A torcida esperava uma Seleção convincente antes de estrear na Copa das Confederações e se contentou com um placar dilatado e a quebra de tabus. Neste domingo, na Arena do Grêmio, o Brasil bateu a França pela primeira vez desde 1992 ao aplicar 3 a 0, e conseguiu seu primeiro triunfo sobre um rival campeão do mundo desde o 1 a 0 sobre a Inglaterra em 14 de novembro de 2009.
Em seu último amistoso antes de estrear na Copa das Confederações diante do Japão, no sábado, em Brasília, o time de Luiz Felipe Scolari teve alguns momentos do bom jogo coletivo que o técnico tinha prometido. Um deles, aos oito minutos do segundo tempo, gerou o gol de Oscar. Aos 39, Hernanes aproveitou jogada confusa para fechar o placar e Lucas, aos 47, converteu pênalti sofrido por Marcelo.
Apesar dos gols quando o adversário já estava cansado, a equipe foi muito mais monótona do que empolgante. A melhora que os gaúchos esperavam nesta tarde em Porto Alegre terá que ser acompanhada por eles e pela maior parte do País pela televisão. A semana será de treinamentos na busca por algo mais convincente no último torneio do time antes da Copa do Mundo.
Nos primeiros cinco minutos da partida, o Brasil fez exatamente o que Luiz Felipe Scolari: imposição para dominar o campo adversário e jogo coletivo. Foi com a marcação ofensiva que, em menos de dois minutos, o time quase abriu o placar em bola que Neymar roubou do goleiro Lloris e em cruzamento de Daniel Alves que Fred quase completou nas redes.
A França, porém, adaptou rapidamente seu estilo ao esquema dos anfitriões. Pouco fazia diferença o fato de Felipão ter ouvido o técnico rival, Deschamps, escalando Neymar pela esquerda, com Oscar no centro e Hulk pela direita no auxílio a Fred. Os visitantes adiantaram tanto a marcação que seus zagueiros estavam à frente do quarteto ofensivo, deixando-os em impedimento.
Com a medida, o Brasil era forçado a fazer passes longos, quase sempre com Thiago Silva, e quase sempre errados. Para piorar, Daniel Alves cismou que era meia, pouco contribuiu ofensivamente e ainda deixou seu setor à disposição para o toque de bola francês sempre encontrar algum volante seu livre por ali.
Irritado, Scolari improvisou uma cadeira atrás de uma das placas de publicidade para ver melhor o jogo. E viu seus jogadores, primeiro, acertarem a marcação. Luiz Gustvao se esforçava para preencher os espaços à frente da área de Júlio César e Oscar mostrou fôlego para cobrir as subidas de Daniel Alves na lateral direita e correr para ser opção na frente.
Mas a França criou perigo em cabeçada de Matuidi rente à trave esquerda de Júlio César e a Seleção mostrou empenho para voltar a ter a bola nos pés, com seus homens da frente recuando para ter a bola. Aos poucos, foram os visitantes que se acuaram em seu campo, mas sem deixar espaço para o Brasil trocar passes com mais efetividade.
Durante os últimos 30 minutos do primeiro tempo, os destaques positivos brasileiros, além da marcação de Luiz Gustavo e a mobilidade intensa de Oscar, foi o esforço de Hulk, que era quem mais se mexia na frente para abrir espaço, até arriscando seus chutes potentes, embora sem a mira necessária para balançar as redes.
Neymar estava apagado. Felipão tentou acordá-lo mandando dois recados, um deles via Marcelo, e o maior astro da Seleção passou a mudar de posição o tempo, passando pela direita, pelo centro e pela esquerda do ataque. Mas só conseguiu um desvio rente à trave em cruzamento da direita, aos 31 minutos.
Fred, que também pouco se mexia, ainda teve cabeceio perigoso aos 41 minutos. Mas era pouco. E Scolari parece ter entendido isso. O Brasil voltou do intervalo com a movimentação exigida pelo jogo coletivo. O centroavante, por exemplo, passou a se mexer para tocar mais na bola e fazer o ataque criar perigo.
Assim, com menos de um minuto de segundo tempo, uma troca de passes envolvendo todos os quatro jogadores do setor ofensivo só não virou gol porque Hulk perdeu na catra de Lloris. E a marcação também estava mais firme, já que a única subida de volante francês que gerou susto foi um chute de fora da área de Cabayet.
A melhora tática e coletiva deu resultado aos oito minutos. Um desarme feito por Luiz Gustavo logo levou a bola à frente, onde Fred mostrou que pode ser mais do que um centroavante parado, tocando para Oscar, livre, deslocar Lloris, abrindo o placar para festa na Arena Grêmio.
Mas o jogo coletivo eficiente durou pouco, e a França só não empatou aos 14 porque Júlio César fez grande defesa para evitar um gol contra de David Luiz. Felipão abriu mão do 4-2-3-1, intensificando a marcação no meio-campo com Fernando, Luiz Gustavo e Paulinho atuando juntos e nenhum armador, cabendo a Neymar tocar a bola em busca de Lucas e Fred ou Jô – Oscar e Hulk saíram.
Assim, a França, aparentando cansaço, pouco incomodou. Quando Hernanes entrou no lugar de Luiz Gustavo, já não poderia mais fazer diferença, mas fez o suficiente para garantir a vitória, aproveitando contra-ataque rápido para balançar as redes aos 39 minutos. E Marcelo ainda sofreu pênalti que Lucas converteu, nos acréscimos.
O triunfo sobre uma seleção campeã do mundo aconteceu. Mas não com um show nem com a atuação convincente que o torcedor desejava para apostar no título da Copa das Confederações e, principalmente, da Copa do Mundo.