As últimas chuvas que caíram na Grande Cuiabá voltaram a invadir as casas dos moradores nos bairros Cidade de Deus e Jardim Eldorado, em Várzea Grande. Além de terem contribuído com o acúmulo de lixo em córregos de Cuiabá, a exemplo do Gumitá, no bairro Tancredo Neves. A Defesa Civil alerta para chuvas fortes no final de semana em Mato Grosso. No interior, houve inundações no município de Tangará da Serra, onde várias famílias tiveram que sair de suas casas às pressas na manhã de ontem.
Os moradores prejudicados pelas enchentes em Várzea Grande disseram ter ido a prefeitura Municipal, Secretaria de Obras e Departamento de Água e Esgoto (DAE) e exigido providências. Ás 18h de hoje, eles vão fazer uma reunião para tomar outras providências. As famílias também reclamam de outros problemas que passaram a ocorrer a partir da enchente. “Depois que as ruas ficaram alagadas, o caminhão de lixo não passou mais aqui no bairro. Os sacos de lixo estão se juntando com a lama e as nossas condições de sobrevivência ficam cada dia mais degradantes. E, ainda, representantes da secretaria de obras dizem que vivemos aqui de forma irregular. Eu tenho a escritura que prova que eu e meu marido compramos este terreno. E, ainda, os comprovantes de pagamentos de impostos. A prefeitura é que não está fazendo a parte dela, pois abandonou as pessoas desse bairro”, desabafa a dona-de-casa, Silbene Victor, que mora no Jardim Eldorado há 10 anos.
Fernando Pereira de Souza, 63, que trabalha com reciclagem e mora no Eldorado há 14 anos, se diz revoltado em função das promessas não cumpridas. Segundo ele, este ano várias pessoas estiveram no bairro e prometeram providências, mas nada fizeram. O quintal e a casa de madeira onde mora estão praticamente tomados pela água. “Não é justo que uma pessoa na minha idade tenha que atravessar essa lama para entrar dentro de casa. Esse descaso por parte da administração pública é um desrespeito para nós. Depois que tudo alagou aqui, eu e outros moradores já fomos em vários órgãos públicos, mas não fomos recebidos por ninguém”.
Um outro morador, Davi Lima dos Santos, 26, aponta problemas na segurança pública na região. “O carro da polícia não faz mais rondas por aqui. Agora, além de termos que descer do ônibus no período da noite, vindos do trabalho, e sermos obrigados a desviar da lama, ainda corremos risco de assaltos”.
Davi mora há 5 anos no bairro Cidade de Deus com a esposa e dois filhos pequenos. Ele trabalha como empilhador em uma indústria de bebidas de Várzea Grande. Seu quintal e a área da casa foram invadidos pela água.
Cuiabá – A chuva que caiu na madrugada e manhã de ontem encheu parcialmente alguns córregos de Cuiabá por um certo tempo e resultou no acúmulo de lixo nas encostas deles. Um exemplo foi no bairro Tancredo Neves, próximo da ponte da rua Rosário Oeste. No local, o excesso de lixo jogado pelos próprios moradores está atrapalhando o fluxo normal da água. Porém, as pessoas que vivem no lugar não temem enchentes. “Eu moro há 18 anos aqui e nunca tive minha casa invadida pela água, felizmente. Mas acho uma falta de respeito as próprias pessoas que moram no bairro jogarem sacos de lixo no córrego”, critica Roberto Carlos de Oliveira, 35, que mora na casa 4, na Rosário Oeste, exatamente ao lado da ponte.
O mesmo diz a aposentada Maria Vilma da Silva, 54, moradora da rua Jangada, casa 2, quadra 26. O córrego passa nos fundos do quintal da residência dela. “Nesses sete anos que moro aqui, nunca tive minha casa invadida pela água da chuva, mas não gosto de ver as pessoas sujando o córrego”.
Interior – Uma chuva forte, de aproximadamente duas horas, que caiu na manhã de ontem em Tangará da Serra (239 km a médio-norte de Cuiabá) inundou residências localizadas na região central e nos bairros San Diego, Jardim Rio Preto, Jardim Planalto e Vila Horizonte.
Algumas famílias tiverem que ser retiradas pelos bombeiros de suas casas. No Jardim Rio Preto, um motoqueiro foi arrastado pelo correnteza quando tentava atravessar a rua. Ele machucou a perna e foi socorrido. No início da tarde, a água começou a baixar e as famílias retornaram para suas casas.
Outro lado – De acordo com o coordenador adjunto da Defesa Civil Municipal, José Pedro Zanetti, os técnicos da pasta estão de prontidão para qualquer eventualidade na Capital. Segundo ele, até o momento não houve nenhuma ocorrência de transbordamento em nenhum dos 22 córregos que cortam o município. “Estamos todos atentos, eu estou monitorando pessoalmente para saber se eventualmente houve algo, para agirmos rápido. Mas, felizmente, a chuva que caiu até o momento foi leve e não casou estragos”.
José Pedro Zanetti disse que o município tem limpado os córregos constantemente, mas algumas pessoas insistem em jogar lixos.
Várzea Grande – O secretário municipal de Obras de Várzea Grande, Waldisnei Moreno Costa, disse que o problema das famílias que moram nos bairros Cidade de Deus e Jardim Eldorado será resolvido de forma paliativa e ainda será estudado que providências serão tomadas. “Na segunda-feira, se não estiver chovendo, vamos mandar máquinas para lá e caminhões com cascalho. Só não enviamos ontem porque a chuva impediria o trabalho”.
Ele disse que as escrituras das casas de pessoas que estão em locais irregulares têm que ser avaliadas, pois há regiões de ambos os bairros condenadas.