Laudicério Aguiar Machado tinha 13 anos quando ouviu sua mãe, dona Maria Aparecida, lhe contar um sonho antigo: ter um filho doutor. “Aquele momento ficou na minha cabeça e me motivou”, lembra ele, quase 25 anos depois.
De família humilde, com quatro irmãos, Laudicério sabia que teria que enfrentar grandes barreiras para realizar aquele desejo. Desafios capazes de fazer muita gente perder a esperança. Mas, em vez disso, ele começou a buscar cada vez mais conhecimento.
O primeiro curso que fez, ainda com 14 anos, foi o de datilografia em 1994. Depois se qualificou para atuar em atividades distintas como auxiliar de cozinha, canto e terapias orientais. “Independentemente de executar ou não o que aprendo, sempre busquei me qualificar”.
Em 1996, ingressou no curso de técnico em edificações na antiga Escola Técnica Federal (hoje, o IFMT). Concluída esta etapa, inscreveu-se no concurso da Polícia Militar de Mato Grosso e passou, mas só foi chamado para fazer o curso de formação de soldado dois anos depois.
Neste período, Laudicério nunca parou de estudar: começou a faculdade de Administração Hospitalar em uma universidade particular de Cuiabá, pela qual recebeu o diploma de bacharel em 2006.
Era a hora do mestrado. Em dezembro de 2009 fez contato com a Universidade Metodista de Piracicaba (Unimep), em São Paulo, e iniciou sua pesquisa sobre o papel do gestor em unidades de saúde da segurança pública.
Com pouco dinheiro para viajar até a universidade, ele conta que tinha de viajar de carona de Cuiabá até a cidade de Jataí, em Goiás, e só depois embarcar em um ônibus para Piracicaba. “Eram 30 horas de viagem”.
Na cidade paulista ficava hospedado no quartel da Polícia Militar. Ao final de dois anos de esforço, sua pesquisa de mestrado tornou-se um livro publicado em 2013. “Nunca esmoreci”.
Mas ainda havia um sonho antigo a realizar. Em 2012, o hoje cabo da Polícia Militar começou o seu doutorado em Administração, na mesma universidade em que concluiu o seu mestrado.
E tanto se esforçou que, no dia 26 de fevereiro deste ano, a história iniciada 25 anos antes teve o seu desfecho: diante de sua mãe, dona Maria e de seu pai, Dilicério, o policial defendeu sua tese de doutorado e conseguiu alcançar seu objetivo com louvor.
Atualmente, aos 38 anos, Laudicério é gestor do observatório do Centro de Pesquisa da Polícia Militar, localizado na Escola de Formação e Aperfeiçoamento de Praças (Esfap). Também é docente das disciplinas de Teoria Administrativa e Gestão de Pessoas em uma faculdade particular de Várzea Grande.
Hora de sossegar? Nada disso! Agora que terminou o doutorado, o militar pretende concluir o curso de Direito e lançar o seu segundo livro sobre o resultado da sua pesquisa no doutorado. Aprimorar a língua inglesa e iniciar o curso de mandarim também fazem parte da lista. “Não sei se vou conseguir, mas projeto eu tenho. Vivemos de sonhos. São eles que nos movem”.