A cada três dias, 1 jovem morre de forma violenta em Cuiabá, sendo 89,3% do sexo masculino e 90% com idade entre 15 e 24 anos. Os números fazem parte do estudo elaborado pela mestranda do curso de Enfermagem da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), Karla Fonseca de Matos e deixam claro a mortes violentas que atinge o ápice exatamente nesta faixa etária.
Das 131 mortes de jovens registradas em 2009 pelo Instituto Médico Legal (IML) da Capital, 66,4% foram causadas por homicídios, suicídio ou lesão corporal e o restante por acidentes. Os dados alarmantes mostram que muito precisa ser feito para conter a escalada da violência. "É possível notar que até os 10 anos de idade predominam os acidentes e, a partir daí vai crescendo o número de vítimas de violência de forma assustadora", diz Karla Matos.
Mato Grosso (UFMT), evolução nos casos de Segundo o coordenador do Núcleo Interinstitucional de Estudo da Violência e Cidadania (NIEVCi) da UFMT, sociólogo Naldson Ramos da Costa, diversos fatores explicam a alta mortandade mas a falta de lares estruturados e a baixa escolaridade, combinados, criam um perigoso grupo de risco.
Isto porque, longe da escola e do acompanhamento possível por meio de educadores e sem boas referências familiares, o jovem potencializa seu ímpeto em uma fase de início de sua necessidade de afirmação. "Geralmente ele tem dificuldade de combater suas frustrações. Então, quando não há a proximidade com pessoas que possam servir de exemplo positivo, ele fica mais suscetível a se arriscar".
Outro ponto destacado pelo sociólogo é a questão das drogas, lícitas e ilícitas, que surgem exatamente na fase das descobertas, a adolescência. "Seja nos homicídios ou nos acidentes, o álcool, por exemplo, é um forte componente que ajuda a explicar as altas taxas de mortes registradas".
Presente em 90% dos casos de homicídio de pessoas de qualquer faixa etária, as drogas são consideradas fator multiplicador do risco de morte entre jovens. Já passando por uma fase em que forma sua personalidade, o que aumenta sua exposição à violência, ele ingressa também em um universo cuja a vida tem pouco ou nenhum valor. Morre-se por desentendimento com outros usuários ou por "justiçamentos" ocasionados por furtos realizados para o sustento do vício.
Segundo o estudo, os homens são maioria nas mortes por violência com 89,3% dos casos. "Até os 9 anos de idade o risco de morrer é semelhante, mas quando se rompe a barreira dos 10 anos, as taxas registradas nos jovens do sexo masculino se tornam impressionantes", detalha Karla Matos.
O aspecto econômico também deve ser levado em consideração nas mortes de crianças e adolescentes. Conforme Naldson Ramos, há um abismo entre pobres e ricos quando se fala de vítimas de violência. "A soma dos fatores ausência de família estruturada com baixa escolaridade, que acreditamos serem de grande contribuição nas mortes, são mais frequentes entre pobres".
Para mudar este quadro, que, se nada for feito, tende a piorar, tanto a pesquisadora quanto o sociólogo concordam em apontar a implementação de políticas públicas. "Lugar de jovem é na escola, buscando conhecimentos, participando de atividades com educadores e obtendo influências positivas, que contribuam com a maturidade", ressalta o sociólogo.
Entre as mudanças, a mestranda em enfermagem aponta também como medidas o combate ao tráfico e comercialização de armas de fogo, além de campanhas de prevenção primária, isto é, que evitem que os crimes ocorram, e que poderiam ser feitas com a conscientização nas comunidades para que os jovens adotem comportamentos saudáveis. "Embora a mortandade se configure problema de saúde, a responsabilidade na promoção da saúde e da cultura de paz, assim como na prevenção de violências contra crianças, adolescentes e jovens, não se restringe apenas a este setor. Há a necessidade de se realizar ações intersetoriais e multiprofissionais".
Acidentes – Entre as mortes por acidentes o trânsito leva, disparado, o título de maior vilão. A impetuosidade dos jovens aliada à falta de controle por parte das autoridades mata mais da metade das 29,8% vítimas de acidentes nas ruas e avenidas da cidade. Segundo o tenente-coronel Wilson Batista, comandante do Batalhão de Trânsito da Polícia Militar, a busca pela redução destes índices, graves, levou o país – 5o lugar no mundo que mais mata – a instituir a década do trânsito."Os jovens não possuem o conhecimento adequado dos veículos, a segurança e o controle necessários em situações extremas e, por isso, ocorrem os acidentes".
A pesquisa aponta outro dado curioso, o número de mortes em jovens é maior nas motocicletas do que nos automóveis. "Temos muitos registros de jovens que, com as facilidades existentes hoje, compram motos sem antes passar pelos testes e provas necessários para obtenção da Carteira Nacional de Habilitação (CNH)".
No geral, os acidentes de trânsito são causados por uma combinação perigosa, álcool, ruas mal conservadas e falta de fiscalização. A situação fica mais visível aos finais de semana, quando as madrugadas tornam as ruas perigosas pistas de corrida. "Aos sábados, domingos e dias de grandes eventos vemos aumentar o registro de acidentes graves de trânsito".
Para mudar esta situação, são necessárias mudanças na parte da formação dos condutores e na fiscalização das vias. "É preciso rever a questão da carga horária dos Centros de Formação de Condutores e das aulas práticas, que hoje não estão mais contemplando o correto aprendizado", destaca o tenente-coronel.
A adoção, por parte do poder público, da tecnologia existente na fiscalização do trânsito também seria uma forma de diminuir os acidentes. "A multa já foi absorvida pela sociedade e não cumpre mais seu papel pedagógico".
Outro tipo de acidente que chama a atenção, o afogamento, pode ser facilmente evitado. Sinalização em rios e lagos e cuidados dos pais ajudariam a diminuir o número de mortes por esta forma. Em visita aos locais onde ocorreram tais mortes é possível constatar que não existem placas de advertência. "Com a pesquisa pude perceber que a maior parte das mudanças deve partir do poder público. Se quisermos mudar este quadro, é necessária a implementação de políticas que tirem os jovens deste grupo de risco". finaliza Karla Matos.