Cerca de 50 índios da reserva Umutina, em Barra do Bugres (168 km distante de Cuiabá), invadiram a sede da Fundação Nacional do Índio (Funai), ontem, em busca de explicações quanto à operação “Uauiara”, da Polícia Federal, ocorrida na sexta-feira (27). Pintados para a guerra, eles apontam truculência da PF na ação que prendeu 7 atravessadores, acusados de comprar ilegalmente peixes a preço muito abaixo do praticado em mercado, entre R$ 1 e R$ 3 o quilo e vender a comerciantes por R$ 17.
Os índios estão revoltados porque durante a tentativa de cumprimento de mandados de busca e apreensão na reserva, cerca de 10 deles ficaram feridos, entre eles o cacique Kwá Umutina. Justificam que estavam fora da aldeia, na estrada de terra que dá acesso à reserva, em mutirão de limpeza, e foram surpreendidos pelos policiais pela terra e ar. “Nem as mulheres, gestantes e crianças foram poupadas. Eles só não morreram porque a gente não estava armado, só com foices. É pra isso que somos treinados e eles atingiram nosso cacique”, critica Luiz Ariabo Quezo, 34. Os umutinas conseguiram marcar uma reunião para hoje com o Ministério Público Federal e a Funai.
Os 15 mandados de busca não foram cumpridos porque os índios formaram uma barreira humana na aldeia. A Força Nacional usou balas não letais, mas a munição acabou e foi obrigada a recuar. Investigação policial apontou que há 14 anos a média de pescado ilegal apreendida durante a Piracema na região varia entre 80 e 100 toneladas. Questionados por A Gazeta sobre a prática, os índios dizem que não possuem outra forma de subsistência, mas que estariam dispostos a participar do cadastramento de pescadores, para ter direito ao seguro-desemprego pago na época. Outra saída seria a criação de programas de cultivo alternativo.