O ex-chefe do jogo do bicho em Mato Grosso João Arcanjo Ribeiro, o comendador, que passou os últimos anos preso em Campo Grande (MS), cumprindo pena por ter sido condenado em alguns crimes, está sendo julgado, desde a manhã, em Cuiabá, acusado de mandar matar o empresário Savio Brandão, que era dono do jornal Folha do Estado, há 11 anos. Já depuseram o delegado Luciano Inacio, que conduziu o inquérito, o ex-procurador da República Pedro Taques, que hoje é seandor, e um parente de Savio.
Arcanjo começou a depoir por volta das 14:50h, respondendo perguntes simples. Perguntado pelo juiz se cometeu o crime, Arcanjo se defende e diz que não mandou matar Sávio Brandão. “Não tenho as mãos sujas de sangue, não tenho crime”. O juiz afirma que ele é contraventor. Arcanjo responde que sim, era. “O senhor sabe quem matou Sávio Brandão?, pergunta o juiz Faleiros. Arcanjo responde: “Não, não sei, ele falava de mim, falava que eu era Al Capone, não existe Al Capone no Brasil, não me sentia atingido”.
O promotor João Augusto Veras Gadelha leu várias acusações contra o bicheiro. Arcanjo diz que ligação com a máfia siciliana, é ficção, coisa de cinema. “Nunca liguei para o Sávio, nem tinha o telefone dele, não me senti ofendido”, disse Arcanjo, em relação às notícias vinculadas pelo jornal Folha do Estado sobre suas ações.
Por que essa perseguição em cima do senhor? perguntou o promotor. Arcanjo respondeu: “Não sei. A inveja é um negócio muito duro, sou uma pessoa muito humilde. Quem vai admitir um ex-policial crescer na vida? Ninguém quer. Se eu fosse loiro, dos olhos azuis, seria diferente”, disse Arcanjo. “Deve ter outras coisas, mas não sei explicar”. “O que estou passando é ruim, mas aceito”.
O assistente de acusação Clóvis Sahione pergunta quanto tempo Arcanjo ficou preso. Ele respondeu que 10 anos, 6 meses e 14 dias. “O senhor não quis processar Sávio”, perguntou Sahione, quando das notícias publicadas no jornal Folha do Estado. Arcanjo reiteirou que não, porque nunca se ofendeu.
Arcanjo negou ter emprestado dinheiro para pagar salário de servidores do Estado e que o empréstimo feito à Assembleia Legislativa “não tinha nada a ver” com isso. “O empréstimo da Assembleia Legislativa era pessoal para eles. Não tem nada a ver com o governo”, disse.
O Interrogatório de Arcanjo foi encerrado às 15:29h. O comendador é retirado por vários policiais do banco dos réus e levado de volta para um lugar reservado dentro do fórum.
Neste momento, fala o promotor João Augusto Gadelha, que faz a acusação, expõe a dinâmica do crime com base nos autos. Descreve sobre a atuação de Ardocanjo no comando do poder paralelo em Mato Grosso, citado em relatórios da Abin e reprozuidos na imprensa nacional, enquanto no Estado somente a Folha do Estado estava dando espaço para o assunto, o que começou a incomodar Arcanjo. Diz que o delegado do caso e a Justiça fizeram a investigação correta. Chegando ao executor Hercules que confessou o crime, deu detalhes e apontou Arcanjo como mandante.
O promotor de acusação Augusto Gadelha continua descrevendo todo o processo de investigação que foi realizado para se chegar a Arcanjo como mandante. Também fala sobre o histórico criminal dos ex-PMs Hércules e Cílio Alves já condenados pela morte de Brandão. O promotor Gadelha, explica, utilizando uma lousa, vários assassinados ocorridos em Cuiabá em 2002. Todos estariam relacionados à João Arcanjo. “Todo mandante nega”, disse.
