Medicamentos de até R$ 700 para controle de doenças de alta complexidade, como epilepsia e esquizofrenia, estão em falta na farmácia estadual de alto custo e deixam pacientes desprotegidos. O relato de pessoas de Cuiabá e interior do Estado, que fazem o trajeto em busca de medicamentos, é que o problema tem sido frequente e o atendimento dos servidores públicos é péssimo. Vinte e três mil pessoas dependem do fornecimento da farmácia estadual.
O vendedor Márcio Cézar Rodrigues de Sá, 35, toma há 2 anos o Ziprexa para minimizar os efeitos da esquizofrenia, mas reclama dos serviços. "Constantemente está faltando. Hoje (ontem) faltou uma caixa do remédio de 5 miligramas. São 2 comprimidos que devo tomar por dia".
Márcio diz que na farmácia comum, o valor do medicamento fica em torno de R$ 700. "Não vou comprar porque não tenho condições e por enquanto ainda não estou sentindo os efeitos, mas o médico diz que tenho que tomar certo".
Quando não há disponível a caixa do remédio procurado pelos pacientes, o vendedor relata que a orientação é para cortar o comprimido ao meio. O irmão de Poliana Cebalho de Arruda, 21, está há 15 dias sem medicação para controle da epilepsia. "Ele está lá em casa tendo crises fortes, convulsão e não tem o que fazer, senão vir aqui e tentar. Ele precisa de remédio".
Erasmo Rodrigo Cebalho de Arruda, 15, teria que tomar 3 comprimidos por dia, seguindo o tratamento que começou há 7 anos, desde a descoberta da doença. "No ano passado o médico aumento em 1 comprimido por dia, mas no momento não tem nenhum tipo de dosagem. Eu venho todos os dias ver se tem, mas não dão previsão e só ficam nos enrolando. Teve uma tarde aqui que o pessoal saiu zangado pela espera e a falta de remédios".
A irmã de Erasmo relata que outros medicamentos, como Diazepan e Gardenal, também são ministrados ao paciente, porém é o Lamotrigina o principal para controle da epilepsia. Poliana contabiliza que 3 caixas por mês do medicamento custam R$ 1,2 mil e é impossível encaixar o valor no orçamento da família.
O medicamento Atorvastatina não tem em nenhuma dose e a funcionária pública, Delsi Terezinha, 52, e os 2 filhos que dependem dele para controle do colesterol estão desamparados. "Faz 2 meses que falta, cada 1 tem que tomar 2 comprimidos por dia de 20 miligramas cada. Na farmácia comum cada caixa custa R$ 200 e gastaríamos R$ 1,2 mil por mês, sem condições".
Sandra Maria Dias, 29, diz ter tido sorte ao ir na farmácia ontem. Ela disse que desde novembro não conseguia o remédio Ziprasidona para a irmã aposentada, que sofre de esquizofrenia. "Eles falam para ligar, mas desligam e temos que sempre vir aqui. Não temos como pagar R$ 500 pela caixa."