Com cinco trabalhos aprovados no Congresso Paulista de Medicina Legal e de Perícias Médicas, o médico legista aposentado da Politec de Cáceres, Manoel Francisco Campos Neto, trouxe ao evento os resultados de estudos desenvolvidos a partir de casos reais que envolvem a perícia oficial na fronteira do Brasil com a Bolívia.
Entre eles, uma pesquisa de campo voltada às lesões causadas por disparos de fuzis, um estudo sobre o tráfico cápsulas de cocaína líquida em ‘mulas humanas’, e uma solução simples para se evitar exumações desnecessárias através da coleta de fios de cabelo de vítimas que dão entrada nos Institutos Médico-Legais.
A primeira pesquisa teve por objetivo obter documentação fotográfica das características médico-legais encontradas nas lesões de entrada (de alta energia) das perfurações causadas por fuzis 5,56 mm e 7,62 mm com distâncias pré-estabelecidas.
No Brasil, armas de uso restrito são cada vez mais usadas em assaltos e até em disputas de traficantes por pontos de droga. Entretanto, segundo os autores, não aparecem descritas na literatura especializada algumas das características técnicas encontradas impressas nos ferimentos causados pelos projéteis de alta energia com referências às distâncias dos disparos.
“A partir de agora, essa pesquisa contribuirá de forma direta no desempenho dos trabalhos dos peritos criminais em locais de crimes com envolvimento de fuzis e questionará em parte o que já foi descrito nas obras técnico-periciais, como a identificação de calibres da arma e a distância de disparo com base nas lesões de entrada”.
O objetivo, disse Campos, é demonstrar que as lesões de diferentes tipos de armas de fogo são semelhantes e que podem trazer conclusões equivocadas com base em análises preliminares.
O segundo estudo demonstrou que exames de Raio-X são insuficientes para se detectar a ingestão de cápsulas de cocaína líquida, feitas por pessoas que ingerem entorpecentes para o transporte, conhecidas como “mulas humanas”. Os invólucros usualmente contém pasta base prensada e envolvida em materiais que buscam proteger da ação dos sucos digestivos e ao mesmo tempo burlar a detecção policial e médica.
O trabalho inédito analisou um caso ocorrido em Cáceres de transporte de Cocaína líquida em porções deglutidas e embaladas em camadas de látex e investigou a causa da intoxicação da vítima, considerando que os invólucros da droga aparentavam estarem íntegros.
Como metodologia, foram analisadas radiografias simples do abdome de uma mulher sobrevivente e um toxicológico de urina. Este estudo foi premiado pela comissão científica como o melhor trabalho apresentado.
Por último, uma metodologia simples e econômica que garante segurança e evita transtornos desnecessários com a realização de exumações para confirmação de identidades suspeita- a coleta de fios de cabelo para a realização de exames de DNA.
A prática já é adotada pela Gerência de Medicina Legal de Cáceres e obedece a uma cadeia de custódia que visa garantir e integridade e preservação do material biológico.
“Como acontecia em Cáceres-MT e atualmente continua na maioria dos municípios pobres do interior de nosso País, onde existem poucos recursos técnico-periciais e com grande percentual de exumações ligadas às identificações, pesquisamos e resolvemos adotar experimentalmente um método simples, prático, de baixo custo e fácil de ser realizado em qualquer serviço Médico Legal”, afirmou.
O Congresso aconteceu em São Paulo (SP) entre os dias 24 a 26 de junho e foi promovido pela Associação Brasileira de Medicina Legal e Perícias Médicas- Regional São Paulo.