O médico legista Malthus Galvão Fonseca, chefe da seção de Antropologia Forense da Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF), disse nesta sexta-feira que “não é um trabalho fácil” o de busca e resgate das vítimas do acidente com o Boeing 737-800 da Gol. “A distância entre um corpo e outro equivale a três, quatro horas de caminhada das equipes na selva”, destacou.
Durante dez dias ele trabalhou na pré-identificação dos corpos, feita na fazenda Jarinã, base da operação de resgate localizada a aproximadamente 40 quilômetros do local onde caiu o avião, no norte de Mato Grosso. “Nos primeiros dias foi preciso improvisar um lugar para dormir. A primeira necropsia teve que ser feita com a iluminação de um farol de carro, ao ar livre. Depois foi montada uma barraca, que nos protegia do sol durante o dia”, relatou.
Segundo o legista, foram feitas mais de 5.500 fotografias para auxiliar na identificação definitiva dos corpos, que é realizada nos institutos de Identificação (II) e de Medicina Legal (IML) do Distrito Federal.
Fonseca também esteve nos locais onde foram encontrados os primeiros corpos, antes que eles fossem removidos. “Com a queda do avião, alguns corpos afundaram quase 20 centímetros na terra e foram encobertos por folhas de árvores. Isso criou muitas dificuldades para o pessoal que realiza as buscas. As equipes ainda precisam conviver com formigas e abelhas que não dão trégua durante os trabalhos”, relatou.
O médico sobrevoou o local do acidente e disse que viu fragmentos do Boeing, roupas, malas e corpos sobre copas de árvores “muito distantes umas das outras”. De acordo com a Força Aérea Brasileira (FAB), a área de buscas abrange 20 quilômetros quadrados.
“As equipes atuam com muito cuidado, com respeito, inclusive por objetos. Desde o início dos trabalhos percebemos que seria importante para um familiar conseguir de volta um brinco, uma aliança”, completou Fonseca.