Entre 1o de janeiro a 28 de dezembro deste ano a embriaguez ao volante foi a causa de 121 acidentes registrados nas 5 rodovias federais de Mato Grosso, onde 101 pessoas ficaram feridas e 8 morreram. No mesmo período a Polícia Rodoviária Federal (PRF) realizou 909 testes de etilômetro (bafômetro) nas rodovias, com a autuação de 73 condutores que dirigiam veículo sob influência de álcool e 52 pessoas foram presas. Somente em dezembro, do dia 1o a 28, a PRF realizou 386 testes de etilômetro, 31 pessoas foram autuadas por dirigir sob influência de álcool e 22 pessoas foram presas.
Com o feriado do ano novo, a preocupação com a mistura álcool e volante redobra os cuidados do policiamento, tanto nas rodovias federais como estaduais, na Baixada Cuiabana e interior. O major Adnilson de Arruda, comandante adjunto do Batalhão de Polícia Militar de Trânsito Urbano e Rodoviário, avisa que os postos da polícia rodoviária situados nas rodovias MT-251 que liga Cuiabá à Chapada dos Guimarães (67 km ao norte de Cuiabá) e a MT-010 que liga Cuiabá à Acorizal (62 km Cuiabá) e MT-040, que liga a Capital a Santo Antônio do Leverger (34 km ao sul de Cuiabá) estarão munidos de bafômetros, além de um aparelho a ser utilizado em uma unidade volante.
A fiscalização será intensa nestes postos e se estende até a tarde e noite de domingo, quando é previsto o retorno dos viajantes. Arruda acredita que na rodovia MT- 251, além do retorno dos moradores da região metropolitana, um grande fluxo de turistas que se deslocou da região do Araguaia deve aumentar o número de veículos na via, bem como o risco de acidentes. Nesta sexta-feira (30) o foco do policiamento está voltado para a rodovia de Chapada dos Guimarães, onde é esperado um maior movimento na via, a partir das 17h.
Na opinião do taxista Joacir Leite, 56, os riscos de se envolver em um acidente na madrugada de reveillon são grandes, em decorrência da quantidade de motoristas alcoolizados que cruzam a cidade, indo ou vindo de festas. Há mais de 30 anos atuando como motorista profissional, assegurou que vai atravessar o ano trabalhando, como já fez muitas vezes. Lembra que em várias ocasiões flagrou os acidentes motivados pelo álcool, na virada do ano e que normalmente envolvem jovens entre 19 e 26 anos, muitos deles com carteiras de habilitação provisória. Entre os clientes da noite de ano novo, a maioria é de cidadãos conscientes que optam pelo táxi, preferindo deixar o veículo na garagem para não correr o risco de acabar o ano ou começar o outro provocando tragédias.
O gestor em informática, André Luiz Ribeiro da Silva, 30, tem consciência que quando mais jovem correu riscos várias vezes de se envolver em acidentes de trânsito, nas festas de fim de ano. Apesar de evitar dirigir depois de beber e sempre passar a direção do veículo para algum amigo, relata que na madrugada do reveillon e na manhã do dia 1o os flagrantes envolvendo brigas e acidentes de trânsito decorrentes do excesso de álcool são comuns. Agora, depois de casado, já opta por comemorar a passagem de ano entre familiares, muito próximo da residência, optando por se deslocar a pé. Com isso não precisa abrir mão da bebida durante a comemoração.
Conscientização – O chefe do núcleo de registro de acidentes e medicina rodoviária da PRF, no estado, Alessandro Barbosa Dorilêo, que os governantes precisam ampliar as ações destinadas a conter as tragédias de trânsito associadas ao consumo do álcool e direção. Segundo ele, apenas criar leis e empurrar a responsabilidade exclusivamente para o policiamento não tem eficácia. A própria questão legal que faculta ao motorista se submeter ao exame que comprova a embriaguez já torna a lei ineficaz, aponta. Tanto que as estatísticas apresentadas pela PRF, durante as ocorrências, não refletem a realidade, pois em muitos casos não há meios de comprovar que o condutor estava sob efeito de álcool. Em alguns casos é necessário encaminhá-lo para atendimento médico, que é priorizado e em outros ele se nega a ser submetido ao teste.
Alessandro acredita que só quando toda a sociedade for responsabilizada pelas consequências de um acidente provocado pelo álcool é que o número de tragédias poderá ser reduzido. Cita o caso do Japão, onde o proprietário do estabelecimento que fornece a bebida ao motorista causador do acidente também é punido, com o fechamento do comércio. Enquanto que no Brasil, as lojas de conveniências de postos de combustíveis são locais onde facilmente se encontram bebidas alcoólicas para a venda.
A veiculação de propagandas de cervejas e bebidas alcoólicas, voltadas ao público jovem, associando o consumo de álcool a pessoas bonitas e de sucesso acaba incentivando o consumo da droga considerada ilícita, lembra o inspetor. Enquanto isto acontece livremente, medidas paliativas como as leis acabam não tendo o efeito esperado e as tragédias continuam ocorrendo.