De nove capitais analisadas, Cuiabá ficou com a segunda pior colocação em relação à mobilidade urbana sustentável. Estudo feito pelo portal Mobilize Brasil mostra que o excesso de carros e falta de um sistema coletivo eficaz traz problemas como a poluição do ar, sonora, bem como afeta a qualidade de vida do morador da capital mato-grossense. O trânsito em Cuiabá recebeu a nota 2,4, em uma escala de 0 a 10, enquanto a melhor cidade, o Rio de Janeiro, teve nota 7,4. Cuiabá ficou à frente de São Paulo, que teve nota 2.
Nos horários de pico, a situação caótica do trânsito pode ser vista nos principais cruzamentos da área central. O professor do curso de Engenharia Civil da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) e especialista em mobilidade urbana, Eldemir Pereira de Oliveira, afirma que as ruas estreitas da cidade há muito tempo não comportam a quantidade de carros. Segundo o estudo, de 2005 a 2011, a frota de carros cresceu 69%. A porcentagem está acima do Rio de Janeiro, que teve aumento de 34% da frota em 10 anos.
Há 6 anos, 95 mil automóveis particulares circulavam em Cuiabá e hoje já são mais de 162 mil. O número representa uma média de 1 carro para cada 3,4 habitantes. Oliveira explica que existe resistência dos habitantes com o transporte coletivo. Eles reclamam dos trajetos, que não atendem a necessidade, bem como a qualidade das ruas e avenidas. Muitas estão repletas de buracos ou com o pavimento deformado, que causa trepidação intensa durante a viagem.
Conforme o professor, o trabalhador faz qualquer negócio para comprar um carro ou uma moto e se livrar do coletivo. Em 2005, uma pesquisa feita pela UFMT, em parceria com o aglomerado urbano de Cuiabá e Várzea Grande, mostrou que 25% dos empregados preferem ir ao trabalho a pé para não pegar o ônibus.
Um dos motivos para recusa do transporte são os engarrafamentos, cada vez mais constantes e mais longos. "A viagem demora mais, os passageiros passam mais tempo no ponto esperando e ainda sofrem com o estresse da poluição. O fato gera irritação com o sistema".
Pesquisas – No relatório do portal Mobilize Brasil, os pesquisadores apontam que existe uma carência de fontes de dados. Eles usaram informações conseguidas com o Instituto de Medicina Legal, Secretaria Municipal de Trânsito e Transportes Urbanos (SMTU) e UFMT.
O professor lembra que 2 grandes pesquisas foram feitas na Capital. Uma delas na década de 90 e outra em 2005, que baseou a extinção do antigo terminal de integração da praça Bispo Dom José. Na ocasião, houve coleta de dados nos bairros e também a contagem de carros nos principais cruzamentos da cidade. A ideia era usar os dados para fazer o projeto de um corredor para o transporte coletivo, que ficou no papel por 5 anos e foi retomado após Cuiabá ser confirmada como uma das cidades-sede da Copa do Mundo de 2014.
O mesmo estudo, segundo o especialista, poderia ser usado para a realização de um sistema de transporte coletivo mais eficaz. O documento poderia dar base, com alguns ajustes para atualização, de novos itinerários, que atendessem a necessidade da população. Outra utilidade dos números seria a reformulação das vias da cidade. O problema é que, desde o fechamento do terminal de integração, os números não foram usados pelos técnicos.
Solução – Na opinião do professor, o transporte coletivo deve ser considerado um dos pontos essenciais das políticas públicas nas cidades. Ele defende que o Veículo Leve sobre Trilhos (VLT) pode ser uma solução, desde que seja associado a uma estrutura de alimentadores, que saem dos bairros até as principais avenidas da cidade, onde vão passar os vagões. Caso fique isolado, pode se tornar um "elefante branco", ou seja, com potencial desperdiçado e sem atender a população.