Após dois dias de julgamento no Fórum de Cuiabá, o ex-bicheiro João Arcanjo Ribeiro foi condenado por duplo homicídio de Rivelino Jacques Brunini e Fauze Rachid Jaudy e tentativa de homicídio contra Gisleno Fernandes, todos em 5 de julho de 2002. Preso há 12 anos, somando todas as condenações Arcanjo chega a 88 anos de prisão em regime fechado.
Esta foi a segunda vez que Arcanjo enfrentou o tribunal do júri. O primeiro ocorreu em outubro de 2013, quando foi condenado a 19 anos pelo assassinato do jornalista e empresário Domingos Sávio Brandão.
O promotor de Justiça, Vinícius Ghayva, afirma que a justiça foi feita com a condenação de Arcanjo. “Os jurados entenderam a mensagem do Ministério Público e da sociedade. Hoje não podemos mais tolerar um ambiente limpo para o crime organizado.”
O advogado de defesa Paulo Fabrinny disse que a decisão foi injusta e que Arcanjo estava confiante para o julgamento. “Respeito a decisão dos jurados mas iremos recorrer. Com oito meses iremos pedir progressão para regime semiaberto. julgaram o mito e não a pessoa.”
Rafael Brunini, filho de Rivelino, disse que sente um alívio com a prisão de Arcanjo. “Justiça foi feita. Estou feliz com o resultado mesmo isto não trazendo meu pai de volta.”
As testemunhas começaram a ser ouvidas na manhã de quinta-feira (10). A primeira de acusação a depor foi Raquel Spadoni Jacques Brunini, irmã de Rivelino Jacques Brunini. Ela se recusou a depor na frente do Arcanjo por se sentir coagida. Afirmou que há anos morou fora do Brasil, por medo.
Durante a tarde, Ronaldo Sérgio Laurindo contou em seu depoimento que Júlio Bach se referia a Arcanjo como “papai do céu”. Paulo “Cabeludo” foi o terceiro a prestar esclarecimento e relatou ter ouvido Hércules e Célio combinando depoimentos para obter benefícios.
Joaci das Neves, quarta testemunha de acusação, estava nervoso e pediu para que todos se retirassem quanto o mesmo prestava os esclarecimentos por aproximadamente 1h30. Logo em seguida foi a vez de Saulo Tadeu Constantino e Jorge Luis da Silva prestar os depoimentos.
No início da noite a única testemunha de defesa a prestar depoimento, Rutemberg Ferreira do Campo, relatou que a vítima Rivelino Brunini tinha envolvimento com os caça-níqueis e disse que aconselhou Brunini a deixar o esquema porque "o pessoal do Rio de Janeiro era perigoso e não brincava".
Os depoimentos das demais testemunhas de defesa foram lidos pela assistente da juíza, porque foram colhidos em outras comarcas.
Às 19h30 João Arcanjo Ribeiro sentou no banco dos réus, após rápida conversa com seu o advogado. Em seu depoimento negou ter matado Rivelino e afirmou que seu nome foi utilizado de forma indevida no Estado. Com o fim dos depoimentos a sessão foi encerrada.
O júri popular foi retomado na manhã desta sexta-feira (11) com os debates. Arcanjo foi descrito pela acusação como uma figura temida que circulava acompanhado de vários seguranças armados, sem que a Polícia nada fizesse para impedir. O advogado Paulo Fabrinny criticou a tese da acusação. Considerou que comparações com os outros réus, já condenados, é um erro. "Isso não é inteligente", argumentou.
Após uma pausa para o almoço, o promotor iniciou a réplica e logo em seguida o advogado com a tréplica. Cerca de duas horas depois o conselho de sentença seguiu para sala de votação onde permaneceu por cerca de uma hora. Antes de informar a decisão, a família de João Arcanjo foi chamada pelos jurados e, após a conversa, deixou o plenário. A juíza Mônica Perri anunciou a condenação de 44 anos e 2 meses do ex- bicheiro, que sorriu ao ouvir a sentença.