Motoristas que trafegam pela Rodovia dos Imigrantes (BR-070/BR-163) têm enfrentado diariamente um congestionamento de 28 quilômetros, extensão referente ao percurso do Distrito Industrial de Cuiabá ao Trevo do Lagarto, em Várzea Grande. O motivo são as obras de recuperação asfáltica realizada na via, sob responsabilidade da Odebrecht Infraestrutura, por meio da Concessionária Rota do Oeste. De acordo com a Polícia Rodoviária Federal (PRF), o trecho que normalmente era realizado no intervalo de 30 minutos, tem sido feito pelos motoristas em um período de três a quatro horas, dependendo do dia. Engenheiro especialista em trânsito diz que se tivesse sido concluído, o Rodoanel poderia ser uma das alternativas para desafogar o trânsito local.
Desde o dia 25 de agosto deste ano, a Rodovia dos Imigrantes passa por uma recuperação profunda do pavimento, o que significa a retirada da antiga malha danificada e a implantação de uma nova camada asfáltica ao longo de 18 quilômetros. A via é considerada uma das mais importantes do Estado, quando se trata do escoamento de produção do agronegócio.
De acordo com o professor de Engenharia Civil da Universidade Federal de Mato Grosso, Luiz Miguel Miranda, especialista em engenharia de trânsito, o trecho recebe cerca de 12 mil carros por dia, sendo que 70% destes são caminhões de carga. Para ele, a via atendia sua função até 30 anos atrás, quando foi construída e hoje já não suporta mais o tráfego que recebe. “É aí que entraria o Rodoanel, essa rodovia serviria para diminuir o fluxo de veículos de carga nas BRs 163, 364 e 070, além de atender a demanda de carros que passam indevidamente pela região metropolitana”.
Miranda explica que todas as cidades do Estado cresceram mais que o esperado e que o governo não estava preparado para isso. Segundo ele, a medida que os municípios fossem crescendo o contorno de saída e entrada deveria ser distanciado da região central de cada cidade, evitando congestionamentos e que o fluxo nas rodovias atingissem o trânsito interno destas. “Não houve planejamento e agora os motoristas de dentro e fora de Mato Grosso estão pagando por isso”.
O especialista acrescenta que antes a Rodovia dos Imigrantes era praticamente toda rural, situação completamente diferente da atual. “De fora a fora da via a gente vê restaurantes, postos de gasolina, residências, o que aumenta ainda mais o fluxo de veículos na região”.
Para Luiz Miguel, apesar do Rodoanel ser uma via que melhoria o trânsito no local, ainda não seria suficiente. “O ideal seria a conclusão da duplicação da BR-070, melhoria das rampas e curvas, em conjunto com o término do Rodoanel, que diga-se de passagem, no estado em que se encontra precisaria ser praticamente refeito”.
O professor fala que a situação preocupante da Rodovia dos Imigrantes é um caso isolado no país. “Somos o único Estado que mantêm uma Rodovia de duas faixas com o fluxo de tantos carros por dia. As recuperações realizadas nela têm data de validade estipulada de no máximo dois anos, ou seja, em breve os buracos poderão ser notados novamente pelos condutores”.
Quem passa pela referida rodovia nos últimos dias pode observar vários motoristas fora dos veículos, conversando uns com os outros, lendo uma revista ou até mesmo aproveitando o tempo para fazer uma refeição. O caminhoneiro Nilson Bonato, 55, é um dos que trafegam constantemente pela referida rodovia.
Na profissão de transporte há 28 anos, ele conta que nos últimos dois meses é a terceira vez que passa pelo local. “Sei que o atraso no tráfego é por uma boa causa, mas para nós caminhoneiros ficar parado é sinônimo de perda de dinheiro. E esse mês já é a segunda vez que espero mais de 4 horas para chegar ao Trevo do Lagarto”.
Transportando soja, o caminhoneiro Patrick Carvalho, 32, torce para que as mudanças prometidas pelo Estado nos últimos anos saiam do papel. Ele alega que encontra problemas de logística não só na Rodovia dos Imigrantes. “Todas as rodovias que apresentam apenas duas faixas de tráfego têm congestionamento.
Se todas fossem duplicadas seria muito bom, não só para os caminhoneiros, como para todos os motoristas. A Rodoanel é uma na qual já perdi as esperanças”.
Por meio da assessoria, a Concessionária Rota do Oeste informou que está desenvolvendo diversas obras na referida via, porém a que está sendo desenvolvida na BR-070 é uma das prioridades da empresa devido à importância do trecho para os usuários das principais rodovias do Estado.
Segundo a empresa, devido à presença constante de máquinas e operários, a Concessionária realiza no segmento em obra o sistema de “Pare e Siga”, onde o tráfego é liberado em uma pista enquanto os trabalhos são realizados. Por isso, pede a compreensão dos motoristas em relação aos picos de fluxo e também prudência na condução de seus veículos.
Rodoanel – Rodovia projetada entre Cuiabá e Várzea Grande e desenvolvida em parceria entre o Estado de Mato Grosso e o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transporte (Dnit), a obra não tem data definida para ser retomada. Como explicou o superintendente substituto regional do Dnit, Orlando Fanaia. A obra é composta por dois lotes.
O lote 1 composto pelo trecho entre o bairro Sucuri, em Cuiabá, até o município de Várzea Grande, teve um projeto técnico aprovado recentemente. O documento foi encaminhado para a Procuradoria do Dnit, em Brasília, para ser analisado juridicamente. Já o anteprojeto do lote 2 foi elaborado pela Secretaria de Estado de Infraestrutura (Sinfra) e está passando por melhorias quanto as interseções e algumas correções referente ao projeto total. Em seguida, será aberto o processo licitatório, para que a obra possa ser retomada.
“Como se pode observar ainda levará tempo, e por isso não podemos estipular uma data. Mas, a intenção é que voltemos a executar as obras no começo do ano que vem”, finalizou Fanaia.