segundo Minc, desde a criação da reserva, em 2005, esses documentos perderam o valor e os proprietários precisam deixar as terras.
A coordenação da operação também identificou cinco garimpos ilegais, um deles ainda em atividade, o Clareira. De acordo com o diretor de Proteção Ambiental do Ibama, Flávio Montiel, a atividade já causou o assoreamento do rio, além da contaminação da água por mercúrio.
Na fazenda Jorge Salomão, o Ibama encontrou 11 metros cúbicos de madeira itaúba extraída ilegalmente. A carga estava sendo levada para Nova Bandeirante.
Outra apreensão feita foi a de 190 caixas de palmito extraído ilegalmente de dentro da reserva. Para produzir aquela quantidade de “palmito pirata”, como o produto foi apelidado pelo ministro, é necessário derrubar cerca de 1 mil pés de palmeira. Nas embalagens, os fiscais encontraram ainda um número fictício de licença ambiental do Ibama.
A Operação Ponta de Lança continua por sete dias com o apoio da Polícia Rodoviária Federal. O Parque Nacional do Juruena foi criado em 2005. Com uma área de 180 mil hectares, a reserva fica localizada no extremo Norte do Mato Grosso, entre o Sul do Pará e do Amazonas.