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Mais de 10% das ocorrências em Cuiabá tem meninas envolvidas

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O envolvimento de meninas e adolescentes com o tráfico, posse de drogas, ameaças, roubo e lesões corporais já faz parte da rotina policial na Capital. Somente este ano 49 adolescentes, entre 12 e 17 anos, foram autuadas por atos infracionais entre 1º de janeiro e 10 de junho e encaminhadas para a Delegacia Especializada do Adolescente (DEA), da Capital. Oito delas estão internadas cumprindo medida sócioeducativa e uma aguarda sentença. As jovens já representam pouco mais de 10% do total de adolescentes em conflito com a lei apreendidos no período. Os rapazes somaram 404 apreensões que resultaram em 166 internações na unidade do Complexo Pomeri.

Se eles entram no mundo do crime por ambição ou demonstração de poder, no caso delas o mais comum é que se envolvam justamente para acobertar ou ajudar os companheiros. Tanto que o envolvimento com o tráfico de drogas ainda é a principal motivação.

A juíza Célia Regina Vidotti, diretora do Juizado da Infância e Adolescência de Cuiabá, informa que das 8 que cumprem medidas, 5 são por tráfico. As demais por roubo, furto, tentativa de roubo e tentativa de homicídio.

Relata a recente apreensão de uma jovem, de 17 anos, no final da gestação, que tentou esconder a droga vendida pelo companheiro, também adolescente, dentro da bolsa. Em decorrência da gravidez adiantada e pelo fato de ela não ter antecedentes, a juíza optou por liberá-la provisoriamente até o nascimento da criança para a apresentação em 30 dias. O companheiro ficou recolhido na unidade.

As jovens escondem as drogas nas roupas durante as abordagens policiais ou atuam como "mulas", principalmente no transporte de maconha vindo do Paraguai. Mas o incentivo ou o convite geralmente é feito por namorados que as introduzem no mundo do crime.

No caso de brigas e conflitos entre outras jovens, que resultam em tentativas de homicídio, a motivação também é passional. O bullying nas escolas hoje tem as meninas como as mais denunciadas, informa o delegado Paulo Araújo, titular da DEA.

Em um levantamento recente desenvolvido pela delegacia, mostra que as garotas já se organizaram em gangues em algumas regiões, como no Jardim Colorado, Lixeira, Areão, e Pedra 90, na Capital, e as "Atentadas" da região do Mapim, em Várzea Grande. Neste caso, a principal proposta dos grupos ainda é intimidar e ameaçar as "rivais" do próprio bairro ou de outras regiões. Mas tudo isso para atrair a atenção dos rapazes, possivelmente namorados que já fazem parte de outras gangues.

Para o delegado, o crescimento da violência entre as meninas e jovens está diretamente relacionado ao uso de entorpecentes. Araújo vê nestes casos a falta de uma relação mais estreita e de cuidados dos pais com os filhos um dos fatores que contribui para o envolvimento destas jovens no crime.

Na visão da assistente social Raquel Mendes de Oliveira, que há 5 meses atua na DEA, cobrar exclusivamente da família a responsabilidade pelo envolvimento dos jovens não é justo. Destaca que a realidade socioeconômica em que vivem normalmente é cruel. São pais explorados pelo trabalho e mal remunerados que chegam exauridos em casa, sem condições de dar atenção aos filhos. Do outro lado o jovem se depara com escolas sucateadas, professores desmotivados e a ausência do Estado para oferecer esporte, lazer, formação profissional para eles.

Para Raquel, a situação de violência entre os adolescentes deve crescer ainda mais e é fruto exclusivo da falta de políticas públicas. Ausência de saúde, habitação, emprego, assistência social que empurra cada vez mais a juventude desmotivada para a criminalidade.

A juíza também aponta as políticas públicas equivocadas e "politicagem" como fatores que contribuem para o caos. Na opinião dela, o projeto "Bolsa Escola", é um deles. Destaca que se o recurso investido fosse aplicado na implantação de escolas de qualidade, em tempo integral, os resultados alcançados seriam muito melhores, com reflexo a longo prazo. Mas lembra o desinteresse dos políticos que se focam em resultados imediatos e eleitoreiros.

Pomeri – A juíza, que no dia 1º de abril assumiu a vara, lamenta a falta de investimento do Estado no sistema sócioeducativo. Destaca que a estrutura construída há 10 anos está sucateada e depreciada, necessitando de reformas urgentes na parte física. Cita o caso da piscina da unidade, que segundo ela hoje funciona mais como um transmissor de doenças do que opção de lazer para os jovens. Resume a instalação como um "depósito" de gente, onde não existem projetos para ressocialização dos adolescentes. Na forma em que vem funcionando é apenas uma passagem temporária dos jovens para unidades prisionais adultas.

Faltam pessoas capacitadas para atuar e garante que, depois de uma reforma completa, seria necessária a criação de parceiras com todas as esferas da administração, principalmente do município de Cuiabá, para oferecer aos jovens cursos e formação como nova opção de vida. Célia Vidotti lembra que o investimento do Estado hoje no sócioeducativo é irrisório. Começa pela ausência de tratamento de desintoxicação para os dependentes químicos. "Em todo Mato Grosso não existe nenhuma clínica para os jovens, independente de estarem ou não em conflito com a lei".

Espera – Para quem está do lado de fora, esperando a saída do filho ou companheiro do Pomeri, fica a angústia. É o caso da diarista V.S., 42, que há mais de 30 dias teve a filha de 13 anos apreendida, acusada de tentativa de homicídio. Ela alega que a menina foi ameaçada por outras 3 jovens do bairro e que só teria tentado se defender. A família havia mudado recentemente para o bairro Alvorada, onde outras jovens passaram a provocá-la.

A motivação, a mãe confirma, foi mesmo por causa de um "namoradinho". Ela alega que no dia seguinte à prisão da filha por tentativa de homicídio contra outra adolescente de 15 anos, o grupo rival já estava reunido na praça, rindo e debochando da menina. A mãe e a outra filha menor agora estão sendo ameaçadas no bairro pela família da jovem agredida. A adolescente ainda aguarda a sentença.

Já o caso das irmãs F.T., 18, grávida de 6 meses, e F.C., 19, que já tem uma filha de 2 anos, é a espera pelos companheiros. Os namorados foram presos na mesma semana, no fim do mês passado, acusados da participação em roubos, pela Polícia Militar. Um deles, que nunca teve passagem, foi preso quando atendeu o chamado de uma pessoa na rua. Este jovem foi reconhecido pelo roubo de uma joalheria e quando a PM chegou, acabou levando o namorado dela de 17 anos junto com o ladrão. Já o namorado de F.T. tinha antecedentes por roubo e cumpriu medida sócioeducativa anteriormente. Mas ela alegou que ele não havia mais se envolvido com novos crimes, apesar das acusações da Polícia. As duas, desempregadas e que foram abandonadas pela mãe, estavam provisoriamente em uma quitinete, morando com uma tia. Nenhuma delas conseguia ver perspectivas de uma melhoria da vida, mesmo sendo muito jovens.

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