A campanha internacional Coração Azul reuniu diversas autoridades em uma universidade de Várzea Grande, ontem à noite, para debater o problema do tráfico de pessoas. A ação, que segue até o dia 8 de agosto, com um encontro em Paranaíta, é realizada em Mato Grosso há três anos pelo Comitê de Prevenção e Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas (Cetrap), órgão vinculado a Secretaria de Justiça e Direitos Humanos (Sejudh).
Na abertura do evento, o titular da Sejudh, Márcio Frederico de Oliveira Dorilêo, disse que é essencial refletir sobre a importância do fortalecimento da cidadania participativa. “Historicamente a humanidade enfrenta conflitos no campo social-econômico e político, e isto é reflexo de crise de representação política, daí a necessidade da sociedade se unir e fortalecer a democracia através da cidadania participativa. O Cetrap desenvolve um trabalho relevante, e eu gostaria de parabenizar os envolvidos por levar à sociedade informações sobre este tema”.
Dorilêo lembrou que o governo tem atuado em várias frentes para enfrentar problemas como o tráfico, e citou a visita do cantor e compositor Lenine, que veio a Mato Grosso apadrinhar o projeto “Invisíveis”, que utiliza audiovisual para conscientizar a sociedade sobre a escravidão na modernidade, sobre condutas relacionadas a exploração de pessoas que são invisíveis aos olhos da sociedade. “Devemos enfrentar a interferência na liberdade de escolha dos cidadãos, e este é um tema muito pertinente, pois existe uma população que passa despercebida, e o problema enfrentado por essa parcela da população afeta a todos nós. Tenho certeza que sairemos daqui multiplicadores e formadores de opinião, ajudando assim, de forma significativa, a sociedade”.
Convidado especial do evento, o juiz de direito do Tribunal de Justiça de Goiás e membro do Comitê Gestor de Enfrentamento ao Tráfico de Seres Humanos do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), Rinaldo Aparecido Barros avaliou que a campanha, lançada no Brasil em 2013, tem a finalidade de conscientizar a população brasileira para esse crime. “Dentro dos quatro eixos de atuação do tráfico de pessoas estão a prevenção, a persecução penal, a proteção a vítima e a parceria entre as instituições. É evidente que a parceria é vital para o enfrentamento ao tráfico. Eu sempre digo: o crime já está organizado e a sociedade civil e as instituições ainda estão desorganizadas. Então é urgente deixarmos de lado as vaidades. Se os nossos irmãos estão sendo vítimas o nosso futuro está em risco. Este não é um problema de um órgão, é um problema da sociedade”.
A coordenadora do Cetrap, Dulce Regina Amorim, destacou que campanha internacional de enfrentamento ao tráfico de pessoas tem que ser abraçada por toda a sociedade. “Buscamos aqui um aprofundamento sobre o assunto, que saíamos daqui capacitados para prevenir e combater esse crime grave”.
A secretária de Assistência Social de Várzea Grande, Kathe Maria Martins, parabenizou o trabalho desenvolvido pela coordenadora do Cetrap, Dulce Amorim, e pela Sejudh. “Em Várzea Grande temos procurado um trabalho focado na informação e prevenção, na formação de nossas crianças e jovens e no fortalecimento de vínculos entre as famílias. Eu penso que a importância dessa campanha, porque quando falamos em tráfico de pessoas parece algo muito distante da nossa realidade, e essa campanha vem pra trazer esclarecimento, a divulgação, para que as famílias possam detectar esse problema”.
O superintendente da Polícia Rodoviária Federal (PRF), Arthur Nogueira, observou que o assunto é de extrema sensibilidade. “Tratar o tema como um problema apenas de polícia é tapar o sol com a peneira, porque nos temos que trabalhar a conscientização de toda a sociedade, mostrar que todos estão, de alguma forma, envolvidos. Essa palavra, conscientização, tem que existir em várias relações institucionais. A PRF, por exemplo, deve levar a segurança ao trânsito de todo território nacional, e nisso se inclui o trabalho de levar informações para as pessoas”.
A presidente do Conselho Estadual dos Direitos da Criança e do Adolescente (Cedca), Annelyse Cândido, ressaltou que o evento é importante porque grande parte do público que é vítima dessa prática, infelizmente, é formada por crianças e adolescentes. “Hoje Mato Grosso tem 60% de suas crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade biopsicossocial, isso quer dizer que o tráfico quando acontece, principalmente para exploração sexual infantil, se apresenta como uma tentativa de melhoria de vida dessas crianças, apresenta-se como uma plataforma de inserção numa outra condição social, e não é isso que acontece; o que ocorre é que eles sendo enviados, quando não para a exploração sexual infantil, para adoção ilegal e tráfico de órgãos”.
O secretário adjunto de Direitos Humanos da Sejudh, Zilbo Bertoli Júnior, lembrou que o Cetrap, com muito empenho, trabalha para levar essa campanha para o interior do estado. “O trabalho aqui no estado é muito difícil, estamos há três anos lutando para levar essa conscientização para a população, e este é um tema que tem que ser levado ao conhecimento da população, sim, para que ela saiba como evitar a prática, seja através de denúncia ou da conscientização de familiares”.