sexta-feira, 20/setembro/2024
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Mato Grosso perde R$ 1,6 bilhão por ano em mortes violentas de jovens

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A economia de Mato Grosso perde por ano R$ 1,6 bilhão em decorrência de morte de jovens vítimas de violência e, ainda, ocupa o nono lugar entre os estados brasileiros. Os dados fazem parte do estudo Custo da Juventude Perdida no Brasil, realizado pelo Instituto Nacional de Pesquisa Aplicada (Ipea). O montante representa 2,4% do Produto Interno Bruto (PIB) estadual. Porém, a perda social é apontada como irreparável por especialistas.

O estudo considera a idade da vítima, a classe social, a expectativa de vida, força de trabalho e a capacidade de consumo. Porém, não contabiliza gastos com saúde, entre outros mecanismos acionados em casos destes tipos de mortes. O levantamento considera dados de mortes registradas em 2010, porém os valores são referentes ao ano de 2013. “A modelagem considera explicitamente o ciclo de vida e a probabilidade de sobrevivência dos indivíduos, bem como a renda e o consumo ótimo”.

Os cálculos realizados pelos pesquisadores mostram ainda que em Mato Grosso as violências podem reduzir a expectativa de vida ao nascer em 1 ano e meio para os homens e 2 meses para as mulheres. “A mortalidade violenta de jovens no Brasil é um problema que veio se agravando nas últimas décadas, sobretudo no que diz respeito à letalidade ocasionada por homicídios e por acidentes de transporte”, destaca trecho do estudo.

Em relação aos homicídios, a piora é identificada tanto no aumento de casos a cada ano, quanto na idade das vítimas que morrem cada vez mais jovens, nas últimas três décadas. “Enquanto a taxa de homicídios por 100 mil habitantes cresceu 154% entre 1980 e 2010, quando passou de 27,7 para 70,6, a idade em que se alcançou essa taxa máxima de homicídio variou de 25 para 21 anos”.

Em Mato Grosso, a taxa de morte violentas por 100 mil habitantes é de 117,9. Os homicídios representam 55, os acidentes de trânsito 45,6, os suicídios 5,3 e o restante não teve os dados devidamente divulgados pelos órgãos responsáveis. Os estudiosos destacam que há falta de informações em relação a alguns casos. Se por um lado é possível estimar a perda econômica provocada pela perda de jovens, para o economista e professor da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), Antônio Humberto de Oliveira, a morte de um jovem tem um custo social irreparável.

Além da imagem negativa ao Poder Público, o sofrimento familiar de quem perde não pode ser mensurado e nunca será reparado. “Não há como contabilizar o valor de uma vida. O custo econômico pode ser reposto, a mão de obra é facilmente substituída, mas a dor da perda de um ente não tem como superar”.

O professor destaca que até os 30 anos, a mão de obra ainda está em fase de qualificação e a remuneração não é a contento. O cenário muda a partir dos 35 anos, quando o indivíduo passa a ser considerado de fato economicamente ativo. Além disso, destaca a oferta de mão de obra é grande, enquanto as vagas para preenchimento não seguem o mesmo ritmo, o que facilita a substituição. “A vaga de trabalho é preenchida rapidamente por outra pessoa menos ou mais qualificada, mas o impacto social dificilmente é resolvido”.

Com ponto de vista semelhante ao de Oliveira, a pesquisadora Vera Bertolini, do Núcleo Interinstitucional de Estudos da Violência e Cidadania da UFMT, destaca ainda as perdas da própria vítima, que deixa de experimentar o que a vida tinha para oferecer a si e aos que a cercam. “Por mais que a sociedade seja extremamente capitalista, a perda afetiva sempre supera a econômica”.

Perfil – o levantamento traça ainda o perfil das pessoas que perdem a vida precocemente. Os homens se destacam. Quanto a cor, os pardos são a maioria tanto nos casos que envolvem homicídio, quanto acidentes de trânsito. Porém, a maioria dos brancos é vítima de acidentes de transporte e suicídios.

A arma de fogo é o método mais usado para tentar contra a vida o outro. “A cada ano, uma maior proporção de jovens, cada vez mais jovens, é assassinada. São tipicamente pardos, com quatro a sete anos de estudo, mortos nas vias públicas, por armas de fogo, nos períodos onde há mais interação social”, descreve trecho da conclusão da pesquisa.

O resultado é fruto da análise dos microdados de cerca de 1,9 milhão de mortes violentas que ocorreram no Brasil, entre 1996 e 2010, que fazem parte do Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM), do Ministério da Saúde. Vera Bertoline destaca que o perfil das vítimas não surpreende e é totalmente esperado. Pontua que políticas públicas educacionais trariam impactos extremamente positivos na vida de quem pertence às camadas sociais mais baixas, especialmente no que se refere a esporte, lazer e cultura.

Setores carentes de projetos e ofertas a quem vive à margem da sociedade. Quanto à oferta de uma educação adequada, que privilegiasse a discussão sobre respeito às normas, ao próximo, à igualdade, favoreceria crianças e jovens de todas as classes sociais.

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