Os restos mortais do juiz Leopoldino Marques do Amaral, assassinado a tiros e que ainda teve o corpo parcialmente carbonizado em cinco de novembro de 1999, será exumado na manhã do próximo sábado, dia 11. O juiz foi sepultado no jazigo da família Amaral na cidade de Poconé, cidade da Baixada Cuiabana, a 100 km da Capital.
A exumação foi confirmada pelo médico odontolegista Celso Serafim, coordenador geral de Medicina Legal, que vai acompanhar os trabalhos de novas perícias que será chefiado pelo delegado Márcio Pieroni, atualmente titular da Delegacia de Defesa da Natureza.
A exumação, segundo Serafim foi uma determinação do juiz Pedro Sakamoto, da Vara de Defesa da Natureza. “Só estamos aguardando a disponibilidade do delegado Márcio Pioroni. Em princípio a exumação já determinada pelo juiz Sakamoto, está marcada para a próxima terça-feira”, afirmou Serafim. A reportagem tentou entrar em contato com o delegado Márcio Pieroni, mas não o localizou. A exumação, no entanto, pode estar ligada às declarações da ex-escrevente do Fórum Civil de Cuiabá, Beatriz Árias. Ela afirmou em juízo que o magistrado está vivo. Beatriz foi acusada e condenada a 12 anos de reclusão como co-autora do assassinato do magistrado.
O coronel do Exército e médico legista Alinor Costa, então coordenador geral da Coordenadoria de Medicina Legal, responsável pelo Instituto Médico Legal (IML), que também acompanhou a necropsia no corpo de Leopoldino, garante que foi feito um exame de DNA fora de Cuiabá, cujo resultado confirmou a identificação do juiz Leopoldino com 99,99% de certeza. “Não temos a menor dúvida do resultado do DNA. Só se o juiz ressucitou. Alias, se isso aconteceu, foi o segundo caso de ressucitação, pois a primeira foi de Jesus Cristo”, afirmou Alino Costa em tom de ironia.
A família do magistrado também não tem nenhuma dúvida sobre a identificação do corpo do juiz Leopoldino Marques do Amaral. “Não temos agora, e nunca tivemos dúvidas da morte do nosso pai”, afirmou Leopoldo do Amaral, filho de Leopoldino.
O corpo que seria do juiz Leopoldino do Amaral foi encontrado com dois tiros na cabeça e parcialmente carbonizado no dia sete de setembro de 1999, na cidade de Concepción no Paraguai. Na época a família fez o reconhecimento do corpo.
Dois anos depois a escrevente do Tribunal de Justiça foi condenada pelo Tribunal do Júri a 12 anos de prisão por co-autoria no assassinato.
O motorista de táxi Marcos Peralta, tio de Beatriz, foi apontado como o autor dos tiros que mataram o juiz. Ele foi preso no Paraguai, mas morreu antes de ser extraditado para o Brasil. O empresário Josino Guimarães acusado de ser o intermediador no crime não foi julgado até hoje. As investigações nunca chegaram ao mandante da execução.
Meses antes de ser assassinado o juiz Leopoldino havia denunciado desembargadores de Mato Grosso de estarem vendendo sentenças. “Não tenho medo de nada, quando eu denuncio uma coisa eu vou até o final. Então eu não vou parar a não ser que eles me matem”. O juiz também foi acusado de desviar dinheiro da Vara de Família e Sucessões da qual era titular.
As declarações prestadas em juízo pela ex-escrevente, que o juiz Leopoldino Marques do Amaral está vivo – e que tudo que se sabe e noticiou-se sobre o crime não passou de uma grande armação ao melhor estilo hollywoodiano – cairam como uma bomba. Diante das suspeitas, uma única atitude a ser tomada: exumar o corpo, enterrado no jazigo da família em Poconé, a 100 quilômetros de Cuiabá. Mas, antes de abrir o túmulo, no próximo sábado, a Polícia Civil fará uma perícia no local: quer saber se, nesse tempo todo de investigações, julgamentos e letargia processual, houve violação.
Todo cuidado faz certo sentido. Ainda no melhor estilo do cinema americano, existem suspeitas de que o túmulo onde o magistrado foi enterrado tenha sido profanado. Na teoria da conspiração, o corpo – hoje uma ossada apenas – poderia ter sido trocado por um defundo desses qualquer, indigente, andarilho sempre encontrados em beira de estrada. Feitos os exames e comprovado que não é o corpo de Leopoldino que está lá adormecido, a pergunta que não quer se calar estaria finalmente respondida: não tem juiz morto, não tem crime e, consequentemente, não tem culpados.
O assassinato do juiz é um mistério sem fim. Tantos interesses ajudariam, sem sombra de dúvidas, a alimentar situações como essa levantada agora por Beatriz Árias, a ex-funcionária do Fórum onde o magistrado atuava e com quem teria tido uma filha. Beatriz enfrentou o banco dos réus e foi condenada a 12 anos por co-autoria do crime, ao lado do seu tio, Marcos Peralta, um taxista que morreu doente no Paraguai, sem nunca ser incomodado com o pedido de extradição feito pelo Governo brasileiro. Árias ficou presa e perdeu o emprego: nunca abriu a boca para falar absolutamente nada.
Antes de morrer, o juiz fez uma série de denúncias sobre venda de sentenças, envolvendo diretamente o empresário Josino Guimarães, que, por sua vez, nunca sentou-se no banco dos réus. O Ministério Público Federal, na época orientado pelo procurador José Pedro Taques, tinha absoluta certeza de que colocaria Josino em frente aos jurados. O empresário chegou a ficar meses presos sob custódia. O tempo passou, Beatriz foi para a cadeia e o empresário voltou a rotina de reconhecido “últimos dos playboys” de Cuiabá. Na época em que fez as denúncias, Josino aparecia como intermediador de negócios entre partes acusadas e desembargadores do Tribunal de Justiça. Destemido, Leopoldino desafiou ordens judiciais do Judiciário Estadual.