Quem acompanha a novela das nove "A Regra do Jogo" já pôde assistir a cenas de um relacionamento a três entre o funkeiro Merlô (Juliano Cazarré), Ninfa (Roberta Rodrigues) e Alisson (Letícia Lima), tudo de forma consensual. Apesar de ser incomum um homem namorar duas mulheres ao mesmo tempo, casos desse tipo acontecem sim na vida real.
Aproveitando a exposição que a trama da TV Globo vem dando para esses personagens, o iG Deles conversou com Klinger de Souza, um mato-grossense de 31 anos de idade integrante do "trisal", onde ele é heterossexual e tem um relacionamento com duas mulheres bissexuais, para contar e explicar melhor essa experiência chamada de "poliamor".
Klinger é supervisor de operação de logística e há nove anos tem um relacionamento com a auxiliar administrativa Paula Gracielly, também de 31. A vida do casal virou um "trisal" há cerca de três anos quando ambos conheceram a vendedora Angélica Tedesco, de 24 anos de idade. Hoje eles moram juntos na cidade de Jundiaí, em São Paulo.
"Na verdade foi a Paula que fez isso acontecer. Quando a gente tinha três meses de relacionamento, em uma conversa sobre cumplicidade, ela me disse sobre essa vontade que tinha de ficar com outras mulheres", disse Klinger. "Eu disse que ela poderia se descobrir, sem problemas. Se nossa vida sexual e afetiva não mudou em nada, não via problema algum em ela ter relações com mulheres para se descobrir".
Angélica não é a primeira que engatou um relacionamento sério com Paula e Klinger, mas sim a quarta. Antes dela, o casal já havia se relacionado de forma duradoura com outras três moças, mas só agora que todos resolveram morar juntos.
Como a poligamia é proibida no Brasil – união conjugal de uma pessoa com várias outras -, os três planejam efetivar a relação de outra maneira. "Não somos casados, visto que isso não é permitido no País, mas estamos pensando em fazer, em breve, uma declaração de união poliafetiva, que no Brasil já existe", falou Klinger.
Klinger admitiu que sempre sai com Paula e Angélica em locais públicos como se fossem um casal convencional, os três andando de mãos dadas, trocando poucos beijos, sem beijos cinematográficos ou pegação mais forte. Mas isso não para evitar problemas, até porque mesmo quando era somente dois, não agiam assim. Portanto, não veem motivos para fazer isso hoje e causar uma afronta desnecessária. Segundo ele, as pessoas na rua nunca se manifestaram contra.
"Visivelmente na rua não vemos preconceito", disse. "Mas pode ser que evitem de nos chamar para eventos, ou churrasco, por causa da nossa condição", completou Klinger, que já sofreu com ofensas pela internet. "Existe sim um preconceito em rede social. As pessoas não nos conhecem e nem sabem como é a nossa relação, mas mandam palavras fortes, xingando as duas, me xingando. Infelizmente isso ainda acontece. O que é diferente do padrão, as pessoas rejeitam", avaliou.
E na hora do sexo? Klinger disse que participa de 95% das relações sexuais do trisal e que nunca transa com apenas uma das suas companheiras, sempre com as duas ao mesmo tempo. "Nunca faço com uma só, por escolha minha", contou. E quando ele não está em casa, Paula e Angélica se relacionam entre si, sozinhas.
"Quando estou viajando a trabalho, aí elas namoram entre elas. Não vejo problema nenhum. Como elas são bissexuais, elas também se relacionam sem mim. Os três se ajudam na relação, então é fácil dar conta", disse Klinger.
Quem buscou uma outra mulher na relação foi Paula, como Klinger já contou. Para ele, se a parceira tivesse ido atrás de um outro homem, ele aceitaria numa boa. "Acho que nunca chegaríamos nessa configuração. Ela é bissexual e já tinha um homem, que era eu, faltava uma mulher. Mas se fosse eu, ela e outro cara, sem problema. Só não teria relação com ele, porque sou heterossexual", garantiu.
Os três pretendem ter filhos. O primeiro deve vir com Paula, que é a mais velha, já para o final de 2016. Com Angélica, que é mais nova, a ideia é esperar que ela chegue perto da casa dos 30 anos de idade.
Klinger disse que tudo entre eles é planejado e que não gosta quando as pessoas ou reportagens o colocam como o pilar da relação, já que quem idealizou viver dessa maneira foi Paula. Ele só aceitou a vida dessa forma.
"Me colocam como pilar da relação pelo simples fato de eu ser o homem, mas nem sempre somos os pilares, as mulheres têm seus desejos e independência para se realizarem e serem os pilares de suas relações. Aceitei e toquei a vida dessa forma", disse.
O relacionamento ganhou até uma página no Facebook, onde eles procuram conversar com as pessoas, passar dicas de como resolvem os problemas dentro do trio e desmistificar um pouco esse mito de que o poliamor é uma coisa errada.
"A nossa exposição é para que as pessoas entendam que esse tipo de relação existe e para que diminua o preconceito que existe em torno disso. Queremos ajudar as pessoas que vivem assim, as que têm curiosidade de viver assim ou que procuram auxílio", finalizou Klinger.