Uma família de refugiados sírios deixou sua cidade de origem, Damasco, devastada pela guerra que abala seu país há mais de quatro anos, e segue para Cuiabá. O grupo, formado por pai, mãe e duas filhas não sabe falar português, mas escolheu o Brasil para fugir do conflito que já deixou mais de 230 mil mortos.
Idealizador de um grupo de ajuda em Cuiabá, o empresário Vagner Giglio, viu de perto as consequências da guerra no país árabe. Há 30 dias ele e sua esposa, Emili Ayoub Giglio, retornaram do Líbano, país vizinho a Síria com o sentimento da necessidade de fazer algo. Assim surgiu o grupo "Ajuda as famílias refugiadas", na rede social Facebook, que já reúne mais de 750 pessoas dispostas a ajudar.
"Vimos in loco o que está acontecendo. Nós passamos 17 dias no Líbano, há 50 km da fronteira da Síria, e presenciamos milhares de refugiados na beira das estradas. O turista não percebe o perigo, mas vê nas pessoas que moram lá a preocupação e medo".
Vagner conta que todos estão sujeitos a violência causada pela intolerância religiosa de alguns seguidores do islamismo. "O Líbano tem maioria de sua população mulçumana e muitos sírios são cristãos e vão morrer ali, pois estão sendo perseguidos".
Fadi Bali tem formação em radiologia e Wafia Al Halabi é médica anestesista. Acompanhados de suas duas filhas, de 10 e 12 anos, Mirella Bali e Lida Balí devem chegar a Capital na próxima quinta-feira (24).
Aqui, a família contará com o apoio do grupo de pessoas, solidárias ao sofrimento causado pela guerra, que levou destruição e pobreza ao país Sírio. Criado a pouco tempo, os participantes já conseguiram movimentar muitas doações, entre elas, um apartamento que garante a estadia da família na capital mato-grossense durante um ano. "A minha cunhada emprestou um apartamento para eles morarem por um ano, sem custo algum". O empresário afirma que com o fim do prazo de concessão da moradia não significará abandono da família.
Apesar de já abrigados, os refugiados não tem móveis, roupas e principalmente emprego para permaneceram na cidade. Para isso, a ação continua. "Não aceitamos doações em dinheiro, buscamos doações de roupas, utensílios domésticos, como eletrodoméstico. Estamos coordenando as coisas para dar seriedade ao ato". O grupo também conta com o apoio do cônsul da Síria em Mato Grosso.
A dificuldade em trazer famílias que estão nas fronteiras é grande. Por esta razão, o empresário decidiu montar uma estrutura de acolhimento aos que chegam no Brasil. "Eles desembarcaram em São Paulo sem nada".
O movimento " Ajuda as famílias refugiadas" é dividido em dois grupos de apoio; um conta com a participação de colaboradores de Cuiabá e outro de Campo Grande. A ponte entre os refugiados e ajuda humanitária é feita por um interlocutor em São Paulo.
"Um sobrinho está coordenado em São Paulo e em dez dias de articulação estamos trazemos a primeira família para Cuiabá, temos muitas pessoas que têm boa vontade em ajudar".
Vagner ressalta que o processo para trazê-los é cuidadoso. "Queremos que as crianças tenham escola e tentamos negociar, nem que seja em forma de estágio um emprego para os pais, até eles conseguirem a documentação para trabalharem".
Em março deste ano a guerra na Síria completou quatro anos sem previsão de fim. O combate obrigou metade da população a abandonarem suas casas.
O levante popular contra o regime do país ganhou expressão militar e se transformou em uma guerra civil em que se enfrentam combatentes leais ao regime, diversos grupos rebeldes, frentes curdas e organizações jihadistas. "Estão matando crianças, isso é um genocídio. Este é um problema mundial e todos nós temos que ajudar e pedir um basta a esta calamidade".