O número de mulheres desaparecidas em Mato Grosso apresenta um crescimento de cerca de 40% nos nove primeiros meses deste ano, se comparado ao mesmo período do ano anterior. São cerca de dois registros por dia, segundo dados da Secretaria de Estado de Segurança Pública (Sesp). Ao todo já são 585 mulheres que desapareceram entre os meses de janeiro a setembro no Estado. No mesmo período do ano passado o número era 419.
De acordo com o Núcleo de Pessoas Desaparecidas da Delegacia Especializada de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), em quase 90% dos casos maridos, namorados e ex-companheiros são os principais suspeitos.
De acordo com a investigadora Vera Ferrari há diferentes motivos para as pessoas deixarem seus lares, como uso de drogas, envolvimento em crimes, brigas em família ou mudança de estilo de vida, mas na maioria dos casos em que as mulheres desaparecidas foram vítimas de homicídio, há envolvimento de ex-companheiros ou atuais. “Um dos primeiros pontos a ser esclarecido é se a pessoa desapareceu de forma voluntária, muito comum em caso de adolescentes, ou por algum motivo específico, como problemas de saúde, envolvimento com drogas e com outros delitos, até chegar à possibilidade de ter sido vítima de homicídio”.
O investigador Alex Machado Mendes lembra que o trabalho para localização é minucioso e baseado na análise da rotina da vítima, e no levantamento de informações sobre a pessoa. “Há uma pré-investigação, nós procuramos refazer todos os passos a fim de conseguirmos pistas e provas sobre o desaparecimento”.
Segundo os investigadores, as primeiras horas do desaparecimento são cruciais para que a polícia consiga elucidar de forma mais rápida os casos. Eles lembram que uma “regra” muito conhecida pela sociedade, de esperar 24h para notificar a polícia, não passa de mito, e tudo depende das características de cada caso. “Tudo depende de cada caso. Por exemplo, uma mãe de família que é responsável, tem uma rotina com os filhos, e do nada desaparece, deixa de dar notícias, a família não consegue contato nenhum, isso é estranho. Certamente algo de errado aconteceu. Em casos como esse o quanto antes a polícia for avisada, mais rápido a pessoa pode ser encontrada e com vida”.
Os investigadores destacam também que outro trabalho importante é o da mídia, que com a divulgação de imagens das vítimas, auxilia diversas vezes o trabalho com o aparecimento de pistas e denúncias. “Sem dúvida o papel da mídia é muito importante e várias vezes recebemos denúncias após uma matéria com fotos ser divulgada”.
Há mais de dois anos a família de Benildes Batista de Almeida, 40, vive um pesadelo com o desaparecimento e a falta de notícias. Mãe de três filhos, Benildes sumiu no dia 16 de maio de 2014, quando deixaria Cuiabá para retornar a Europa onde morava e trabalhava há cinco anos. Desde então, a família não tem nenhuma notícia.
Leize Tocantins, irmã de Benildes, conta que procurou a Polícia Federal meses depois do desaparecimento, e após investigações foi informada de que Benildes não teria deixado a capital. “Eles disseram que não há registro de passaporte dela, e que ela não teria saído daqui”. Para a polícia, a demora em procurar ajuda dificultou ainda mais a localização de pistas. “Como havia tido um desentendimento com a gente, por coisas que o companheiro dela colocou na cabeça dela, achamos que estava com raiva e por isso não nos dava notícias. Mas o tempo foi passando e eu vi que algo estava errado”.
Benildes veio a Cuiabá para passar cinco meses com a família e resolver questões sobre o relacionamento que tinha com um homem, que para a família é o principal suspeito. “Ele trabalhava com meu marido e no dia da viagem pediu para sair mais cedo para levá-la”. Segundo ela, o ex-companheiro da irmã afirma que ao chegar na casa não teria encontrado ninguém, e que ela teria ido para o aeroporto com uma amiga. A amiga garante que não a levou.
Emocionada, conta que supostamente a irmã teria ido embora sem se despedir dos filhos que estavam dormindo. “Ela amava muito eles. Jamais iria sem se despedir”. Leize encontrou uma bolsa com documentos, carteira de trabalho e cartões de crédito na casa, o que levanta ainda mais suspeitas sobre o desaparecimento. “Como alguém iria embora sem levar documentos?”
A polícia não tem nenhuma pista sobre o caso e as imagens do aeroporto que poderiam ajudar não existem, pois são apagadas a cada 90 dias. Leize afirma que para a família o ex-companheiro da irmã diz ter contato com ela e que estaria fora do país. “Não acredito. Ela não saiu daqui”.
Denúncias sobre o caso: 3901-4823, 197 ou pelo telefone da família (65) 99807-5954.