Um estudo realizado por pesquisadores da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) indica que os tamanduás-bandeiras, quando resgatados e postos em cativeiro, precisam de atenção especial por seu risco aumentado de problemas cardíacos, em razão da alimentação inadequada. O trabalho foi publicado, há poucos dias, no periódico acadêmico Journal of Zoo and Wildlife Medicine.
O professor do hospital veterinário da UFMT, Pedro Néspoli, explica que a predisposição a doenças cardíacas da espécie ganha um risco aumentado devido à dificuldade de replicar a dieta desses animais em cativeiro. “É uma alimentação difícil de ser feita nessas condições. Você não tem como capturar formigas e outros insetos para dar para esses animais, então, você tem que fazer uma ração balanceada”, afirmou o pesquisador à Agência Brasil.
Segundo Néspoli, na ausência de um centro de triagem de animais silvestres bem estruturado na região, o hospital universitário da UFMT atende muitos animais encaminhados pela secretaria do Meio Ambiente e Infraestrutura (Sema) do Estado. Com o tempo, alguns animais começaram a apresentar quadros de insuficiência cardíaca. A partir de exames ecocardiográficos, — que utilizam ondas de ultrassom para produzir imagens do coração — a equipe de pesquisadores envolvidos no estudo constatou um aumento das cavidades cardíacas dos tamanduás-bandeiras avaliados, que poderia estar relacionado à redução da função de contração do coração dos animais.
Em 2022, o tamanduá-bandeira foi categorizado como “vulnerável” de acordo com a plataforma Salve, do instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). Presente nos três biomas de Mato Grosso (Pantanal, Amazônia e Cerrado), a preservação da espécie enfrenta principalmente a diminuição de áreas conservadas, o atropelamento em estradas, as queimadas em florestas e a caça. O estudo também destaca as mudanças climáticas, em especial o aquecimento nos biomas brasileiros, como fator que favorece a diminuição da população desses animais, já que os tamanduás-bandeiras são muito sensíveis ao calor extremo, mais do que outras espécies de mamíferos no Brasil, segundo a pesquisa.
O controle do desmatamento, a coibição, a prevenção e a punição de queimadas, a punição da caça e da comercialização de animais selvagens e a reordenação de corredores florestais, propiciando uma maior área para obtenção de alimentos, são alguns exemplos que podem ajudar a preservar a espécie.
A pesquisa teve participação da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ). Ao todo, os dados utilizados no estudo resultaram de seis anos de pesquisa, com início em 2017 e conclusão em 2022, de acordo com a Agência Brasil.
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