O desperdício diário de água em Cuiabá é de mais de 40% do volume fornecido, em média 150 litros por pessoa por dia. Cerca de 4% é perdido durante o tratamento da água, mas grande parte se deve mesmo as ligações clandestinas e “gambiarras” feitas por moradores, ao mau uso no cotidiano e a falta de manutenção e substituição de tubulações antigas.
A Companhia de Saneamento da Capital (Sanecap) não sabe informar o que representa em valores tal desperdício, porque não há medidores nos locais de fornecimento, como as Estações de Tratamento de Água (ETA), e 29% dos consumidores não possuem o hidrômetro, aparelho responsável pela medição do consumo. Nestes locais, o cálculo para cobrança é feito a partir do tamanho da residência. Há projeto de implantação de medidores.
O sistema de abastecimento na capital se caracteriza pela intermitência e por isso não há água nas torneiras todos os dias, situação que se agrava ainda mais na seca. Dos 167 bairros, 32, maioria da periferia, são abastecidos por poços e dependem do período chuvoso. A partir de agosto, a situação se complica e a prefeitura é obrigada a recorrer aos carros pipas. A duplicação da ETA do bairro Tijucal, de 500 litros para 1.000 litros por segundo, deve suprir esta necessidade, estima o engenheiro da Sanecap Noé Rafael da Silva. Ele explica que a intermitência é a principal responsável pelo rompimento da rede de água no município, em média 8 por mês. As ligações mais antigas estão no centro da cidade, cerca de 1 km, que precisam ser substituídas.
Segundo ele, o bairro que mais sofre com a falta de água em Cuiabá é o Altos da Serra. Tem regiões do bairro que só recebem o líquido a cada 2 dias por 6 horas. Na rua Princesa Izabel, a reportagem flagrou a utilização de gambiarras para driblar a falta. Os moradores cortaram as tubulações da calçada, que não é cimentada, e retiram a água com baldes e mangueiras. Em uma rápida observação foi possível constatar “gatos” em várias direções para atender a vizinhança.
A maioria das residências não possui hidrômetro e as caixas d”água são colocadas no chão, para facilitar o abastecimento, porque não é forte. “Na minha casa vem água dia sim, dia não, e quando vem é só por 1 hora”, conta a dona de casa Zilda Rosa Moura, 49.
Próximo dali, no Três Barras, uma bica é a forma que a população adotou para ter o que beber, se alimentar e se lavar. O mecânico Fernando Kanagawa, 67, mora no 1º de Março, e anda cerca de 1km de bicicleta para buscar água na bica, porque a que tem em casa, diz, é suja. “Não tem quase água em casa, mas a conta chega todos os meses. E ainda tenho que pagar energia para bombear para caixa”.
No Dia Mundial da Água, a Sanecap informa que a inadimplência em Cuiabá é de cerca de R$ 1 milhão, sendo maior na periferia. Em janeiro, por exemplo, o percentual registrado no bairro Altos da Glória foi de 92,63% e no Barra do Pauz, 93,55%.