A publicitária Tatiana Vianna mora com o marido, Mateus, também publicitário, há quatro anos. Eles têm menos de 34 anos de idade e dividem as despesas da casa. Ambos trabalham em período integral e não querem ter filhos.
“A prioridade nossa, hoje, é trabalhar, ter um mês de férias e viajar, conhecer as coisas e isso seria incompatível com [o fato de] ter uma criança. É por isso que hoje a gente não tem nenhuma vontade de ter filho”, explica ela.
Assim como Tatiana e Mateus, existem hoje no Brasil cerca de 2 milhões de casais em que tanto o homem quanto a mulher trabalham e não têm filhos, segundo dados da Síntese de Indicadores Sociais 2008, divulgada hoje (24) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Cruzamento de dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio 2007 (Pnad) mostrou que em 1997 os cerca de 39 milhões de casais com essas características representavam 2,4% dos domicílios nos quais homem e mulher tinham renda. Em dez anos, esse número passou para 3,4% dos 39 milhões de casais que moram juntos no país. Esses 39 milhões correspondem a 65% das formas de família.
A coordenadora geral da pesquisa, Ana Lúcia Sabóia, ressaltou que esse tipo de casal é cada vez mais comum nas sociedades industrializadas e em grande parte ainda na faixa etária mais nova, até 34 anos. “Não significa que não terão filhos no futuro, mas já é bastante sintomático que talvez
seja uma opção não ter filhos”.
Os rendimentos desse tipo de casal são de cerca de 3,5 salários mínimos per capita, o que os inclui na faixa dos 10% mais ricos da população.
Segundo Ana Sabóia, embora esse fenômeno prevaleça nas classes mais abastadas, já aparece nas classes com menores rendimentos, o que pode indicar que os padrões de organização da família brasileira estão mudando em face de novos valores culturais e da dinâmica socioeconômica cada vez mais exigente na criação dos filhos.