De todos os pontos turísticos de Chapada dos Guimarães (67 km ao norte de Cuiabá) 2 chamam a atenção pelos atrativos opostos que oferecem. Enquanto a beleza da grande queda d"água do Véu de Noiva impressiona, a obscuridade do Portão do Inferno também interessa muitas pessoas curiosas por suas histórias de mistério e mortes. Famosos por serem belas formações geológicas, tanto um quanto o outro não estão totalmente abertos ao público. Assim como a maioria das paisagens de Chapada, o Portão do Inferno e o Véu de Noiva tiveram que ter suas visitações restritas devido à degradação natural e àquela causada por um turismo desorganizado ocorrido ao longo do anos.
O primeiro fechamento do Véu de Noiva aconteceu em 2008, após o desmoronamento de um dos lados da cachoeira que causou a morte de uma garota de 17 anos de idade, além de ter deixado feridas outras 20 pessoas. Na época, o local era administrado pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e teve que ser totalmente interditado. Depois de anos gerenciado pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), o Véu foi transferido para o ICMBio, responsável pelas Unidades de Conservação (UC) do país.
Depois de formulado um novo plano de manejo com normas e diretrizes determinando seu funcionamento, o Véu de Noiva foi reaberto, parcialmente, em 2009. Desde então, a entrada e saída no local passaram a ter horários, assim como algumas trilhas foram proibidas. Hoje, só existe uma que dá acesso a um dos lados da cachoeira. Entrar na água já não é mais permitido.
Acompanhado de Davi, 4, o catarinense Jairo Hunoff, 51, diz não entender porque fecharam "quase tudo" da Chapada. Em visita ao Véu de Noiva pela segunda vez ele não pode entrar na cachoeira, como fez da primeira vez que conheceu o local. Jairo conta que o garoto reclamou com o pai de ter que ficar tão distante da água.
"Eu vim a Chapada nos anos 90 e conheci os melhores pontos turísticos da cidade. Naquela época, pude tomar banho nas cachoeiras, na Salgadeira, tinha um restaurante perto do Portão do Inferno, tinha algumas trilhas para fazer. Agora, tenho 2 dias para ficar e não sei o que aproveitar".
Moradora do Véu há 30 anos, Ivonete do Carmo, é dona do único restaurante da região, que aliás, corre o risco de ser retirado pela Justiça. Ela diz que nos últimos anos, desde que o Parque passou a ser administrado pelo ICMBio, o acesso ao local ficou cada vez mais difícil. Por conta disso, o movimento em seu restaurante caiu até 95%.
"Estão tratando o Parque de forma ecológica, esquecendo de seu potencial turístico. Com a maioria dos pontos fechados e o Véu de Noiva que é um dos cartões postais de Chapada, com a visitação restrita, resta pouca coisa para o turista fazer".
MISTÉRIO- O limite entre Cuiabá e Chapada é marcado por uma curva estreita, sinuosa e perigosa. É lá que fica o Portão do Inferno, um canyon de aproximadamente 50 metros de altura, palco de várias lendas e mitos. O nome tem origens distintas, uma delas é relacionada ao período medieval em que tudo o que apontava para baixo era considerado "obra do diabo", logo o lugar teria ganho o nome de inferno por simbolizar uma das casas do demônio.
Outra se refere à época da ditadura militar, em que presos e procurados políticos eram jogados no penhasco, muitas vezes, vivos. Com o tempo, o Portão teve esse nome fortalecido também pelas dezenas de acidentes automobilísticos ocorridos naquele trecho, que já levaram à morte de muitas pessoas.
O local é de responsabilidade do ICMBio e desde 2011 não possui mais a famosa pamonharia, frequentada pelos turistas que visitavam o penhasco. Placas orientam quanto à proibição de acessar a área, assim como a interdição total para qualquer outro tipo de atividade.
Para a psicóloga Helen Capistrano, a curiosidade das pessoas em visitar um lugar onde várias outras morreram vítimas de acidentes pode ser explicada como mais um dos elementos místicos de Chapada. Segundo ela, apesar do nome e histórias relacionadas a coisas ruins e pesadas, o Portão do Inferno poderia ser utilizado de forma mais positiva.
"Acredito que esse ‘fantasma" criado em torno do Portão deve ser desconstruído. As pessoas poderiam ir até lá para apreciar a natureza, as espécies animais que ali habitam e não para estar em um local marcado por mortes e acidentes".
Além do fechamento do restaurante, a Justiça determinou também a demolição das construções existentes próximas ao Portão. Na época, um estudo elaborado por geólogos da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) apontavam que o local corria sérios riscos de desabamento.