O piloto norte-americano Joseph Lepore, começou a prestar depoimento, por videoconferência, em Nova York, às 12h30 desta quinta-feira (31). Ele responde a perguntas feitas pelo juiz federal Murilo Mendes – que está em Brasília -, e é responsável pelo processo que apura o acidente envolvendo o jato Legacy e o Boeing da Gol, em setembro de 2006, e que vitimou 154 pessoas. Assim como ocorreu com Jan Paul Paladino, esta também é a primeira vez que o piloto fala com representantes da Justiça brasileira.
Nesta quarta-feira (30), Paladino, que também estava em Nova York, prestou depoimento à Justiça brasileira durante sete horas, por meio de videoconferência. Ele chegou a negar que tivesse ocorrido falhas técnicas durante o acidente com o Boeing. Durante o depoimento, o piloto entrou em contradição ao negar que tivesse dito que o transponder estava desligado no momento do acidente aéreo. A voz dele aparece na gravação da cabine de pilotagem, que está presente na caixa-preta do jato Legacy. Ele negou que tivesse ligado o equipamento apenas após o acidente e que já tivesse pilotado um jato Legacy.
Ferramenta inédita
O depoimento dos pilotos do Legacy está sendo feito na sede do Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Jurídica Internacional, do Ministério da Justiça. O departamento foi o órgão do governo brasileiro responsável por fazer a negociação entre a Justiça brasileira e a Justiça norte-americana para que a videoconferência fosse realizada. É a primeira vez que o governo brasileiro realiza uma cooperação jurídica internacional tendo como finalidade a tomada de um depoimento por videoconferência.
Processo
Paladino e Joseph Lepore eram pilotos do jato Legacy, que colidiu com o avião da Gol. Eles são acusados pelo crime de atentado à segurança do tráfego aéreo brasileiro, que tem pena prevista de 1 a 5 anos de prisão. Lepore deve ser ouvido, também por videoconferência, nesta quinta-feira.
O crime prescreve em junho deste ano, mas o juiz Murilo Mendes disse, nesta terça-feira (29), que pretende sentenciar o caso ainda em abril.
“Os familiares estão muito emocionados com o dia de hoje. É uma sensação de reta final depois de tanto tempo sem Justiça. Não tem mais o que recorrer, não tem mais testemunhas para serem ouvidas, não tem mais laudos a serem feitos, o que o Cenipa tinha de fazer já fez, enfim, esse é o ponto final dessa história”, disse Angelita Rosicler de Marchi, presidente da Associação de Familiares e Amigos das Vítimas do voo 1907.
“A sensação de impunidade vai acabar. Todos os erros cometidos por ele tornaram o acidente possível. Fatalidade é um raio atingir um avião, o que não é o caso”, disse Angelita.
Andamento do processo
Em janeiro, a Justiça Federal em Brasília ouviu depoimentos de três testemunhas, entre elas o brigadeiro Jorge Kersul Filho, chefe do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) na época do acidente.