A delação do empresário Ricardo Augusto Sguarezi, um dos réus da ação oriunda da Operação Rêmora, foi homologada pelo ministro Marco Aurélio, do Supremo Tribunal Federal (STF). Além de reafirmar e complementar informações a respeito do esquema de fraudes e direcionamento de 23 licitações da Secretaria de Estado de Educação (Seduc) para construção e reformas de escolas, obras orçadas em R$ 56 milhões, ele envolveu novos personagens: os deputados federais Ságuas Moraes (PT) e Ezequiel Fonseca (PP).
Em um dos anexos da colaboração, o delator revela dois fatos que não foram investigados na Rêmora, mas que correspondiam, segundo ele, cobrança de propina semelhante. Em 2008, quando buscava receber da Seduc as medições de uma obra da qual era responsável, Antônio Carlos Ioris, que atuava na Pasta, o procurou para afirmar que o pagamento seria realizado, “caso o peticionante concordasse em pagar algumas dívidas de campanha e contribuísse para a eleição do deputado Ságuas Moraes”, diz trecho do depoimento ao qual a Gazeta teve acesso.
O empresário disse que acabou aceitando a proposta para ter garantias de receber pelos contratos que tinha com o governo. Ele ainda revela que ficou acertado que os repasses seriam de 3% do valor das obras tocadas.
Sguarezi afirma que chegou a se reunir com Ságuas Moraes, então secretário de Educação. No encontro, informou o petista que estava repassando o dinheiro a Ioris. “Neste instante, o peticionante diz que o deputado federal lhe interrompeu e disse que não trataria deste assunto com ele”, diz outro trecho da delação.
Segundo Sguarezi, dois anos mais tarde, em 2010, Ioris teria pedido R$ 150 mil para a campanha daquele ano. Como o empresário não tinha o valor, Ioris afirmou que realizaria um empréstimo para que ele pagasse, “com juros e correção monetária”.
Já em relação a Ezequiel Fonseca, Sguarezi afirma que, quando o parlamentar atuava como secretário-adjunto de Estrutura Escolar da Seduc, teria lhe procurado e pedido “uma espécie de ajuda”, “entregando-lhe um carnê de financiamento de uma caminhonete, para que fosse quitada em 11 vezes”.
Como provas de suas afirmações, Sguarezi entregou cópias de cheques, depósitos e troca de mensagens e e-mails com os acusados. A delação está em sigilo.
A Operação Rêmora foi deflagrada em 2016 pelo Grupo de Atuação Especial contra o Crime Organizado.
Outro Lado
Os deputados federais Ezequiel Fonseca (PP) e Ságuas Morares (PT) negam as acusações do empresário Ricardo Sguarezi de um suposto esquema de cobrança de propina enquanto atuavam na Secretaria de Estado de Educação (Seduc).
Apesar de não estar concorrendo a nenhum cargo nas eleições deste ano, o petista disse estranhar que este assunto venha à tona durante o período eleitoral e garantiu que a Operação Rêmora não o envolveu. “Todas as ações da Seduc no período que Ságuas esteve na Secretaria se deram dentro da legalidade e foram auditadas e aprovadas por diversos órgãos de controle”, afirmou em nota.
Ságuas também disse desconhecer a delação de Sguarezi e que se orgulha dos 22 anos de vida pública, já que, conforme a nota, “nunca respondeu a nenhum processo administrativo e muito menos criminal”.
Ezequiel Fonseca disse receber a notícia com “surpresa e indignação” e que não tem conhecimento da colaboração feita por Sguarezi. “De antemão, nega qualquer irregularidade, tanto no período em que foi secretário-adjunto de Educação, quanto nos anos em que fez parte da Assembleia Legislativa, na condição de deputado estadual”, pontuou em nota.
Para o progressista, o delator tenta envolvê-lo para fugir de eventuais punições por atos cometidos. “Cabe comprovar aquilo que diz ou, no caso, supostamente diz”. Fonseca também reclama que denúncias e delações vazem, “exatamente no período eleitoral, o que leva a crer tratar-se de uma ação orquestrada”.
Antônio Carlos Ioris, que também é acusado por Sguarezi, não foi localizado para comentar a denúncia.