Uma filmagem feita por um suposto integrante do PCC (Primeiro Comando da Capital) foi exibida à 0h28 deste domingo pela Rede Globo, em atendimento a uma reivindicação dos seqüestradores que levaram o repórter Guilherme de Azevedo Portanova na manhã de sábado (12), de uma padaria na avenida Luis Carlos Berrini (zona sul de São Paulo). Ele continua desaparecido.
No vídeo, um criminoso faz críticas ao sistema penitenciário. Ele pede um mutirão para revisão de penas, melhores condições carcerárias, e se posiciona contra o RDD (Regime Diferencial Disciplinado).
O DVD com a gravação chegou à sede da emissora por volta das 22h30, pelas mãos do auxiliar técnico seqüestrado ao lado de Portanova. Ele foi libertado nas proximidades do prédio, na noite de sábado, e transmitiu à cúpula da TV a exigência de que as imagens fossem exibidas ainda na madrugada deste domingo, ou o repórter seria morto.
Reprodução de TV
Retratos falados de suspeitos de seqüestrar repórter e técnico da Globo, em São Paulo
O filme foi exibido à 0h28. O boletim foi apresentado pelo jornalista César Tralli e durou 3min e 36seg. Horas antes, no “Jornal Nacional”, a Globo exibiu os retratos falados dos suspeitos.
O diretor de jornalismo da TV Globo São Paulo, Luiz Cláudio Latgê, disse que a decisão de atender a reivindicação dos criminosos foi da emissora, sem participação do governo de São Paulo ou da polícia.
O auxiliar passa bem. Ele relatou que ficou ao lado do colega durante todo o tempo, encapuzado e com a cabeça abaixada, dentro de um carro parado. Por volta das 21h30, o repórter foi levado a outro carro e o auxiliar deixado próximo à sede da emissora, com o DVD.
Captura
O repórter e o auxiliar técnico haviam passado na padaria cerca de uma hora após chegar à emissora.
Eles deixavam o local rumo a uma caminhonete da Globo quando, segundo testemunhas ouvidas pela Folha, foram abordados por dois homens armados que também estavam no estabelecimento. Um dos homens os fez entrar em um Vectra escuro; o outro entrou em um Gol vermelho.
Dois motoristas de um hotel próximo ao local chegavam à padaria no momento da ação e foram rendidos. Antes de fugir, um dos criminosos entrou no carro da Globo e mexeu nos equipamentos de televisão que lá estavam, mas nada levou.
Os motoristas relataram que outro homem em uma moto também participou da ação. “Tudo foi muito rápido, no máximo um minuto e meio. Pareceu planejado”, disse um deles.
O Vectra foi encontrado por volta das 8h15 na avenida Portugal, no Brooklin (zona sul de São Paulo). Ele havia sido roubado no último dia 10. Segundo testemunhas ouvidas pela polícia, os criminosos tiraram os funcionários da Globo do veículo e, com eles, entraram no Gol vermelho. Em seguida, o homem que estava na moto ateou fogo no Vectra e fugiu.
Investigação
O delegado Dejair Rodrigues, do 96º DP, que investiga o caso, diz que de quatro a cinco pessoas devem estar envolvidas na ação. “Estou há 31 anos na polícia, e é primeira vez que vejo isso, seqüestrar um repórter desse jeito.” Rodrigues disse não descartar nenhuma hipótese.
Questionado se o PCC poderia estar por trás da ação, o delegado ficou em silêncio. Segundos depois, disse: “Não estou dizendo que é o PCC.” Outras autoridades disseram à Folha que a facção está envolvida. Ainda segundo o delegado, ainda não foi feito nenhum contato pelos seqüestradores. A Polícia Federal auxilia na investigação.
O repórter Portanova cobre principalmente assuntos ligados à segurança pública na Globo.
Em comunicados à imprensa, a Globo relatou o desaparecimento dos funcionários. Após ser informada do seqüestro, a emissora passou a escoltar com seguranças as suas equipes de reportagem.
A Folha falou por telefone com a mãe de Portanova, a advogada Maria Elisabeth Lacerda de Azevedo, que autorizou a divulgação do caso. ‘Vou me inteirar sobre tudo agora. Não tenho cabeça para falar nada, por enquanto’, disse ela, logo após desembarcar em São Paulo, vinda de Porto Alegre (RS).
A família do outro funcionário da Globo não foi localizada –por isso, a Folha não divulga seu nome.