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Arcanjo nega que que mandou matar empresário em Cuiabá

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A defesa de João Arcanjo Ribeiro aproveitou o depoimento do réu no segundo tribunal do júri que enfrenta para que o ex-comendador fizesse um relato de sua vida. Afirmando não ter motivos para mandar matar Rivelino Jacques Brunini, ocasião em que também foi morto Fauze Rachid Jaude e ferido Gisleno Fernandes, crimes pelos quais responde nesse momento, pois conhecia a primeira vítima desde a infância, o ex-comendador falou como começou seus negócios em Mato Grosso. Negou ter envolvimento com as máquinas caça-níqueis e reafirmou ter sido o líder do jogo do bicho no Estado, chegando a empregar quatro mil pessoas. O júri popular foi suspenso ontem às 21h18 após Arcanjo depor e será retomado na manhã de hoje. A sentença deve ser lida no período da tarde.

O advogado de defesa, Paulo Fabrinny, afirmou que existe “um mito” criado pela imprensa sobre a figura do Comendador, que nunca chegou a existir e pediu para o réu contar um pouco da sua trajetória no Estado. Ele contou que começou como segurança. Em seguida, comprou um táxi para arrendar e passou a lucrar com o aluguel, trabalho de segurança e policial. No começo, teve dificuldade em alugar o primeiro táxi, mas depois ficou mais fácil.

A entrada no jogo do bicho ocorreu em parceria com pessoas do Paraná, incluindo nomes conhecidos da comunicação local e alguns envolvidos de Campo Grande. Comprou a parte dos campo-grandenses à prestação e assumiu totalmente o jogo do bicho em 1993. Arcanjo contou que fazia complementação de renda dos representantes das bancas, que tinham baixa renda e presenteava todos os funcionários, amigos e várias instituições públicas e privadas com cestas de Natal. Disse nunca ter praticado extorsão, porém relatou a frequência de casos em que seu nome era usado indevidamente, contando o caso do sequestro de Dante de Oliveira e um primo, que foi atribuído ao comendador, com anúncio até mesmo em rádios. Depois, ficou provado que não havia relação qualquer relação dele com o fato. Outros casos também foram mencionados pelo réu, em que ele era acusado “injustamente”.

Entre as situações, contou a morte dos trabalhadores assassinados na Fazenda São João, que estava alugada. Vários outros casos da mesma natureza, em que o nome Arcanjo era usado “indevidamente”, foram relatados pelo ex-comendador.

A forma como trabalhava e geria as empresas de sua responsabilidade também foram abordados, momento em que demonstrou alegria ao contar da época em que comandava o jogo do bicho, Estância 21, factorings, rádios, entre outras empresas. Disse que não mantinha negócios não rentáveis. Porém, embora tenha perdido recursos com as factorings, voltou ao ramo de atuação ao encontrar a pessoa certa: Nilson Teixeira. Em 2002, contava com cinco factorings. Questionado porque mantinha o jogo do bicho já que tinha outros empreendimentos rentáveis, Arcanjo disse que empregava quatro mil funcionários, um número muito alto para fechar.

Sobre os outros casos em que figura como acusado, o advogado pediu que relatasse e garantiu não ter problema algum com as vítimas, citando que Mauro Manhoso trabalhava para ele e não teria porque mandar matar um funcionário. Quanto ao assassinato de Rivelino, voltou a frisar que não tem noção do que ocorreu. Além de não ter porque fazer algo contra a vítima que conhecia desde criança.

Convites – Arcanjo revelou que foi convidado algumas vezes para participar do trabalho com caça-níqueis, mas não se interessou e a atuação ficou sob a responsabilidade de Rivelino e sargento Jesus de Freitas. Quanto ao esquema, o acusado disse que soube que seu nome era usado pelos exploradores e chegou a conversar com Jesus para que não fizesse isso.

Garantiu à magistrada Mônica Catarina Perri Siqueira que conheceu Julio Bachs, quando este ofereceu a ele a possibilidade da exploração das máquinas, mas não houve interesse. Negou ter o apelido de “papai do céu” de Julio ou de qualquer outra pessoa.

Pontuou que os cariocas não queriam autorização, mas sim parceira para o esquema. Porém, ele não tinha tempo para isso e não queria “esse tipo de problema”, porque tinha conhecimento do que ocorreria em outros estados onde havia as máquinas.

Segundo Arcanjo, ele e o coronel Francisco Lepeuster eram amigos, porém nunca tiveram acordos comerciais. Lepeuster fazia cobrança, mas não prestava este tipo de serviço para Arcanjo.

