Para proteger o patrimônio público e as 15 mil pessoas que frequentam diariamente a Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), em Cuiabá, uma série de medidas são analisadas e vão desde a presença da Polícia Militar no campus, reestruturação das vias e guaritas, proibição da entrada de ônibus e até identificação de todos frequentadores. Estas propostas, discutidas ontem no "II Seminário Segurança na UFMT: Direito e Responsabilidade de Todos", serão analisadas pela reitoria e pelo Conselho Diretor da instituição e algumas já provocam polêmica.
Segundo o vice-reitor da UFMT, Francisco Souto, o número de pessoas circulando e o patrimônio da universidade, com a aquisição de equipamentos modernos e construção de novos prédios, cresceu nos últimos anos e, com eles, aumentaram também as ações criminosas.
A estrutura física da universidade é vista como um dos fatores que facilitam a criminalidade. Depois de estudar como é a segurança em outras universidades federais do país, a comissão elaborou um projeto. Uma das maiores mudanças consiste em extinguir a entrada de carros pelo bairro Boa Esperança e construir outra próximo ao bairro Jardim Itália, na avenida Arquimedes Pereira Lima.
A proposta inclui ainda sinalização ostensiva, faixas de pedestre elevadas e instalação de guaritas nas entradas exclusivas para pedestres, inclusive a de acesso às pistas de caminhada. Para isso, o alambrado será estendido até o córrego do Barbado, na avenida Fernando Corrêa da Costa.
A intenção também é restringir o acesso do transporte coletivo apenas aos pontos de ônibus situados ao redor da UFMT e investir em um micro-ônibus de circulação interna, semelhante ao "ligeirinho", que circula do Centro Político Administrativo.
Mas entre as mudanças, a mais polêmica é a identificação obrigatória de todos que entram no campus. Segundo o professor, engenheiro e componente da comissão Eldemir de Oliveira, a entrada será permitida a todos, sem qualquer restrição, mas pedestres e condutores deverão ser registrados e entrar com um cartão magnético. "Isso proporcionará mais segurança e agilidade na identificação de quem cometer um crime dentro da UFMT".
Segundo Oliveira, apesar de parecer uma obra faraônica, esse projeto é totalmente executável e poderá ser aplicado por meio de um remanejamento orçamentário entre a universidade e o governo do Estado, o qual pagará as obras. Além disso, o Ministério da Educação possui um programa para investimento em segurança nas universidades públicas.
Mesmo sujeitas a alterações e sem data para execução, as propostas causam estranhamento. A estudante de educação física Layara Alves, 20, já foi assaltada 2 vezes dentro da universidade, mas discorda com alguns pontos do projeto de reforma estrutural. Ela acredita que a identificação vai fazer com que muitas pessoas que caminham pelo parque da UFMT, visitam o zoológico ou simplesmente passeiam aos finais de semana deixem de frequentar o campus. Para ela, a proibição da entrada de ônibus também não é conveniente, mesmo que haja um transporte interno.
Proteção – Enquanto os projetos não são aplicados, a pró-reitora administrativa da instituição, Valéria Calmon Cerisara, afirma que a direção da universidade vem reforçando os cuidados e orientando os usuários sobre a guarda das chaves e outros controles dos espaços da instituição. A diretriz é estendida aos que trabalham fora do horário normal, como nas pesquisas que necessitam de acompanhamento ininterrupto. Cartilhas sobre segurança pessoal e patrimonial também estão sendo distribuídas à comunidade universitária. O material é bem didático, dá dicas de como se proteger e zelar pelo patrimônio público.
Segundo Valéria, a UFMT depende da colaboração dos alunos, usuários e comunidade, por isso a importância de acionar a empresa de segurança sempre que alguém suspeitar de algo errado.
Crimes – Os dados da Polícia Federal reforçam o clima de preocupação. O total de perícias de roubos e furtos em prédios federais aumentou 4 vezes entre 2004 e 2008 (de 14 para 61). A maioria dos laudos tem a ver com crime contra o patrimônio em instituições públicas. Uma mostra dos estragos está na frequência de arrombamentos e furtos recentes no setor administrativo e laboratórios da Universidade Federal de Mato Grosso. Somente este ano, 2 locais tiveram equipamentos eletrônicos furtados. No ano de 2009, foi registrado uma média de 8 delitos por mês.
O prejuízo financeiro com os materiais levados dos laboratórios chega a R$ 18,5 mil, mas os furtos requerem medidas administrativas a mais para professores resolverem os problemas, quando poderiam dedicar o tempo à pesquisa e ensino.
No fim de semana anterior ao carnaval, uma sala do Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental foi arrombada e levaram do local quatro projetores multimeios e uma câmera digital, avaliados em R$ 16,5 mil, segundo o chefe da unidade, professor Alexandre Silveira. "É uma perda grande mas, infelizmente, é comum".
A câmera foi adquirida com recursos de programas de pesquisa e nem havia sido incluída no patrimônio da UFMT, fato apenas realizado após o término das pesquisas. O Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) doa o patrimônio após a comprovação de contas.
Os ladrões entraram pelo espaço aberto da caixa do ar condicionado. Para fazer frente à criminalidade, o professor defende "mais investimento em tecnologia". Ele sugere um tipo de alarme, um sensor de segurança para combater os furtos. "O patrimônio fica sob responsabilidade do professor pesquisador. A gente fica com o ônus, a responsabilidade de prestar contas".
Laboratórios – No início do ano, o alvo dos arrombamentos e furtos na universidade foi o Laboratório de Resíduos de Biocidas, do Departamento de Química, de onde foi retirado um computador, estabilizador e monitor, no valor de R$ 2,5 mil. Os ladrões entortaram a grade de proteção de uma das janelas da sala de professores pesquisadores para terem acesso ao laboratório. A Polícia Federal trabalha com a hipótese de que um adulto auxiliou uma criança a entrar pela abertura da janela, devido o espaço ser pequeno.
A professora e coordenadora do Mestrado em Recursos Hídricos, Eliana Gaspar de Carvalho Dores, também diz que o equipamento, por ter sido financiado por projeto de pesquisa, não havia sido listado no patrimônio da universidade. "Por sorte não foi perdida informação de pesquisas, porque fizemos back-up".
Nos dados estão de dois a três anos de pesquisa de quatro grupos que envolvem 20 pesquisadores.
Eliana desconfia que quem roubou o produto eletrônico tinha informação privilegiada e sabia o que queria. "Para se ter noção da informação que a pessoa tem antes de entrar, em frente à sala onde furtaram tem três computadores e não levaram".
Do Laboratório de Informática foram furtados 3 computadores em setembro de 2009, que atendiam alunos da graduação. Ela diz que no ano passado o Laboratório de Metais Pesados também foi arrombado.