Segundo reportagem do jornal Folha de S.Paulo, a análise da caixa-preta do jato Legacy, sob a responsabilidade do Centro Nacional de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos, revela que a torre de controle de vôos de São José dos Campos (SP) autorizou os pilotos Joe Lepore e Jean Paladino a voar a 37 mil pés de altitude.
De acordo com os diálogos revelados pelo jornal, os controladores autorizaram o avião a manter a altitude até o destino final, em Manaus, enquanto o plano de vôo previa a descida do Legacy para 36 mil pés quando sobrevoasse Brasília e subida para 38 mil pés a partir do ponto Teres (localizado a 480 km de Brasília), até a capital amazonense. Com a orientação errada, o jato teria se mantido todo o tempo a 37 mil pés e entrado em rota de colisão com o Boeing da Gol, que caiu após bater no Legacy, matando todos seus 154 ocupantes.
Ontem, o delegado da Polícia Federal (PF) Renato Sayão, responsável pelas investigações sobre o acidente em Cuiabá, no Mato Grosso, declarou que a corporação e a Aeronáutica já sabem o que aconteceu no espaço aéreo no momento da colisão, com base na análise da caixa-preta. Porém disse que não se pronunciaria a respeito por uma questão de “segurança nacional”.
Atualmente, os controladores de tráfego aéreo estão reduzindo o número de aeronaves monitoradas, alegando excesso de trabalho, falta de pessoal e ameaça à segurança dos passageiros. A “operação padrão”, que teria sido desencadeada pelo acidente da Gol, causa há cerca de uma semana atrasos e cancelamentos de vôos nos principais aeroportos do País.
Diálogo
No diálogo entre Lepore e a torre de São José dos Campos, o piloto pede autorização para decolar, durante o procedimento chamado de “clearance”. A torre dá a autorização e diz, claramente, que Lepore deve subir para 37 mil pés “até o aeroporto Eduardo Gomes”, de Manaus. A conversa reforça a versão dos advogados dos pilotos, segundo os quais Lepore e Paladino estavam autorizados a voar a 37 mil pés durante todo o trajeto, apesar de o Legacy, com isso, ter entrado na “contramão” do Boeing no trecho Brasília-Manaus.
De acordo com as investigações, Lepore entrou em contato com o Cindacta-1, de Brasília, para informar sua altitude, como recomenda o procedimento. Nesse momento, o suposto erro dos controladores de São José dos Campos poderia ser corrigido.
O controlador de Brasília pediu que o piloto acionasse então o botão do transponder (que identifica a aeronave) no radar e desejou boa viagem. O transponder não teria funcionado, e os controladores afirmam que tentaram sem sucesso entrar em contato com o Legacy. Os pilotos afirmam que também buscaram fazer contato, mas não conseguiram. Com isso, decidiram seguir a orientação da torre de São José dos Campos – segundo seus advogados e a proprietária do Legacy, a americana ExcelAire.
A Aeronáutica diz que o piloto do Legacy errou, ao não acionar um código de emergência que teria registrado a perda de comunicação. Já a defesa de Lepore e Paladino acusa o Cindacta-1 de também errar, por não tê-los alertado de que o Boeing trafegava em rota de colisão. Por sua vez, a Aeronáutica e o Cindacta-1 afirmam que, devido ao problema do transponder, não tinha como identificar com precisão a altitude do Legacy.