quinta-feira, 12/dezembro/2024
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Folha S.Paulo diz que Operação Curupira paralisa economia de cidades do Nortão

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O maior jornal de circulação no Brasil abordou, na edição deste domingo, o desmatamento em Sinop e outras cidades da região que estão tendo prejuízos econômicos com a Operação Curupira. A Folha de São Paulo também citou Sorriso e entrevistou o governador Blairo Maggi sobre a questão ambiental. Veja as reportagens de Claudio Angelo, enviado especial a Mato Grosso, que entrevistou também o governador Blairo Maggi, que admitiu ter errado na nomeação de Moacir Pires para a presidência da Fema:

Ex-madeireiro se assusta com devastação
do enviado a Mato Grosso

O catarinense Ari Hoffman, 49, pertence a uma classe cada vez mais comum na região médio-norte de Mato Grosso: a dos ex-madeireiros. “Isso aqui está decadente”, diz, ao apontar para o barracão semidesmoronado de sua antiga serraria. “Não compensa mais recuperar um telhado desses.” O negócio agora é soja.
Hoffman vendeu metade de sua parte numa madeireira pequena de Sinop, um dos pólos madeireiros do Estado. Nos tempos gordos, ele serrava até 300 metros cúbicos por mês. Hoje, com a matéria-prima cada vez mais longe, aluga uma serra e o barracão por R$ 1.500. A empresa trabalha com metade da capacidade.
Hoffman tem orgulho mesmo da soja, do milho e do arroz que planta em duas propriedades, uma a 20 km e outra a 90 km de Sinop. Em uma frase, o produtor resume a equação econômica que o fez mudar de ramo e agora orienta a região. “A agricultura te dá números melhores.” Em outra, a lógica pessoal da decisão: “Depois que virei agricultor, parei de ser tachado de bandido”.
Ao levar a reportagem para conhecer sua fazenda, ele aponta para as madeireiras ao longo da BR-163. “Essa aqui bate o cadeado segunda-feira”, diz. Está fechando por causa da queda do dólar. Tem 400 funcionários. E um pouco mais adiante: “Aqui era uma madeireira. Passaram a frigorífico”.
“Muita gente no ano passado migrou para o setor agrícola porque se cansou de se incomodar com o setor florestal”, diz Jaldes Langer, presidente do Sindicato das Indústrias Madeireiras do Norte do Estado de Mato Grosso.
Uma das razões do incômodo, para Langer, é a lentidão na aprovação de um plano de manejo florestal. Outra é a pressão do agronegócio sobre as terras. Como o preço internacional do grão teve um boom e a maioria das terras é privada, os proprietários preferem desmatar e plantar.
“A floresta está na mão de grandes pecuaristas e grandes agricultores”, diz Langer, culpando o fato pela redução do fornecimento de madeira para as serrarias e processadoras da cidade.
A pressão ao agronegócio atingiu também empresas maiores. A Guavirá Industrial e Agroflorestal, a única madeireira de Mato Grosso certificada pelo FSC (Conselho de Manejo Florestal), vendeu 15 mil hectares de uma de suas florestas para a agricultura durante o auge dos preços da soja -e acabou abrindo mão do selo verde. O negócio, no entanto, foi desfeito recentemente.
Por fim, a exploração predatória ao longo de três décadas cobrou seu preço. As matas que restam na região já não têm mais madeira, como se verifica facilmente num sobrevôo do local, que revela várias estradas de madeireiros em virtualmente toda a floresta. “Essa tora vem de no mínimo 200 km daqui”, diz Hoffman, com a mão sobre uma itaúba de um metro de diâmetro.
Ele mesmo é um exemplo de como essa exploração aconteceu. Primeiro, esgotou a madeira em sua fazenda em Sinop, de 400 hectares. Depois, repetiu o padrão na área de 2.400 hectares no município de Santa Carmen. Então passou a comprar toras de longe.
A Folha levou Hoffman para um sobrevôo de duas horas sobre Sinop e os municípios vizinhos de Feliz Natal e Nova Ubiratã -este último, o que mais desmatou na Amazônia em 2005, segundo o Ministério do Meio Ambiente.
O vôo é uma aula compacta de crimes ambientais, que vão de desmatamentos em 100% das propriedades -quando o permitido por lei são 20%- até degradação de matas ciliares. Até a divisa do Parque Indígena do Xingu, as matas estão inteiramente perfuradas por estradas feitas pela predação madeireira.
Em Nova Ubiratã, grandes extensões de floresta estão sendo convertidas diretamente para a agricultura. “Fiquei assustado com o tanto que estão desmatando”, diz o ex-madeireiro.

