O cacique Kayapó e responsável pelas relações públicas do Instituto KABU – Mẽkrãgnõtire, Doto Takak-ire negou, em entrevista, ao Só Notícias, que existe envolvimento de Organizações não Governamentais (Ongs) na interdição da BR-163 no quilômetro 332, na região de Novo Progresso (597 quilômetros de Sinop), que começou, ontem, por volta das 6h40 e não houve liberação durante todo o dia. Apenas ambulâncias com pacientes estão passando.
A decisão contraria a ordem, emitida ontem à noite, pela juíza federal Sandra Maria Correia da Silva, que acatou pedido da União que determinou o desbloqueio da BR-163. O governo federal afirmou que a mobilização ocasionou e ocasionará “diversos transtornos aos usuários da rodovia, moradores das localidades limítrofes e à economia regional em razão da intensa circulação viária”. Ressaltou ainda que “os potenciais prejuízos causados aos usuários são incomensuráveis, dentre os quais se encontrarão os que estão em trânsito local, interestadual, internacional e os que transportam cargas perigosas e perecíveis, havendo inclusive grande risco de ocorrerem acidentes de trânsito devido à dinâmica do tráfego em rodovias”. Milhares de carretas carregadas com grãos e outros produtos seguem do Norte de Mato Grosso até Miritituba, Santarém, além de ônibus e veículos que trafegam na via diariamente.
“Até agora, ninguém nos procurou para dar uma resposta. Ao menos 90 índios estão no local. Nós temos o Instituto KABU – Mẽkrãgnõtire, que é administrado por indígenas. Não tem envolvimento de branco no nosso manifesto. A PRF está fazendo o controle e nos ajudando manter a segurança. Quando um Kayapó toma uma decisão, não quer saber se vai morrer ou não. Nós estamos enfrentando à pandemia para reivindicar nosso direito. Nós estávamos no isolamento. Corremos os riscos de pegar (Covid-19), mas vamos manter a luta”, afirmou Takak-ire.
De acordo com Polícia Rodoviária Federal, local já existe uma fila de ao menos cinco quilômetros de carros, carretas e caminhões parados na pista. A liberação parcial está prevista para ocorrer hoje após às 18h. Depois voltará ser trancada de madrugada.
O protesto é contra o projeto da ferrovia Sinop-Miritituba, que deve receber R$ 8,4 bilhões em investimentos privados. Os indígenas colocaram pneus e madeira para impedirem a passagem dos veículos. Também fixaram uma faixa afirmando que o protesto é “Em defesa da Amazônia. Sem ouvir indígenas, não terá concessão e Ferrogrão”. “A Ferrogrão quando o governo começou fazer o estudo não nos consultou. Só tivemos uma promessa e não fizeram consulta prévia livre. Além disso, todas às vezes que pedimos voos levam de dois a três dias para tirarem (da aldeia) os pacientes. Também não temos profissionais suficientes para tender os índios”, apontou Takak-ire, anteriormente.
O indígenas exigem a presença de representantes da Fundação Nacional do Índio (FUNAI), Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), Ministério da Infraestrutura e do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) para resolução dos problemas para liberação da rodovia.