A reunião realizada na Real Factoring para retirar Rivelino do esquema era de conhecimento de Arcanjo, que afirmou ter sido procurado por Rivelino para que ele intercedesse perante os cariocas, porém, não quis se envolver.

Tratou como fantasia a história em que ele havia se aborrecido ao tomar conhecimento de que Jesus permitiu que Rivelino colocasse as máquinas em Várzea Grande.

O promotor Vinicius Gahyva questionou o réu se ele responde outros processos de homicídio e Arcanjo confirmou que sim, justificando não ter qualquer envolvimento com os casos em que é acusado. Ele mencionou o caso dos adolescentes encontrados mortos em Várzea Grande e de Mauro Sérgio Manhoso.

Ao ser questionado pelo MPE se havia mais algum, Arcanjo perguntou se o promotor achava pouco e comentou ainda que não existia nenhuma testemunha dos casos, incluindo a morte de Domingo Sávio Brandão, que resultou em condenação de 19 anos do réu em outubro de 2013.

Outros nomes citados como envolvidos com o esquema de Arcanjo, a exemplo de Luis Dondo e João Leite, também foram lembrados pela promotoria, assim como a marca JAR e Colibri. Um inquérito instaurado em 1994 foi trazido pelo promotor, que citou fala de Arcanjo que garantia ser o responsável pelas explorações em Mato Grosso. Ele justificou que na época ajudou a Santa Casa e por isso vinculou o nome à Quina Quentinha, mas depois entregou o material à Polícia Federal. “Doutor, escrever é fácil. Provar é outra coisa”, afirmou o réu ao ser questionado o porquê das acusações contra ele no processo. O promotor perguntou a Arcanjo se ele havia tomado conhecimento de outros crimes de mando após a morte de Sávio Brandão, que resultou na desarticulação do grupo comandado pelo réu. Confuso, ele respondeu que não.

Testemunhas – O depoimento da irmã de Rivelino Jacques Brunini, Raquel Spadoni Jacques Brunini, abriu a sessão do júri e durou mais de três horas. Ela foi ouvida na condição de informante, apesar de ter sido arrolada como testemunha de acusação e também de defesa.

Logo que sentou diante dos sete jurados, pediu que fosse ouvida sem a presença de Arcanjo, por se sentir coagida e “apavorada” por estar frente à frente ao acusado. Raquel contou o que sabia sobre o funcionamento da organização criminosa que explorava máquinas caça-níqueis em Mato Grosso. Defendeu que o irmão foi morto porque “sabia demais e falava demais” e estava cada vez mais ganancioso para faturar mais dinheiro com os jogos eletrônicos ilegais. Para ela, Arcanjo encomendou a morte de Rivelino Brunini depois que algumas máquinas controladas pelo ex-comendador foram roubadas por seus próprios homens. De acordo com ela, os primeiros roubos foram praticados pelo sargento José Jesus de Freitas, assassinado dois meses antes de Rivelino.

A morte do sargento Jesus também foi repetidamente ressaltada por Raquel, pois os dois eram amigos no começo dos negócios, mas haviam tido um desentendimento e muitas pessoas suspeitavam que Rivelino teria sido o mandante do homicídio do militar. “No começo, todos eram amigos e comiam no mesmo prato. Depois, começaram as desavenças por dinheiro, ganância”.

No depoimento, Raquel explicou que Rivelino trouxe do Rio de Janeiro mil máquinas caça-níqueis para Cuiabá e que cada aparelho faturava em média entre R$ 500 e R$ 1 mil por semana. O preço para receber a “concessão” de Arcanjo para explorar a atividade criminosa em uma determinada região da cidade era R$ 200 mensais por máquina.

Raquel relatou que ajudava o irmão na contabilidade de sua empresa, a Mundial Games. Por acompanhar Rivelino em várias transações, pagamentos e negócios, seu depoimento foi considerado o mais minucioso e longo para esclarecer a morte do radialista. À época do homicídio, Raquel disse que o irmão tinha um mandado de prisão em aberto e não tinha como se defender, pois estava devendo o advogado e havia adquirido muitas outras dívidas com propina para “calar a boca” de juízes, delegados e policiais. “Ele dizia para quem quisesse ouvir que se fosse preso e perdesse a guarda dos filhos, entregaria todo mundo”.

O advogado Paulo Fabrinny questionou a informante quanto à possibilidade dos bicheiros do Rio de Janeiro terem sido os mandantes do assassinato de Brunini, mas Raquel afirmou que o irmão não tinha nenhuma rivalidade com os cariocas e que tudo que diziam a respeito da rixa não passava de boatos.

