Quase três anos depois do início das obras do Veículo Leve Sobre Trilhos, empresários que têm negócios em trechos que foram afetados pelo modal, como a avenida da FEB em Várzea Grande e a avenida Tenente Coronel Duarte (Prainha), reclamam das incertezas quanto a obra, da falta de planejamento, de valores oferecidos e da falta de pagamento das desapropriações. De acordo com a Secretaria de Cidades (Secid), o número de desapropriações envolvendo todas as obras iniciadas para a Copa do Mundo 2014, incluindo o VLT é de 900 áreas, das quais 681 já foram desapropriadas e 209 ainda aguardam desapropriação. O total já pago em desapropriações até agora é de mais de R$ 35 milhões. Ao todo 353 áreas de desapropriação estão na rota do VLT, mas apenas 136 foram liberadas e demolidas enquanto que outras 217 ainda aguardam a desapropriação.
Na FEB, o empresário Gustavo Batista, proprietário do Dallas Motos, afirma que a incerteza quanto a obra tem prejudicado ainda mais os negócios. Conforme ele, com os trilhos do VLT passando pela FEB, a obra causou menor fluxo de carros e pedestres, e aumentando o números de assaltos na região, o que obrigou a mudar a entrada da loja e investir em segurança. “Nós apostamos no governo passado, e quase três anos depois estamos aqui, abandonados, com nossa calçada destruída, sem nenhum retorno na principal avenida de Várzea Grande, e sem sabe qual será o nosso destino”.
Segundo ele com a falta de cronograma e planejamento da obras, muitos empresários foram obrigados a fechar as portas ou se mudarem. Exemplo de casos como esse é o do empresário Ademar Aparecido Dias, que depois de 18 anos na avenida, está se mudando para Cuiabá. “Não temos mais condições de continuar aqui. Fomos pacientes, demos prazo ao governo, que não foi cumprido já que a obra deveria ter sido terminada para Copa”. Dias explica que apostou alto, tentando manter a empresa no local, que se tornou deserto, sem estacionamento. “Tive queda de 35% nas minhas vendas, além de ter demitido muitos funcionários”. O situação não é muito diferente para empresários da Prainha, uma das principais avenidas do centro histórico da capital mato-grossense, por onde deve passar um dos eixos do trem de superfície. Para acompanhar o processo de desapropriação, um grupo de 60 empresários organizou a Associação de Comerciantes Locatários da Prainha.
Arepresentante da associação, Dilma Gaião,conta que nos últimos anos empresas tiveram que fechar as portas por causa da demora no processo da desapropriação e muitas outras vivem a espera, sem poder investir nos negócios diante da incerteza. “Queremos que o governo assuma um posicionamento e que a indenização aconteça”, reivindica. Outro problema de acordo com ela são os valores oferecidos para as indenizações. Um exemplo que explica esse impasse: o governo avaliou em R$ 350 mil um empreendimento próximo ao Morro da Luz. Na avaliação da associação, somente o terreno é vendido no mercado por mais de R$ 1 milhão. “Estão depreciando os empreendimentos e oferecendo não que vale e sim o que querem oferecer”.
Com os inúmeros problemas apontados pelas auditorias feitas pelo governo esse ano, os empresários enfrentam agora mais espera e ainda a incerteza do destino a ser tomado. A empresária Júlia Marques, afirma que entrou em desespero quando ouviu falar em uma possível troca do VLT para BRT. “Quando ouvi sobre isso tive vontade de chorar. Essa obra nos trouxe tantos problemas, tantas noites mal dormidas, tanto prejuízo e até agora nada foi resolvido, e ainda pensam em mudar de modal?. Não aguento tudo de novo”. Conforme Gaião muitos empresários tiveram problemas para lidar com as mudanças, o que caberia até mesmo uma ação de danos morais contra o governo. “Desestruturaram famílias. Alguns tiveram que mudar padrões de vida, desistir de sonhos e até mesmo procurar ajuda psicológica”.
As obras do VLT tiveram início em 2012 e deveriam ter sido entregues para a Copa do Mundo 2014, o que não aconteceu. Paralisadas desde de dezembro do ano passado, a obra atingiu apenas 50%. Até o momento já foram repassados R$ 1,066 bilhão ao Consórcio Construtor. A obra que foi contratada por R$ 1,4 bi pode ultrapassar ainda R$ 1,8 bi. O governo defende a conclusão da obra, mas há um estudo em andamento que deve apontar a viabilidade do VLT. A Assembléia Legislativa propôs a realização de um plebiscito para saber a opinião da população sobre a troca do VLT pelo BRT. A grande discussão gira entorno da má qualidade do que já foi feito até agora, e da quantia que ainda precisará ser investida para o término do modal. O governo ainda não tem o cronograma para a retomada das obras, mas em um cenário mais otimista a conclusão do VLT se dará apenas em 2018.
Outro lado- Sobre a questão das desapropriações, valores e retomada das obras, em nota, a Secid-MT, juntamente com o Gabinete de Assuntos Estratégicos, informou que está analisando os relatórios apresentados em auditoria realizada pela Controladoria Geral do Estado (CGE) para dar devidos encaminhamentos.