Intervenção da PF paralisa economia de municípios
do enviado a Mato Grosso

No escritório do Ibama em Aripuanã, extremo noroeste de Mato Grosso, um funcionário joga paciência no computador enquanto aguarda. Eldinaldo Nunes de Souza, o Baiano, é um dos três únicos fiscais que sobraram no local após o afastamento do chefe do posto, Paulo Salazar, e mais cinco suspeitos de integrarem a máfia da madeira na região.
O que Baiano aguarda são reforços. O posto acaba de ganhar uma picape nova, mas não tem gente para ir a campo fazer fiscalização e atender o público. O efetivo é tão pequeno que eles nem conseguiram aderir à greve do Ibama, iniciada na segunda-feira. Paciência.
Apesar disso, Baiano está tranqüilo. A Operação Curupira, que resultou na suspensão de todas as concessões de ATPF (Autorizações para Transporte de Produtos Florestais), arrefeceu boa parte do movimento de madeira em Aripuanã e dos municípios vizinhos de Colniza, Juína, Castanheira, Rondolândia e Cotriguaçu, que vivem da atividade.
Segundo os madeireiros, 80% do setor está parado. Caminhões estão encostados. Contratos foram suspensos. Os hotéis da cidade, normalmente apinhados em junho, estão vazios.
Na avenida em frente ao escritório, passa uma picape americana Savannah, modelo novo. Dentro, a família de uma das lideranças dos índios cintas-largas, que enriquecem vendendo a madeira de lei de suas terras. Os índios estão irritados. Embora o dinheiro da madeira só chegue para alguns chefes -e a população passe fome-, as estradas que os madeireiros constroem e mantêm dentro da reserva são fundamentais para o transporte de gente e comida das aldeias para a cidade na época das chuvas. Sem elas, os cintas-largas “sem picape” ficam isolados. “Vai morrer um monte”, resigna-se um funcionário do hospital indígena local.
A madeira que traz a bonança também é a tragédia da região. Aripuanã foi o município da Amazônia que mais desmatou em 2003-2004, segundo o governo federal. A exploração predatória, somada à grilagem de terras para a venda de madeira, levou embora 1.041 km2 de florestas dali.
Os madeireiros culpam o governo. “Tive de queimar 10 mil hectares sem nem explorar toda a madeira porque a Fema diz que o desmate tem de ser feito num ano só”, queixa-se o catarinense Nervílio Polles, o Gringo.
Polles foi um dos cem madeireiros -ou “empresários do ramo florestal”, como preferem ser chamados- que se reuniram com mais cinco prefeitos na noite da última quarta-feira em Colniza, 120 km a norte de Aripuanã, para pedir ao interventor do Ibama, Elielson Ayres, que libere ATPFs para os madeireiros que “estão legais”. Sem elas, não podem transportar a madeira para vender.