Entre as testemunhas de acusação foi ouvido o autônomo Ronaldo Laurindo, 44. Ele ficou preso com o uruguaio Julio Bachs Mayada na Polinter. Durante o período em que permaneceram juntos, Julio contou à testemunha que existia uma fita gravada em que Rivelino dizia que mataria o uruguaio e o sargento Jesus. E, por isso, acabaria com a vida de Rivelino. Prometeu ainda a Laurindo levar um jornal para provar a morte de Rivelino e assim o fez. Ocasião em que disse ter dado suporte, juntamente com Lepeuster, para fuga dos dois pistoleiros, Hércules e Célio. Contou ainda que Arcanjo estava junto na empreitada, a quem Julio chamava de “papai do céu”. A intenção de morte era motivada pela disputa das máquinas caça-níqueis.

O motorista de Rivelino, Sandro Tadeu Constantino, arrolado como testemunha de defesa de Arcanjo, contou que prestou serviço por 20 anos para a vítima. Não soube precisar sobre os negócios, embora vivesse com Rivelino com frequência. Relatou que o empresário explorava as máquinas caça-níqueis em Cuiabá e Várzea Grande. Relembrou um desentendimento entre Rivelino e Lepeuster em um galpão, envolvendo os equipamentos.

Questionado se havia levado a vítima para conversar com Arcanjo, ele relatou que somente uma vez e nunca ouviu Rivelino comentar que era ameaçado. Pontuou que no dia da morte do radialista ele não estava junto porque precisou participar de uma audiência junto com a esposa.

O policial militar Jorge Luiz da Silva, também testemunha arrolada pela defesa, trabalhou para Rivelino até 2001, como segurança. Soube que a vítima mexia com as máquinas, após um desentendimento entre Rivelino e Jesus em que ocorreram ameaças entre os dois. Nunca soube de ameaças sofridas pelo ex-radialista, a quem acompanhava para a casa em Chapada dos Guimarães e ao barracão. Nunca levou Rivelino para encontros com Arcanjo, ou soube de qualquer relação entre os envolvidos.

Deixou de prestar serviço para Rivelino depois que ele perdeu o espaço de exploração em Cuiabá e Várzea Grande, sob alegação de que não teria mais condições de pagar os serviços de segurança. Mencionou a existência de reuniões entre Rivelino, Lepeuster e quatro cariocas, que seriam os donos dos equipamentos. Paulo Fabrinny questionou a testemunha se Rivelino tinha medo de Arcanjo e a resposta foi negativa.

A promotoria questionou sobre um chamado de Rivelino em que o policial teve que ir ate o barracão no período da noite. Na época, Jorge Luiz chegou ao local e viu que não existiam problemas e com isso foi embora. Soube no dia seguinte, pelo outro segurança, que Julio Bachs e Lepeuster estiveram no local.

O policial militar da reserva, Rutembergue Ferreira do Carmo, 58, foi a última testemunha a prestar depoimento. Ele prestou serviço de segurança para o barracão de Rivelino, onde ficavam os caça-níqueis. Inicialmente, acreditavam que os equipamentos eram de Rivelino, mas souberam depois que eram dos cariocas.

Pontuou que em toda Capital, Várzea Grande e Baixada Cuiabana, Rivelino coordenava a exploração a mando dos cariocas. A atividade envolvia muitas pessoas. Recordou o incidente do barracão, episódio mencionado por todas as testemunhas, em que recebeu uma ligação de Lepeuster alegando que tinha ordem para entrar no barracão ainda no período da noite para retirar as máquinas. Lepeuster garantiu que Rivelino havia rompido com os cariocas e precisavam dos equipamentos.

Sobre a reunião na Real Factoring depois da confusão no barracão, Rivelino contou para a testemunha que os cariocas acreditavam que eram furtados pelo ex-radialista e por isso queriam ele fora da exploração em Cuiabá e Várzea Grande. A partir daí, ele foi para Chapada ocupar o espaço da cidade do interior.

Rivelino nunca comentou sobre ameaças, mas Rutembergue alertou que pediu à vítima que tomasse cuidado porque os cariocas eram perigosos e queriam tomar conta do mercado local, sendo que alguns chegaram a fixar residência na Capital mato-grossense. “Mato Grosso naquele período virou um problema sério. Veio gente de tudo quanto é lugar e terminou ocorrendo tudo isso”, mencionou a testemunha após ser questionada sobre como funcionava o esquema das máquinas.  

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