A cada seis horas uma criança é hospitalizada em Mato Grosso vítima de acidente. Aqui no Estado e em todo o país não são doenças que mais matam meninos e meninas de zero a 14 anos, mas sim imprudência no trânsito e afogamentos. Quedas e queimaduras motivam o maior número de internações. Outros casos mais comuns são de intoxicação e tiro. Dados da Organização não Governamental Criança Segura confirmam que as histórias são recorrentes. Foram 1.342 internações em 2016, sendo 576 por queda e 380 por queimadura. Em 2014, 95 crianças mato-grossenses morreram, sendo 44 no trânsito e 24 por afogamento.
Dois casos noticiados nesta quarta-feira (10) chamam a atenção para este problema. Um menino de 2 anos se afogou na piscina em Alta Floresta (803 km ao norte). Em Campo Verde (131 km ao Sul), um bebê de 8 meses teve 50% do corpo queimado após incêndio residencial suspeito.
A ONG Criança Segura alerta que esta realidade é mutável, já que a maioria dos casos é evitável. Não entanto, isso exigiria mudança de comportamento dos pais e legislação dura, o que não existe.
Pouco mais de 24 horas após se afogar na piscina do Clube CTG, onde o pai é arrendatário da lanchonete, o menino de Alta Floresta foi transferido em estado grave para UTI em Cuiabá. Quando o Corpo de Bombeiros chegou ao local do acidente, ele já estava boiando há cerca de 5 minutos. Comandante da corporação no local, tenente Diego Reis narra que, após os primeiros atendimentos, respiração boca a boca e outros mecanismos de salvamento, continuou em coma. “Estava em parada cardiorrespiratória”, resume. Levado ao Hospital Regional Albert Einstein, foi entubado.
Em Campo Verde, incêndio que atingiu o bebê está sob suspeita. Há indícios de que os pais ingeriram bebida alcoólica e não viram o fogo aumentar. Em risco de morte, a criança também foi transferida para Cuiabá.
A médica intensivista pediatra, Vanessa Vilas Boas Cassol, chefe da UTI do Pronto-Socorro Municipal de Cuiabá, lamenta o fato de todos os dias chegarem crianças acidentadas na unidade, principalmente vindas do interior, algumas delas de helicóptero devido à gravidade dos casos e da precariedade no atendimento especializado fora da capital. “São pacientes em estado grave, que às vezes chegam até andando à UTI, mas depois pioram ou que já chegam em coma”.
Apesar de tudo, segundo a pediatra, não é mito dizer que crianças se superam na recuperação. “A maioria escapa da morte, embora boa parte saia daqui com sequelas. Elas têm maior capacidade fisiológica, hormônios de crescimento e uma enorme vontade de viver”.