Cidade grilada
O cenário da reunião é simbólico da ilegalidade que assombra o setor: Colniza, ponta mato-grossense do “arco da grilagem”, é um município nascido de uma invasão de terras. A área, pertencente a uma empresa colonizadora, foi ocupada no início da década de 1980 por posseiros expulsos das terras -também invadidas- dos índios zorós.
O município, emancipado há cinco anos, não tem escritura nem da sede. “Eu costumo brincar que Colniza não tem CPF”, diz o prefeito Sérgio Bastos dos Santos, o Serjão (PMDB), um madeireiro que mora -literalmente- no pátio de sua serraria.
Não há asfalto na cidade. E Santos estima que três quartos dos habitantes de Colniza (12 mil pelas contas do IBGE, 42 mil segundo ele) sejam posseiros indocumentados vindos de Rondônia.
Apesar de revoltados com a suspensão das ATPFs, os madeireiros do noroeste de Mato Grosso se dizem satisfeitos com a intervenção no Ibama. Explica-se: segundo eles, o esquema de propina no Ibama estava encarecendo a atividade na região e empurrando o setor para a ilegalidade.
“Tinha de molhar a mão do peão. Eram R$ 10 mil por vistoria”, diz Polles, que afirma ter sido chantageado pelos fiscais para pagar uma propina de R$ 50 mil de uma vez, mais uma multa de R$ 18 mil. “Ameacei denunciar ao Ministério Público, aí eles me deram uma multa de R$ 500 mil.”
Além disso, ATPFs só eram distribuídas para as empresas que faziam parte do esquema de Salazar e Hugo Werle. “Para mim, é uma; para quem está no esquema, são 500”, disse Paulo Roberto Perfeito, do Sindicato das Indústrias Madeireiras do Noroeste de Mato Grosso, que reúne 200 empresas.
A corrupção, segundo eles, era “escancarada”, generalizada e vinha de antes da gestão de Salazar. Cerca de 15 madeireiros que falaram à Folha no gabinete do prefeito de Colniza -numa reunião à qual também estava presente Hilton Campos, prefeito de Juína- confirmaram ter pago propina regularmente ao Ibama. O achaque muitas vezes era dividido entre os funcionários do órgão e os engenheiros florestais contratados pelos madeireiros para fazer projetos de manejo.
Apesar de otimistas com a intervenção, eles não acreditam que a fraude vá acabar com as demissões no Ibama. “Daqui a seis meses, esse povo todo está trabalhando na Fema”, calcula Polles.

Em Sorriso, estrada divide Daslu e miséria

O prefeito de Sorriso, Dilceu Rossato (PPS), fica sem graça quando o repórter lhe pergunta sobre o IDH do município. “Esse negócio de IDH foi meio falsificado”, dispara. Depois se arrepende: “Apaga isso aí”.
Principal município plantador de soja do país, Sorriso ficou famoso pela divulgação, em 2003, de que a cidade tinha o segundo maior Índice de Desenvolvimento Humano do Estado. Os dados, de 2000, refletiriam o enriquecimento e a distribuição de renda causados pelo boom agrícola.
Apesar de ter elevado o PIB per capita do município -de R$ 461, em 2000, para R$ 2.000, em 2005- e de movimentar a economia regional, a soja não fez milagre. Mecanizada, ela concentrou renda e empregos qualificados. “O município não tem mais área para abrir [desmatar]. Não tem vaga para mão-de-obra sem qualificação”, afirma Rossato.
O que existe são duas Sorrisos, cortadas ao meio pela BR-163. De um lado, a cidade próspera que vende a grife Daslu. Do outro, atrás do distrito industrial, ruas sem asfalto e com casas de madeira, onde vivem trabalhadores da lavoura.
Pior, a divulgação do IDH inchou a cidade. “Há cinco ônibus que chegam todo dia com gente”, diz o prefeito, que estuda uma forma de restringir a imigração. “Aumentamos em 36% o número de crianças na escola, mas a saúde só cumpre 42% dos critérios do governo.”

