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Cuiabá: 75% dos moradores de rua têm vínculos com drogas

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Trezentos e cinquenta, esse é o número de pessoas em situação de rua registrado só no ano passado pela Secretaria de assistência Social de Cuiabá junto ao Centro de Referência Especializado para População em Situação de Rua (POP). O fato que mais preocupa os órgãos responsáveis pela ajuda na retirada dessas pessoas das ruas é que nem todos os que dependem desse serviço vão atrás de ajuda, o que torna esse número ainda maior.

Segundo a Prefeitura, atualmente, os moradores de rua da capital contam com 4 casas de apoio para recolhimento, assistência e encaminhamento social. Destes, 2 albergues são da administração (Manoel Miráglia e Abordagem Solidária) e um da Prefeitura em parceria com a Pestalozzi. O Centro POP é um dos locais de referência para os moradores de rua, que apesar de ter capacidade para atendimento de 80 pessoas diariamente, sempre ultrapassa o limite, totalizando no final do mês cerca de 260 assistências.

De acordo com o coordenador do Centro POP, Edilson Rodrigues de Proença, levantamentos realizados nos anos de 2012, 2013 e início de 2014 pela Secretaria de Assistência Social do Município, apontam um aumento relevante no número de moradores de ruas.

De acordo com a pesquisa, 73% dos registros são de migrantes e imigrantes, principalmente representados por haitianos, 75% possuem vínculos com drogas ou álcool e 82% dos atendidos são do sexo masculino. Edilson explica que a ascensão de migrantes na capital se deu nestes últimos anos por conta de como a cidade acabou sendo intitulada nacionalmente, depois de ser escolhida como uma das cidades-sedes da Copa do Mundo. “Cuiabá passou a ser vista como um grande canteiro de obras, pronta a receber milhares de trabalhadores. Pelo menos é isso que boa parte dos moradores que atendemos aqui alega. Teve muita propaganda de vagas de emprego nas obras desenvolvidas aqui, mas para trabalhar é preciso de qualificação e muitos se esquecem disso e acabam vindo com a cara e a coragem, sem ter ao menos um lugar para ficar, o que acaba levando estas pessoas a se abrigarem embaixo de viadutos, pontes e em praças”.

Ex-usuária de drogas, Ingrid Simões da Silva, 28, é natural de Porto Velho, e há 7 meses mora nas ruas de Cuiabá. Ela conta como veio parar na capital. “Me casei com um cuiabano, por isso vim morar aqui. Nosso casamento durou 8 anos, mas, nos desentendemos e resolvi voltar para a minha terra natal. Ele foi preso e me ligava direto de dentro da cadeia, acabou me iludindo e eu voltei para tentar reatar. Na época trabalhava na casa da minha tia, vendi o que tinha e larguei tudo para trás, inclusive um filho que mês que vem completa 8 anos. Mas parecia que tudo estava conspirando contra a nossa união. Quando estava vindo para cá o ônibus quebrou e demorei quase 3 dias para chegar. Quando cheguei aqui descobri que meu ex-marido estava tendo caso com uma outra mulher, mas mesmo assim fui atrás dele, no meio do caminho fui atropelada e quebrei minha bacia, fiquei um mês no Pronto-Socorro, graças a Deus tive o acompanhamento do Centro que me ajudou muito, hoje ainda ando de muleta, mas os médicos já disseram que não precisará de cirurgia”.

Ingrid fica durante o dia no centro, mas quando o local fecha, ela volta para rua. Sua casa atualmente é a Praça da Boa Morte. É lá que ela conta que já passou por momentos felizes, mas na maioria das vezes aterrorizantes. “A rua não é boa, mas foi lá que conheci o meu atual companheiro, que hoje me ajuda e me acompanha em tudo. Mas na praça onde fico, já fui escorraçada, apanhei de policiais e até bomba já jogaram em mim, tenho a marca dela até hoje na perna. Não desejo isso para ninguém, mas também não reclamo. Eu que escolhi isso para a minha vida”.

Questionada se não pensa em retornar para a cidade de origem, Ingrid responde “meus tios já pediram para eu voltar, chegaram até a vir aqui atrás de mim, mas tenho vergonha. Eles já me deram a oportunidade de me tornar uma pessoa melhor, e eu larguei tudo sem nem ao menos dar satisfação para eles, fora que já criam meu filho, não quero ser mais uma preocupação na vida deles. Prefiro continuar por aqui. Em breve vou fazer um curso profissionalizante e espero ajeitar a minha vida”.

O Albergue Municipal Manuel Miráglia é outro local que presta assistência aos moradores de ruas. Segundo o monitor José Virgílio Queiroz das Neves atualmente o local não possui vagas para novos moradores. “Hoje estamos atendendo 49 homens e 11 mulheres, que é o limite máximo. Infelizmente não temos como atender mais que isso. Porém, o fluxo de hóspedes é muito grande, todo dia entra e sai gente daqui”.

Neves informa que a maioria dos atendidos é usuário de drogas e chega a agredir os monitores. “Noventa e oito por cento das pessoas que temos no albergue são viciadas em drogas ou em álcool. Fator esse, que nos expõe o tempo todo ao risco, pois já fomos agredidos muitas vezes aqui”. As pessoas que têm o albergue como casa, podem contar com 4 refeições por dia, quartos para dormir e banheiro para higienização pessoal. Lá existem pessoas que já moram há mais de ano e outras que não ficam sequer um dia. “Gente que realmente tem noção do que é viver na rua, dá muito valor a isso aqui, mas existem os que não conseguem enxergar a situação em que se encontram no contexto social, e entram e saem daqui como se a rua fosse um mundo encantado”.

A especialista em assistência social e professora Imar Domingos Queiroz, explica o que pode ter acarretado o aumento de pessoas nas ruas. “Nosso país não possui políticas públicas que dê para atender a nossa população, muito menos para atender imigrantes. Moradores de rua é uma questão histórica, desde sempre existiram, o problema é que os últimos acontecimentos seduziram muitas pessoas para o Brasil, em especial para as cidades-sedes da Copa, que fizeram a ‘falsa’ propaganda de que estaria sobrando vagas nos canteiros de obras, quando na verdade o que falta é a capacitação das pessoas que aqui moram. Se tivéssemos uma boa educação, não só o problema com as pessoas de rua seria resolvido, como muitos outros”.

A fim de reduzir o número de pessoas em situação de rua, a prefeitura informou que um 3º albergue será inaugurado ainda este ano no bairro Porto.

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