Facção criminosa do Comando Vermelho (CV) desencadeia ações coordenadas e manda seu recado ao melhor estilo “Estado Islâmico”. Nos últimos 20 dias, usando as mídias sociais, o CV intensificou a propagação de mensagens e ordens para sociedade em geral, filmando execuções, torturas e repassando seus “salves” na Grande Cuiabá.
Para o sociólogo Naldson Ramos da Costa, este é o indicativo que as instituições do Estado estão perdendo espaço para o crime organizado, que impõem as suas regras à sociedade, ao fazer justiça com as próprias mãos. O vídeo mais brutal mostrou a decapitação de Douglas da Silva Dantas, 34, executado na madrugada de quarta-feira (9). Enquanto um criminoso cortava a cabeça com uma faca até separá-la do corpo, outro filmava a cena com o celular e um terceiro narrava os detalhes ao “doutor” (chefe), que havia encomendado o crime.
A esposa de Douglas chegou a receber fotos dele ainda vivo, mas amarrado, enviadas pelo mesmo grupo que fez o vídeo. Ele tinha passagens criminais e era investigado por envolvimento com o crime organizado, em ações de roubo a bancos. Na sexta-feira (4), a ex-presidiária Janieth Aparecida Felisbina Rodrigues, 32, foi torturada violentamente e executada a tiros, no Parque Paiaguás, em Várzea Grande. Ela também tinha ligação com membros de organizações.
Na madrugada do dia 24 de julho, detentos do raio 5 da Penitenciária Central do Estado (PCE), divulgaram por aplicativo de celular, o vídeo que mostra o enforcamento do preso Manoel dos Santos Neto, 32. Nele, os companheiros de cela afirmam que Manoel foi morto pelo CV, pelo fato de integrar a facção rival, o Primeiro Comando da Capital (PCC). O corpo foi descoberto depois que agentes prisionais de plantão receberam o vídeo.
Menos de 24 horas após divulgação do vídeo da decapitação de Douglas, dois novos vídeos de “salves”, onde membros do CV espancavam vítimas que desobedeceram as “ordens”, passaram a circular pelo whatsapp. Outro grande “salve”, que aponta para restrições na atuação dos criminosos, que já havia circulado há mais de seis meses, foi reditado, com a data de 9 de agosto e voltou a ser propagado.
Com suas próprias regras e leis, tanto o Comando Vermelho (CV) como o Primeiro Comando da Capital (PCC), se impõem, dentro e fora das unidades prisionais, onde nasceram a partir da década de 70. Mas hoje as ações que eram restritas ao mundo do crime, impactam em toda sociedade, que acaba reféns de suas ordens.
Segundo o sociólogo Naldson Ramos da Costa, hoje não há como um detento ficar neutro ao entrar em uma unidade prisional. Mesmo sendo primário, imediatamente é coptado pela facção dominante. Pode escolher ser um “irmão”, colaborador ou pagar pela sobrevivência, mesmo não concordando. Com isso, toda família dele que está do lado de fora precisa se empenhar e “pagar” para que a vida dele seja preservada. Nos dois casos, desrespeito as regras pode significar a morte.
Ordens são claras nos “salves”, que inclusive afetam quem está fora da prisão. Em um deles, o “Salve Geral do CV” indica os bairros que estão sob seu comando e os locais que não podem ser roubados ou a modalidade de crimes autorizados. Nestes recados fica claro que pequenos comerciantes hoje são obrigados a pagar pela segurança ao crime organizado, para não serem vítimas.
Enquanto isso, os grupos continuam mantendo suas estruturas, mesmo dentro das prisões, onde com acesso a celulares e informações privilegiadas determinam as ordens de quem deve viver ou morrer, assegura Naldson Ramos.
Outro lado – Por meio de nota, a Secretaria de Estado de Segurança Pública (Sesp) informou que apura -por meio do sistema de inteligência – se realmente os crimes foram cometidos por faccionados ou por criminosos que não tem relação e se dizem membros de facção. A Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) já apura as mortes e investiga se há ou não conexão com facções.