Maggi diz que dará prioridade a ambiente

Eleito em 2002 com o discurso do desenvolvimento a qualquer custo -ambiental inclusive-, Blairo Borges Maggi, 49, viu explodir no seu colo nas últimas semanas a bomba florestal mato-grossense. E não gostou.
Desde a divulgação dos números do desmatamento na Amazônia, no mês passado, o governador, conhecido como o “rei da soja”, ganhou apodos menos nobres: “rei do desmatamento” e “estuprador da floresta”. Isso tudo antes de explodir o escândalo de corrupção que levou para a cadeia seu secretário de Meio Ambiente, Moacir Pires.
Na quarta-feira passada, Maggi ainda pagou o mico de ganhar o Prêmio Motosserra de Ouro, da ONG Greenpeace -que se recusou a receber, das mãos dos humoristas do Pânico Na TV.
Paranaense de São Miguel do Iguaçu, engenheiro agrônomo e pai de três filhos, o governador, dono do Grupo André Maggi, principal exportador de soja do mundo (com US$ 532 milhões de faturamento em 2003), está de olho na reeleição em 2006 e numa eventual projeção nacional de seu nome em 2010 por motivos outros que a destruição da Amazônia. Após o desmonte da Fema, Maggi tenta recuperar o desgaste de sua imagem e se “esverdear”.
Já deu carta branca ao promotor Domingos Sávio Arruda e ao interventor da Fema, Marcos Machado, para reformular a política e a legislação ambiental do Estado e criar uma secretaria para substituir o órgão. Questionado sobre o quão central numa escala de zero a dez era o meio ambiente para seu governo, respondeu: “Agora é dez, né?” (CA)

Folha – Durante uma reunião de governo, o sr. teria dito: “Esse negócio de floresta não tem o menor futuro”. O que o sr. quis dizer?
Blairo Maggi – Primeiro, eu não sei se eu disse essa frase exatamente. Eu tenho utilizado mais no seguinte sentido: que não dá para sustentar a população brasileira ou fazer o desenvolvimento econômico de Mato Grosso catando coquinho na floresta. Talvez a forma como eu defendi [isso] tenha sido um pouco agressiva, e eu ganhei alguns inimigos até internacionais. Os ambientalistas têm o costume de minimizar o território e maximizar as coisas que são feitas. “Ah, mas a Amazônia perdeu um Alagoas este ano!” Nada contra os alagoanos, mas olha quantas Alagoas cabem no território amazônico.

Folha – São quantas Bélgicas ocupadas com soja?
Maggi – Dá duas Bélgicas e pouquinho de soja no território mato-grossense. É coisa pequena.

Folha – A soja não acaba valorizando as terras e empurrando a pecuária para dentro da floresta?
Maggi – Eu acho que a abordagem não deveria ser essa. Para fazer pecuária de cerrado, o pecuarista consegue deixar uma cabeça em um hectare de terra. Ela não tem suporte. Então, a pecuária sempre tendeu a estar ligada mais à área da floresta, porque quando ele desmata uma área dessas, em vez de uma cabeça, deixa seis ou sete cabeças por hectare.

Folha – Mas não é verdade que a soja está ocupando áreas de pasto em zonas de floresta, como na sua fazenda Tanguro, em Querência?
Maggi – Mas lá não é floresta! A fazenda Tanguro é considerada uma zona de transição.

Folha – O RadamBrasil diz que é floresta. O zoneamento ecológico-econômico do Estado também.
Maggi – Veja bem: naquela região tem zona de transição. Se a classificação da fazenda Tanguro é floresta então é floresta, não vou discutir porque não vi documento. Agora, eu comprei a fazenda do jeito que está e não abri nada.

Folha – O Estado de Mato Grosso perdeu o controle sobre o setor produtivo?
Maggi – Não. De jeito nenhum. veja bem: no ano de 1995, quando houve o maior percentual de desmatamento, naquele ano Mato Grosso desmatou 2,6 mil quilômetros quadrados. De lá para cá foram estabelecidos alguns programas e houve uma redução. Agora, a redução que houve tem de ser compreendida dentro de um contexto econômico. Você teve depressão nos preços da soja, endividamento agrícola.

