O Parque Nacional de Chapada dos Guimarães está aberto à visitação somente com o acompanhamento de guias cadastrados pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), com exceção para atividades escolares e de pesquisa científica. A medida foi necessária para que os pontos turísticos, como o Complexo de Cachoeiras, não fossem depredados. Hoje a capacidade de carga destes locais gira em torno de 12 a 36 pessoas.
O problema é que muita gente não gostou das novas regras por causa dos preços cobrados pelos guias, que chega a R$ 100 por grupo de 2 até 4 pessoas. Por conta disso, a diretoria do ICMbio vem com novas regras a partir do ano que vem. Segundo informou o chefe do parque, Cecílio Vilaparte Pinheiro, a partir de julho de 2012 a visitação será autoguiada por monitores contratados pelo instituto e serão implantadas trilhas suspensas como também a cobrança de ingresso no parque como já é feito em parques nacionais como Foz de Iguaçu.
A diretoria do parque alega que um acordo feito com a associação dos guias de Mato Grosso em 2009 vem sendo descumprido. "Acordamos que seria cobrado um valor de R$ 60 para um grupo de até 12 pessoas. Esse valor fica para os guias e o parque não recebe nada para manutenção". Os valores foram subindo e, hoje, segundo o chefe do parque, o turista interno desapareceu, porque não aceita pagar esse preço e cada guia cobra o que quer. "Não tem uma tabela de preços e o parque não consegue se manter. A partir de 2012 vamos dar acesso às pessoas no Complexo de Cachoeiras por autoguiagem. Já foi liberada autorização para contratação de monitores que estarão acompanhando os visitantes". No caso do Parque Nacional do Iguaçu, os estrangeiros pagam R$ 22 e os brasileiros R$ 11.
Com 22 anos de trabalho na área de turismo em Chapada, a guia Márcia Menezes confirma que a cobrança tem sido feita sem uma padronização, cada um faz seu preço, e as agências de turismo cobram valores exorbitantes para os grupos e pagam uma pequena parte para os guias. "Eu cobro R$ 100 para um grupo de 4 visitantes, desde que seja com o carro deles. Eu sei que tem gente que cobra mais, mas não aceito dizerem que foi feito acordo em 2009 porque nunca somos chamados para nada. Acho justo que a visitação no Complexo de Cachoeiras seja autoguiada e tenha cobrança de ingresso mas quero ver isso dar certo".
Márcia complementa que são os guias que cuidam do parque, recolhem lixo e fiscalizam o comportamento dos turistas.
O Parque Nacional de Chapada dos Guimarães é um dos mais visitados do Brasil. recebe cerca de 4 mil pessoas por ano, sendo que no Complexo de Cachoeiras recebe em média 144 pessoas por dia. Possui vários atrativos, como o Véu de Noiva, Rio Claro (Crista do Galo), São Gerônimo, Cidade de Pedra, Paredão do Eco. Nestes 2 últimos casos, as áreas estão fechadas por falta de um estudo geológico que identifique os problemas de erosão, queda de blocos e escorregamentos das rochas areníticas que possuem 50 milhões de anos.
"É uma área fantástica que os turistas solicitam muito porque tem uma beleza indescritível, uma das mais importantes escarpas do Brasil. Precisamos saber como fazer a visitação sem colocar em risco a vida dos visitantes", diz o empresário Jurandir Spinelli. As cachoeiras passaram por um processo sério de depredação nos últimos 10 anos, mas com os constantes fechamentos e mudanças de trajeto das trilhas, as erosões foram diminuindo. Na Cachoeira do Degrau são é permitido a presença de 12 pessoas, na do Pulo, 36 pessoas, das Andorinhas, 36 pessoas. Já na Casa de Pedra somente 12 pessoas por vez podem visitar o local.
Próximo à sede do parque, o estudante de Direito Carlos Romero olhava a paisagem e contava os velhos tempos em que juntava os amigos para um banho de cachoeira na Chapada. "Hoje tem que pagar um guia para tomar banho?
Acho isso demais. É por isso que os parque públicos não têm apoio da população. Ás vezes, não tem estrutura nem para entrar neles e outras tem que pagar um valor que não cabe no bolso de um estudante".
Passados quase 22 anos da criação do Parque Nacional de Chapada dos Guimarães, o processo de desapropriação e retirada de pessoas que até hoje ocupam a área é muito lento. A novidade é que finalmente o Instituto Brasileiro de Meio Ambiente (Ibama) ganhou em segunda instância na Justiça Federal contra o proprietário do restaurante Cachoeirinha, que está dentro do parque. "Não tem mais como recorrer. Agora vamos aguardar a saída do local", disse o diretor do parque, Cecílio Pinheiro. Os problemas são grandes. Conflitos intermináveis com ocupantes de áreas no parque, obras suspeitas como a que surge agora na divisa do parque (antigo posto Marechal Rondon), venda de bebidas alcoólicas na estrada, comida, churrasquinho, barragens feitas, restaurantes nas margens dos rios, em área de preservação permanente e despejando esgoto.
Por meio da assessoria de imprensa, a secretário de Turismo, Teté Bezerra, informou que no início do próximo ano vai se reunir com a direção do parque e os estudos serão feitos.