Um incêndio já consumiu uma área de aproximadamente 650 km2 da Terra Indígena Utiariti, em Campo Novo do Parecis, mas até ontem nenhuma equipe de combate ao fogo em Mato Grosso havia estado no local. A área atingida tem tamanho equivalente ao Distrito Federal e é formada por uma vegetação de cerrado fechada, sem estradas ou aldeias próximas.
Segundo o coordenador do monitoramento de queimadas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Alberto Setzer, os primeiros focos de queimada surgiram no dia 18 de julho e ontem ainda podiam ser vistos pelas imagens de satélites, embora tenham perdido a força. O ápice do incêndio, segundo ele, ocorreu entre os dias 28 de julho e 2 de agosto. "Foi o maior incêndio registrado este ano em Mato Grosso".
Conforme Setzer, o Inpe não tem atribuição de controlar, fiscalizar ou punir quem pratica as queimadas, mas as informações coletadas pelos satélites são enviadas imediatamente aos órgãos responsáveis. "Todo mundo que tinha que saber já estava sabendo". O incêndio teria sido provocado pelos próprios índios, na beira do rio, durante uma pescaria, mas se alastrou para o cerrado.
Ranking – O incêndio na terra indígena já colocou o município de Campo Novo no topo do ranking dos municípios que mais queimam no Estado durante o período de proibição de queimadas. Desde o dia 15 de julho até ontem, o município registrava 396 focos de calor, dos 2.661 focos detectados em todo o Estado. Em segundo lugar está Colniza (1.065 km a noroeste da Capital), com 191 focos.
Apesar de ficar distante cerca de 90 km da sede do município, o incêndio na terra indígena ainda não refletiu de forma negativa na rotina dos moradores, segundo afirmou ontem o vice-prefeito e secretário municipal de Saúde, Teodolino Guedes.
Ele conta que a região, essencialmente agrícola, sofre anualmente com as queimadas durante o período da seca, mas que até ontem não havia incidência de fumaça no ambiente. Os únicos registros são de queimadas urbanas, promovidas pelos moradores, que queimam lixo ou folhas secas.
Brigadas – O Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama), por intermédio do Prevfogo, vai enviar ao local brigadas indígenas de combate a incêndio que atuam no município de Brasnorte (579 km a noroeste da Capital). As brigadas, compostas por índios da etnias Irantxê e Miki, são treinadas e ajudaram a combater um incêndio semana passada na Terra Indígena Pareci, em Tangará da Serra.
O coordenador estadual do Prevfogo, Cendi Ribas Berni, destaca a dificuldade de acesso à área indígena e a falta de veículos como entraves para o combate ao fogo, mas garante que enviará equipes ao local. Embora o ápice do incêndio já tenha terminado, Berni lembra que o período de seca está começando e é importante monitorar a região.