Folha – Não é uma percepção falsa? Porque, em 2003, o Estado teve o seu maior crescimento de PIB, mas o desmatamento caiu.
Maggi – Porque ele veio aproveitando o desmatamento grande feito em 1995 e 1996. O desmatamento grande que foi feito no ano passado vai demorar dois ou três anos para entrar na atividade econômica. O maior crescimento que o Estado teve em 2003 reaproveitou o desmatamento que fez lá atrás. Ele transformou muita pecuária e, de fato, pelos preços da soja no mercado internacional, houve esse avanço no aproveitamento das terras. Então, o Estado perdeu o controle? Não. O Estado não conseguiu acompanhar a fiscalização. Uma vez por ano nós temos acesso a imagens de satélite do Inpe do Estado de Mato Grosso para que nós possamos verificar, depois de um ano, onde houve desmatamento e se ele foi legal ou ilegal. O que aconteceu no ano passado, só ficamos sabendo neste ano. O que nós vamos fazer agora? O que fizemos no ano passado: sair a campo e checar se o cidadão tem documento, se não tem e você multa se ele não está legal. O Estado fez a parte dele.

Folha – O sr. acha que a fiscalização funcionou?
Maggi – A Fema vistoriou as áreas detectadas como irregulares no ano passado. Vai repetir o mesmo trabalho agora. Só que nós estamos chegando depois que o ladrão já arrombou a porta, porque nós não temos uma estrutura para cobrir 900, 1.000 quilômetros quadrados, um fiscal em cada local e saber o que está acontecendo no meio da floresta.

Folha – Agora, não era exatamente isso o que a Fema vinha fazendo?
Maggi – Não, não, não. Era uma vez por ano…

Folha – Mas o sujeito sabia que ele não ia ficar impune. Isso em 2001 e 2002 funcionou.
Maggi – Não, veja bem, funcionou. Quando há a denúncia o fiscal vai lá. O que eu quero dizer a você é o seguinte: isso não resolve o problema, tanto é que nós fizemos desses 1,8 milhão de quilômetros quadrados desmatados, 400 mil quilômetros quadrados tinham documento. Então, a gente sabe onde tem documento. Onde não tem documento, você não sabe, aí eu teria que ter um fiscal em cada lugar ou o vizinho denunciando o vizinho que está desmatando. O Estado não sabe tudo isso. Não havia esse programa [o Deter, do governo federal] para ter as imagens uma vez por semana, por mês ou a cada 15 dias.

Folha – Então, o senhor não considera o sistema satisfatório do jeito que ele foi herdado?
Maggi – Não, o sistema que foi herdado aqui é um sistema de monitoramento, vamos chamar assim, de informação do produtor e de acompanhamento daqueles que têm o licenciamento ambiental único. E aí isso remete à questão da Medida Provisória 2.166 [que altera o Código Florestal], que tanto nós temos defendido que seja votada. Não me interessa qual será o resultado. A partir do momento em que a 2.166 for aprovada no Congresso, definida como lei, eu estou te dizendo, não me interessa qual é o tamanho que vai ter, esse pessoal todo que tem a esperança de poder voltar a ter mais área para desmatar.

Folha – O Plano Real foi medida provisória durante três anos. O Estado não teria que estar fazendo cumprir a legislação?
Maggi – Sim e nós estamos cumprindo dentro do que está aí na 2.166. O que eu estou dizendo é o seguinte: o produtor que ainda não veio fazer a regularização dele, na cabeça dele, ele pensa que isso pode mudar, porque os políticos dizem que pode mudar.

Folha – Aí não é o caso do governador deixar claro para os produtores que vale o que está escrito?
Maggi – Está bom, eu falo assim: vale o que está escrito. Aí você vai nas campanha eleitorais por aí, você sai Mato Grosso afora, aí o deputado federal fala, o senador fala, todo mundo diz, não: nós vamos votar a 2.166, nós vamos voltar ao que era. Você tem direito adquirido, porque quando você comprou a sua propriedade ela era averbada em 50%, quer dizer, então, por que o medo de o governo federal votar a 2.166?

