Após três anos de apuração e investigação de denúncias contra um grupo de empresários, políticos e policiais militares de Juína, por manterem jornalistas e ambientalistas do Greenpeace em cárcere privado, nos dias 20 e 21 de agosto de 2007, o Ministério Público Federal de Mato Grosso concluiu o processo e aponta que autoridades e empresários do município ameaçaram e cercearam a liberdade de locomoção de jornalistas nacionais e estrangeiros e ambientalistas.
A assessoria do MPF informa que é pedida “a condenação de Hilton Campos (ex-prefeito de Juína), Aderbal Bento, Geraldo Bento, Natalino Lopes dos Santos, Paulo Perfeito e Francisco de Assis Pedroso por constrangimento ilegal, sequestro e cárcere privado”. Os outros denunciados são o dono do hotel João Marques Cardoso, pelo crime de falso testemunho, e o coronel da Polícia Militar, Ricardo Almeida Gil, acusado de omitir diante dos crimes quando tinha o dever de reprimi-los.
De acordo com a denúncia, ambientalistas e jornalistas brasileiros e estrangeiros estiveram na cidade de Juína para produzir um documentário na terra indígena Enawene Nawe, mas foram impedidos de realizar os trabalhos por um grupo composto por dezenas de fazendeiros, empresários e autoridades da cidade, entre eles o então prefeito Hilton Campos, o presidente do Conselho de Segurança Municipal Natalino Lopes dos Santos, e o presidente da Câmara Municipal de Juína Francisco de Assis Pedroso.
“Os fazendeiros e autoridades de Juína ocupavam áreas reivindicadas pelos povos indígenas e temiam que os jornalistas e ambientalistas estivessem ali para tratar da demarcação dessas terras. Para evitar que a suposta demarcação se concretizasse, na manhã do dia 20 de agosto de 2007 os fazendeiros, empresários e autoridades da cidade cercaram o hotel onde estavam hospedados os repórteres e ambientalistas e exigiram que eles se retirassem do município. Como se recusaram a cumprir as exigências, jornalistas, ambientalistas do Greenpeace, índios e representantes da Operação Amazônia Nativa (OPAN) foram levados à câmara, onde foram coagidos a permanecer por seis horas, sob ameaças de que haveria guerra se eles resolvessem continuar a viagem”.
Conforme Só Notícias informou em 2007, a represália, bem como ameaças sofridas pelo grupo, foram gravadas e entregues ao MPF. No processo há uma transcrições de parte da conversa retiradas dos vídeos gravados no momento em que estavam na câmara. A promotoria cita, trecho da fala de do ex-prefeito Hilton Campos: “Não vamos deixar vocês entrarem na área, pode vir a polícia…nós vamos fazer a guerrilha”.
Segundo a denúncia, após saírem da câmara, o grupo ficou em um hotel e durante o tempo que ficaram na cidade foram acompanhados e ameaçados pelas autoridades, e até agredidos pelos fazendeiros que buscavam se certificar de que eles não tratariam da demarcação das terras. Há informações no processo de que o piloto que trouxe os jornalistas foi obrigado a voltar à cidade de Vilhena (RO) para garantir a segurança pessoal dele e a integridade do avião; e que, depois de passar a noite cercado no hotel, o grupo foi levado por dezenas de fazendeiros e policiais militares até o aeroporto para deixar a cidade. Ainda conforme a ação penal, Paulo Perfeito e o empresário Aderbal Bento, na companhia de dezenas de pessoas não identificadas, também invadiram o escritório da Fundação Nacional do Índio (Funai), dizendo que Juína não era lugar para índios e desacataram e ameaçaram de morte dois servidores públicos federais, para que dessem fim à demarcação de terras indígenas na região, acusa o MPF.
Para alguns dos denunciados o MPF pede pena de um a três anos de reclsão.