As especulações sobre o futuro do meia Zé Roberto foram confirmadas no início da noite desta sexta-feira. Com os olhos marejados e já sem o uniforme do Santos, ele anunciou sua despedida do clube e também da seleção brasileira. Ao lado do vice-presidente do Peixe, Norberto Moreira da Silva, o meia fez diversos elogios ao time da Baixada, contudo decidiu retornar para o futebol europeu.
“Uma das maiores virtudes do ser humano é a gratidão. Foram dez meses de Santos, que pareceram dez anos por tudo que vivi aqui. Sou muito grato aos jogadores, à comissão técnica, aos funcionários e à torcida. Estou saindo pela porta da frente, que foi por onde entrei. São poucos os atletas que conseguem isso em um clube com história”, reverenciou o jogador, que, para o próprio Pelé, honrou como poucos a camisa dez do Santos.
Desde 2002 no Bayern de Munique, Zé Roberto deixou o clube alemão antes da Copa do Mundo. Após o fracasso com a seleção brasileira, o meia se recuperou de uma cirurgia no joelho esquerdo no Reffis do São Paulo, porém o Peixe venceu a concorrência com o rival pela contratação do atleta. “Aconteceu o inverso: era um jogador que estava em evidência e veio da Europa para o Brasil”, lembrou Norberto Moreira da Silva.
Quase um ano depois, Zé Roberto pode voltar ao Bayern de Munique, embora ele não confirme a transferência. “Não acertei com ninguém, mas tenho propostas da Europa. Não posso dizer quantas e de quem são porque tem uma pessoa (seu empresário, Juan Figger) que cuida dessas coisas para mim. Não tenho como jogar futebol e, ao mesmo tempo, receber e-mails e telefonemas para negociar”, justificou.
Também para se manter focado apenas no esporte, Zé Roberto sempre adiou a decisão sobre sua permanência na Vila Belmiro para o dia 30 de junho, quando expiraria seu contrato com o Santos. A eliminação da Copa Libertadores da América acelerou a despedida, que ele já esboçava após a vitória sobre o Grêmio, na quarta-feira. “Depois do jogo, sentei para conversar com a minha família. Foi muito difícil decidir”, contou o jogador, que abriu mão de receber seu salário neste mês.
Com seus familiares, Zé Roberto comparou a qualidade de vida do Brasil com a européia. “A violência não influenciou diretamente a minha decisão. Aprendi a morar no Brasil à maneira do país, mas qualquer ser humano gosta de viver com liberdade. A minha família sempre viveu dessa maneira lá fora. Não encontrei isso quando retornei ao Brasil. Agora, tenho uma nova oportunidade para viver com liberdade”, explicou, após negar que esteja deixando o Santos por dinheiro.
“A questão não é financeira. Se fosse, eu não teria nem voltado para o Brasil. Estaria na Europa até hoje. São várias questões que influenciam a minha decisão. O Brasil tem clubes em condições de manter atletas bem-remunerados. O Santos é o maior exemplo disso, pois sempre cumpriu com seus deveres”, voltou a elogiar o jogador, que já se irritou quando o valor do seu salário fora divulgado pela imprensa. Mais uma vez, por medo da violência.
Nesta sexta-feira, Zé Roberto passou no CT Rei Pelé para recolher pertences pessoais e divulgar oficialmente sua saída. Ele já havia se despedido dos demais jogadores na quinta-feira. Para a torcida, que promoveu até campanha pela sua permanência, ele se derreteu em elogios no dia da resposta ao apelo “Fica, Zé!”. “Se não for a melhor torcida do Brasil, é uma das melhores. Ou, bem dizer, do mundo. Já andei muito por aí e sei o que eu estou falando”, enalteceu.
Pelos dez anos vividos em dez meses, Zé Roberto deixa a esperança de, um dia, voltar ao Santos, como pode fazer com o Bayern de Munique. “É muito precoce para falar se eu vou encerrar minha carreira na Europa ou com que idade vou parar. Se, com 32 anos, estou no meu melhor momento, é porque ainda tenho muita lenha para queimar”, sorriu o jogador, agora sem clube.