As cidades de Paranaíta e Alta Floresta, respectivamente localizadas a 900 e 820 km de Cuiabá, deram, esta semana, um importante passo no combate as queimadas no Estado de Mato Grosso. Ambas assinaram nos dias 19 e 20, Protocolos Municipais de Combate ao Fogo. O Protocolo é um documento onde todos os segmentos da sociedade definem seu papel frente ao problema das queimadas e fazem sua parte para minimizá-lo. O documento norteia a sociedade e indica que cada um tem um papel a cumprir no combate ao fogo, seja igreja, poder público, estudante, agricultor, madeireiro ou agente de saúde.
Além de autoridades locais, o evento contou com a participação do coordenador geral do Programa Fogo na Cooperação Italiana, órgão que financia o projeto, Roberto Bianchi, que veio conhecer in loco a realidade local a fim de fortalecer as ações da região junto a embaixada italiana, em Brasília.
Bianchi lembrou que este não foi só mais um Protocolo, mas a colheita de um resultado de seis anos do Programa Fogo. “A maior prova de que o trabalho vem dando certo é a diminuição de 65% de casos de internação por problemas respiratórios”, destacou. De acordo com ele, esta nova fase que vive o PF é o que vai nortear o futuro das cidades. Isso porque é a hora do diálogo com empresários, melhoria da qualidade de vida dos agricultores e como conseqüência a transformação das ações em políticas públicas.
A coordenadora do PF na região Norte, Marília Carnhelutti, lembrou que acabar com as queimadas é valorizar não só a qualidade de vida, mas também ajudar a fortalecer o turismo. “Alta Floresta tem um leque turístico muito grande por isso é preciso deixar de queimar lixo e causar fumaça desnecessária para continuar sendo acolhedora”, disse. Mas, segundo ela, como não é só proibindo e conscientizando que o problema acaba, o PF está indo numa linha de busca de alternativas sustentáveis incentivando a fruticultura, a agroindústria e a apicultura, entre outras, que estão despontando como caminhos futuros para o Norte de Mato Grosso.
Vendo estrelas – Uma coisa tão simples como ver as estrelas na época de seca, que seria impossível há três anos em Alta Floresta, foi lembrado como uma das vitórias da população através do PF pelo secretário de Agricultura do Município, Leocir José. Já a secretária de Educação, Cultura, Esporte e Lazer do município, Irene Duarte, disse que os pioneiros cometeram erros na colonização da cidade porque não sabiam como fazer. “Hoje as informações aos poucos vão se transformando em sabedoria e precisa ser utilizada”, concluiu.
Dentre os principais compromissos assumidos no Protocolo de Alta Floresta, assinado ontem, estavam: Prefeitura: Realizar e apoiar iniciativas para erradicação da queima de lixo na área urbana do Município; Preparar e executar campanhas educativas sobre procedimentos no manejo do lixo doméstico e dos resíduos produzidos nas atividades industriais e comerciais; Articular parcerias locais e externas visando o fortalecimento das campanhas de erradicação do fogo urbano; Envolver todas as áreas da administração nas campanhas anuais de conscientização. Agricultores: realizar ações de sensibilização junto aos seus filiados e produtores rurais sobre prevenção e combate ao fogo, com realizações de palestras e distribuição de panfletos informativos contendo as principais técnicas do uso racional do fogo, etc., bem como viabilizar recursos juntos aos órgãos governamentais e não governamentais para desenvolverem alternativas que visem o desenvolvimento sustentável de suas atividades.
Como surgiu o Programa Fogo
Fruto de uma iniciativa do Ministério das Relações Exteriores da Itália, por meio da Cooperação italiana e desenvolvido na região Norte de Mato Grosso pela organização não governamental Instituto Floresta de Pesquisa e Desenvolvimento Sustentável, o Programa Fogo vem sendo trabalhado também nos municípios de Carlinda, que assina seu Protocolo no próximo dia 28, e Matupá, Novo Mundo, Guarantã do Norte e Peixoto de Azevedo, que assinam o documento em agosto.
Com os Protocolos a região Norte vem conseguindo ao longo de seis anos, obter bons resultados quanto à sensibilização de toda a sociedade em relação ao uso indiscriminado do fogo. Um dos primeiros municípios a participar do projeto em Mato Grosso, Guarantã do Norte, em 1999, após assinar o Protocolo Municipal de Prevenção e Controle do Fogo, conseguiu derrubar seu número de queimadas de 641 focos de incêndio em 1999 para apenas 90 no ano de 2000. Com isso estimulou outros municípios a participarem do Programa.