Folha – O sr. acha viável economicamente que seja mantido o limite ao corte raso imposto pela MP?
Maggi – As atividades na floresta, de 20%, não têm sustentação econômica para isso. Não têm. Ninguém. Você vai comprar 1.000 hectares e vai abrir 200 hectares? Duzentos hectares não sustentam uma família na pecuária. Não tem jeito. Na floresta, vamos chamar assim. Nas área de cerrado os 65% não há problema nenhum.

Folha – O sr. sabia dos problemas da Fema desde quando?
Maggi – Eu nunca tive informação dos problemas da Fema. Quer dizer, eu sempre tomo parte com todos os secretários, converso muito freqüentemente e sempre recomendei ao ex-secretário Moacir Pires, que tomasse muito cuidado na Fema, que era um órgão, vamos chamar assim, de vulnerabilidade. Agora, isso eu nunca tive informação que dentro da Fema tinha esse negócio até porque se tivesse a informação tinha rompido na hora.

Folha – O senhor se reuniu em dezembro com o promotor do Meio Ambiente. Ele disse que as notícias da Fema não eram boas. O senhor teria dito para ele: “Também não tenho boas notícias da Fema”. Quais seriam?
Maggi – São essas notícias dos licenciamentos. No entendimento do promotor Domingos Sávio estava havendo uma diferenciação entre aquilo que a Fema faz e aquilo que a lei federal determina. Tem, nesse processo todo, tem coisas que a Fema corrigiu do Ibama, que o Ibama disse que era cerrado e, na verdade, quando a Fema fez a vistoria disse: não, isso aqui é floresta. Então, quer dizer, também houve coisas que o Ibama determinou que era assim e que, na verdade, na fiscalização, era de outro jeito. Também, incluso, o licenciamento da Fema houveram esses tipos de coisas.

Folha – Por que sabendo dessa complexidade o sr. escolheu uma pessoa notoriamente despreparada para a pasta do Meio Ambiente?
Maggi – Olha, qualquer cidadão que tenha vontade de aprender pode ser colocado. Agora, eu acho, nesta altura do campeonato, que se tivesse colocado uma outra pessoa mais ligada ao meio, poderia ter sido diferente o processo. Eu não vou fazer nenhuma condenação do ex-secretário até que haja efetivamente uma condenação. Até porque, se ele não é um “expert” no assunto, você tem toda uma diretoria de suporte.

Folha – Como foi o processo de escolha dele? Foi indicação do PFL?
Maggi – Todos os secretários foram escolhidos por mim, obviamente, dentro dos partidos que me apoiaram. Então, não adianta eu dizer: “Ah, foi o PFL”. Escolhi alguém do PFL para aquela pasta, como escolhi alguém do PT para outra pasta. Poderia ter gente mais preparada? Poderia ter, mas, naquele momento, eu achei que ele fosse preparado e talhado para a função para a qual foi escolhido. Se tem responsabilidade de ter escolhido errado, [ela] é minha. Tenho de reconhecer e acabou. Não vou ficar fugindo do problema.

Folha – O senhor tem sido chamado de coisas como “estuprador da floresta” e “rei do desmatamento”. Isso incomoda?
Maggi – Incomoda, claro. Eu procuro pautar minha vida sempre dentro do que a legislação permite. Se tivessem responsabilizado o governador por Mato Grosso… Agora, querer extrapolar o Blairo Maggi para o resto da Amazônia e querer transformar o Blairo como inimigo número um da floresta… acho uma injustiça. Em resumo: não gostei. Não dá. Os problemas, vamos corrigir, mas não vamos abrir mão do nosso crescimento e desenvolvimento dentro do que a lei permite.

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