Dado o primeiro passo para o mapeamento da condição socioeconômica das famílias que moram às margens do Córrego do Barbado, em Cuiabá. A Secretaria Extraordinária da Copa de 2014 (Secopa), a Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) e Justiça Comunitária deram início na manhã deste sábado às entrevistas da pesquisa de campo para o levantamento que norteará o trabalho do Governo do Estado.
Agentes da Justiça Comunitária e acadêmicos de diversos cursos da UFMT percorreram as ruas do bairro Bela Vista para identificar quantas são e em que condições estão instaladas as famílias possivelmente atingidas pela construção da Av. Parque do Barbado.
O levantamento resultará num banco de dados que orientará a melhor forma de realocar essas famílias. Para o secretário da Secopa, Eder Moraes, a questão social está sendo analisada "com todo cuidado para que o processo de desocupação ocorra de forma transparente, de acordo com as exigências legais e respeitando o direito à moradia. A parceria da Secopa com a UFMT e o Poder Judiciário traz ainda mais credibilidade na condução dos projetos relacionados à Copa do Mundo".
"Tudo está sendo feito com muita cautela, a preocupação primeira é com o atendimento a essas famílias que podem ser impactadas", disse o secretário adjunto de Desapropriações da Secopa, Djalma Sabo Mendes. Está prevista a remoção de centenas de famílias nos bairros Castelo Branco, Canjica, Renascer, Bela Vista, Dom Bosco, entre outros.
A abertura dos trabalhos foi na avenida Juliano Costa Marques e percorreu já no início da manhã as principais ruas do bairro Bela Vista. A previsão é que a equipe da tarde consiga percorrer ruas dos bairros Castelo Branco, Dom Bosco e Canjica. Os questionários serão aplicados durante todo o dia e expectativa é que a conclusão ocorra num prazo de 60 dias.
O levantamento vai permitir que sejam conhecidos os diferentes casos e situações, como a do primeiro entrevistado o serralheiro Marcelo Batista, que está no local há um ano e meio com a mulher e dois filhos pequenos. Segundo Marcelo, ele veio do Nordeste (Maranhão) e comprou um pequeno barracão onde funciona seu trabalho, mas também serviu de moradia por um tempo; atualmente ele aluga uma quitinete para morar com a família. A preocupação de Marcelo é em conseguir um espaço para morar.
Edson Rodrigues/Secopa
Secopa, UFMT e Justiça Comunitária fazem um levantamento socioeconômico do Córrego do Barbado
Porém, as entrevistas encontram também famílias como a de Fábio Teixeira que mora no bairro há 30 anos e se preocupa em ter que deixar o lugar onde cresceram. A coordenadora do projeto de pesquisa pela UFMT, professora e pesquisadora Carmem Rossetto, explicou que os entrevistadores são estudantes de Psicologia, Serviço Social, Geografia, Fiolosofia, Ciências Sociais e outros. Preparados para ouvir cada morador, inicialmente 400 residências identificadas até o momento. "A UFMT entra justamente com a capacidade técnica e intelectual para dar subsídio para que o Poder Público possa tomar a melhor decisão", disse a pesquisadora.
O diagnóstico será importante para identificar a realidade das famílias que serão removidas das áreas de risco, além de orientar o governo sobre a melhor forma de realocar essas pessoas. A retirada das famílias será necessária para a construção da avenida Parque do Barbado. O secretário Djalma esclareceu aos moradores que nenhuma decisão será tomada antes de ouvir os moradores e de ter em mãos o resultado do projeto. Ele informou também que a Secopa buscou parceria com as Secretarias das Cidades (Secid) e de Trabalho e Assistência Social (Setas) e Caixa Econômica Federal (CEF) para estudar uma possível inserção dessas famílias em programas habitacionais.
A juíza coordenadora do projeto Justiça Comunitária, Ana Cristina Silva Mendes, acompanhou a abertura dos trabalhos e orientou os agentes. "A nossa meta é evitar processos judiciais e estimular a conciliação", comentou a magistrada que reforçou a importância de se fazer o levantamento das informações sem conflitos.
A avenida Parque do Barbado será uma importante via para desafogar o trânsito na Capital, pois interligará as avenidas Fernando Corrêa da Costa, Arquimedes Pereira Lima, Dante de Oliveira (Av. dos Trabalhadores), Gonçalo Antunes de Barros (Jurumirim) e avenida Vereador Juliano Costa Marques.
Idealizada há 20 anos, a obra está dividida em dois lotes. O primeiro está orçado em cerca de R$ 23 milhões e abrange um trecho de quatro quilômetros entre a Av. das Torres e a Av. Fernando Correa da Costa. O segundo, estimado em R$ 10,8 milhões, terá 1.824 metros de extensão, interligando as avenidas Jurumirim e Juliano Costa Marques. No primeiro lote não haverá necessidade de desapropriações.