O movimento gay de Mato Grosso saiu às ruas, na tarde deste sábado (23), para protestar contra a violência, com a realização da 11ª Parada da Diversidade Sexual.
De acordo com estimativas da Polícia Militar, cerca de 3 mil pessoas participaram do evento, nas principais avenidas da área central de Cuiabá.
Neste ano, a Parada Gay propôs o tema "Estado Laico: sua religião não é nossa lei". Os discursos tiveram um tom político, em meio à descontração dos integrantes do movimento.
De acordo com um dos organizadores do movimento, o presidente da Ong LGBT, Alexanders Virgulino, o objetivo do evento é fazer com que a sociedade "acorde", em relação ao preconceito e aos crimes de homofobia que são praticados em todo o Brasil.
A concentração da Parada Gay teve início às 14 horas, na Praça Ipiranga. Por voltas das 16h, os agentes de trânsito (amarelinhos) bloquearam o tráfego de carros na Avenida Tenente-Coronel Duarte (Prainha), e o carro de som puxou a multidão que começou a percorrer o Centro de Cuiabá.
Da Prainha, a passeata seguiu em direção a Getúlio Vargas. A Parada fez uma pequena pausa nas proximidades Palácio Alencastro (sede da Prefeitura de Cuiabá), onde as lideranças LGBT fizeram discursos contra a homofobia e pelo respeito ao Estado Laico, "sem doutrinações de ordem religiosa".
A passeata contou com muita animação dos participantes, que se divertiam com muita música e os dançarinos (gogo boys), que se apresentavam em cima do trio-elétrico.
Quem também participou do evento foi o vereador Alan Kardec (PT), que foi o padrinho da 11ª Parada da Diversidade Sexual. "Fiquei muito contente ao ser escolhido", destacou o parlamentar.
Kardec também lamentou o preconceito de alguns colegas de parlamento, que votaram contra a audiência pública para debater a homofobia. A audiência ocorreu na câmara de vereadores de Cuiabá e foi uma iniciativa do petista.
"Infelizmente ainda existe esse preconceito. Esse ranzo dentro da sociedade. Mas nós sempre temos que lutar contra isso. Chega de homofobia", exclamou Kardec.
Mato Grosso é o segundo estado que mais comete violência contra o público homossexual, segundo levantamento da organização
"As pessoas precisam se conscientizar de que o Estado é laico, ou seja, não pode ser comandado por doutrinas religiosas, principalmente aquelas extremistas", disse o presidente da Ong Livremente.
Já o diretor de Comunicação da Ong Livre, Clóvis Arantes, disse que umas das principais reivindicações do movimento é a aprovação, no Congresso Nacional, do Projeto de Lei 112, que criminaliza a homofobia.
"Precisamos acabar com a violência contra o público homossexual. Precisamos mostrar para a população que o Estado é laico e que a manifestação sexual é livre", disse Arantes, que milita há 18 anos no movimento LGBT.
A passeata da Parada Gay concluiu o percurso na na Praça Santos Dumont, onde foi montada uma estrutura de palco para dar continuidade à festa da diversidade sexual de Mato Grosso.
Durante a concentração na Praça Ipiranga, uma intervenção chamou atenção do público presente. Três militantes LGBT encenaram uma peça teatral, onde um homossexual era "agredido" pelo Estado.
O Governo era representado por um rapaz vestido de terno. Em uma das mãos, ele segurava uma agenda, que simulava uma Bíblia. Na outra mão, ele segurava pela coleira um colega de cena, que simulava "um cão feroz que atacava o homossexual".
"Queremos mostrar com essa encenação que o Estado não é nada laico e não oferece proteção para o público homossexual", explicou um dos atores.
Culto Evangélico
A Parada Gay também teve que dividir o espaço da Praça Ipiranga com fiés da igreja Assembleia de Deus que realizavam um culto no coreto da praça.
Alguns religiosos distribuíram folhetos com salmos bíblicos aos homossexuais. Ao entregar o material, os fieis sempre diziam a frase "Jesus te ama".
Algumas pessoas que participaram da Parada Gay se irritaram com a postura dos religiosos.
Muitos homossexuais afirmaram que o culto da Assembleia na Praça Ipiranga foi no sentido de afrontar o movimento da diversidade sexual.
"Eles nem costumam ficar aqui no final de semana. Só apareceram por causa da Parada, apenas para nos provocar", criticou um rapaz.
Já um dos pastores/coordenadores da Assembleia de Deus, Dom Diego, garantiu que a igreja organiza o evento há quatro anos na Praça Ipiranga.
"De maneira nenhuma foi uma afronta. Essa situação não passou de uma coincidência", destacou o pastor.
Perguntado como a igreja enxerga o movimento, Dom Diego disse que os homossexuais são vistos com muito amor pela Assembleia de Deus.
"Nós entendemos que o nosso Senhor criou o homem e a mulher para viverem junto. Mas é opção de cada um seguir ou não os ensinamentos de Deus, e nós respeitamos isso", afirmou o pastor.
Clovis Arantes também evitou polemizar. Ele disse que a praça é pública e todos tem o direito de se manifestar.
"Não queremos entrar nesse mérito. Até porque há 90 dias solicitamos ao Poder Público o espaço da Praça Ipiranga. A bandeira deles é a fé. Nossa luta é no campo político, pela garantia de políticas de favorecimento voltadas ao público LGBT", afirmou o diretor de comunicação da ONG Livremente.
No entanto, antes de sair para a passeata, de cima do trio-elétrico, Clovis não se conteve e deu uma alfinetada nos religiosos: "vamos dar início a Parada porque nós estamos abençoados pelos irmãos que estão orando por nós", disse o militante.