Ele apontou que a defesa do réu pretende criar factóides pois a única testemunha de defesa que prestou depoimento contou uma história solta, a do madeireiro que perdeu milhares de reais e contratou uma pessoa que por sua vez contratou outra para matar Brandão. “Ora, o assassino é o Hercules, existem provas, exames, ele confessou em detalhes. Isso está provado e não há o que questionar. Não tem pé nem cabeça o que essa mulher vei falar aqui”, narra o promotor sobre o depoimento da jornalista ex-funcionária do jornal de Sávio Brandão.
Segundo Gadelha, Sávio ousou desafiar o poder paralelo denunciando os crimes praticandos por Arcanjo e sua quadrilha e por isso pagou com a vida. Ele falou sobre os jornalistas mortos no Brasil e no mundo que só aumentam, quando denunciam grandes esquemas e grupos criminosos. “Esses crimes contra a imprensa repercutem internacionalmente”, ressalta Gadelha. “Aqui seria mais um crime impune se não fosse aqui a coragem de algumas pessoas. Temos que agradecer a pessoa de Pedro Taques e Julier [juiz federal], que foram as únicas pessoas a enfrentar João Arcanjo”, ressalta o promotor.
Disse que a parte mais importante, o motivo que alguém Arcanjo através de um acecla, policial militar, psicopata que está preso não foi dita pelo advogado de defesa.
Às 17h40 o advogado Zaid Arbid faz a sustentação oral do comendador. Diz que aprendeu a admirar e volorizar Arcanjo nesses oito anos de convivência como seu advogado, por sua fé, persistência e vontade de viver que diante das adversidades e acusações, não se dá por vencido. “Tentei buscar na mitologia grega e no folclore brasileiro e não encontrou nemhuma imagem igual a que foi construida nesse processo. No folclores se acha mula sem cabeça , mas aqui nesse processo tem uma cabeça sem corpo”. “Neste processo tem uma cabeça, mas falta o pescoço”, diz, referindo-se que no processo existe um executor, mas não existe um mandante, porque segundo ele, Arcanjo é inocente. Agora vem o MP dizer que a defesa negou insistiu, foi leviana em querer depois de 4 depoimentos de Hércules e Agostinho em arrolalos como testemunhas?, indignou ele respndendendo em seguida que essa foi a saída encontrada para ir em busca da verdade e enfrentar os argumentos do MP.
“Não intimei Hercules para ir no meu escritório e sim diante do juiz. Porque o MP não o trouxe aqui pra dizer? “O PM tem medo da verdade. E o que vamos dizer aqui é somente a verdade. Ele esqueceu de dizer que no primeriro Hercules disse que não sabia de nada. Digilencia espuria malvada, feita lá em Machadinho contra família de Hércules para que entregassem ele”, citou.
O advogado disse que Arcanjo está preso há 10 anos por armação, barganha negociata. Também acha que a família de Sávio merece a verdade. Ele trouxe outros elementos, mas o MP não quis ir em busca da verdade. Falou dos madereiros do nortão e dos presidiário do Ceará que ligavam na Folha do Estado. “A cabeça dele foi decaptada retirada dele no dia 2 de dezembro de 2002 quando a imprensa o condenou”, argumento ele. “Tudo é armação, tudo é encenação. O pescoço faltante é as faltas de provas contra o João Arcanjo Ribeiro”, sustenta a defesa.
Zaiad disse que foi preciso deixá-lo foragido em outro país devido a caçada injusta que foi iniciada. “Só existem delírios acusatórios. E mesmo assim atribuíram a paternidade do crime a ele [Arcanjo]”. Alega que a imprensa, vários veículos, jornais e TV condenaram Arcanjo lá atrás há 10 anos, mesmo sem provas. Depois disso, só precisava oficializar essa condenação, por isso, 9 meses depois judicializou o fato e criou-se um inquérito fantasioso e mentiroso.
O defensor garante que Hércules e Célio mentiram e foram acuados a fazer isso. Familiares de Hércules foram torturados em Machadinho (Rondônia) para entregarem ele à Polícia Civil. Disse que inquérito só foi instaurado em 3 de setembro de 2003, nove meses depois da morte de Brandão. O advogado sustenta que não existem provas que liguem Arcanjo a Hércules, Célio e Fernando Belo, todos já condenados.
(Atualizada às 18:36h)
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