O São Paulo tinha uma boa chance para se reabilitar da derrota por 3 a 0 para o Goiás na noite desta quinta-feira – estava de volta ao Morumbi para enfrentar o último colocado da segunda divisão nacional, que viajou com mais de uma equipe inteira de desfalques. Mas acabou derrotado por 2 a 1 pelo Ceará, saiu em desvantagem nas oitavas de final da Copa do Brasil e entrou em crise.
Apesar de ter pressionado os visitantes durante a partida inteira, o São Paulo (com novo rodízio do técnico Juan Carlos Osorio) voltou a mostrar deficiências defensivas e falta de criatividade ofensiva. Levou um gol de Rafael Costa no primeiro tempo – após cobrança de escanteio de Guilherme Andrade, lateral direito vinculado ao Corinthians – e já desceu para os vestiários sob vaias.
Na etapa complementar, o São Paulo ficou ainda mais exposto aos contra-ataques, o que provocou o pênalti de Luiz Eduardo em Fabinho. Rafael Costa cobrou no meio do gol para ampliar. Alexandre Pato ainda descontou logo em seguida, mas não evitou os insultos de torcedores uniformizados a Osorio, Michel Bastos, Ganso e ao restante do time “amarelão”, “sem vergonha” e “pipoqueiro”.
O São Paulo estará longe do clima hostil do Morumbi em seu próximo compromisso. Jogará no Maracanã na tarde de domingo, contra o Flamengo, mesmo dia do confronto entre Ceará e Paraná no Castelão, pela Série B. Na noite de quarta-feira, os rivais nas oitavas de final da Copa do Brasil irão se reencontrar em Fortaleza.
O jogo – Os torcedores do São Paulo que foram ao Morumbi fizeram só uma cobrança antes de a partida começar. “Raça! Raça! Raça!”, berraram. Juan Carlos Osorio já havia feito a mesma exigência aos seus jogadores dias antes do compromisso contra o Ceará.
Nos primeiros minutos, o São Paulo pareceu disposto a dar uma resposta à torcida e ao comandante colombiano. Desta vez com só dois zagueiros e com Carlinhos na armação ao lado de Paulo Henrique Ganso – e atrás de Alexandre Pato e Luis Fabiano –, a equipe acuou o Ceará com bastante movimentação.
Os espaços para contra-ataques, no entanto, continuaram abertos. Só que o desfalcado Ceará não tinha a precisão nem a velocidade do Goiás para tirar proveito. Por isso, as suas melhores chances para surpreender eram com a bola parada. Foi assim que os visitantes abriram o placar.
Aos 17 minutos, Guilherme Andrade (lateral direito emprestado pelo Corinthians) bateu escanteio, e Wellington Carvalho desviou de cabeça. Rafael Costa ficou sozinho para completar para dentro depois que a defesa do São Paulo avançou, na tentativa de deixá-lo impedido.
O gol do Ceará fez a torcida do São Paulo se impacientar. Longe do setor das organizadas, a irritação era maior. “Vai para a área, Pato, filho da p…!”, reclamou um são-paulino, incomodado com o atacante que se dispunha a buscar o jogo. “Thiago Mendes, acerta uma!”, gritou em seguida. E o volante errou, para desespero de quem o cobrava: “Vá se f…!”.
Embora o ambiente no Morumbi não fosse mais de apoio, o São Paulo ainda conseguiu se reorganizar ofensivamente. Luis Fabiano e Paulo Henrique Ganso entusiasmaram o público com uma cabeçada e com um chute de fora da área, respectivamente, o que levou o time da casa um pouco mais adiante.
Procurando ser útil, o canhoto Carlinhos começou a aparecer mais do lado direito do gramado. Foi de lá que, aos 41 minutos, ele fez um bom cruzamento para Alexandre Pato escorar na segunda trave. A bola chegou a acertar o poste e saiu. Pouco depois, Thiago Mendes alegrou até o seu crítico com uma conclusão de longe, por cima da meta. E Michel Bastos emendou bem em uma sobra na área e parou em grande defesa de Luís Carlos.
A pressão do São Paulo no final do primeiro tempo não foi suficiente para convencer a sua torcida. O time foi para o vestiário sob vaias. E retornou escutando novo clamor por “raça” e com o estreante Wilder no lugar de Luis Fabiano, que acusou dores no intervalo de partida.
Em alguns minutos de segundo tempo, as manifestações isoladas de insatisfação de torcedores do São Paulo se alastraram pelo Morumbi. Ainda mais porque os laterais de Osorio eram pouco produtivos, dificultando o trabalho dos armadores, e em função de uma cabeçada perigosa de Rafael Costa, defendida por Renan Ribeiro.
Osorio resolveu mudar novamente o São Paulo em menos de dez minutos. Trocou Reinaldo, que saiu hostilizado, por Wesley, deslocando Carlinhos do meio para a lateral esquerda. Como o São Paulo voltou a obter oportunidades de gol dessa forma, houve trégua com parte da torcida – apesar de Ganso ter discutido com um grupo de são-paulinos quando se apresentou para uma cobrança de escanteio.
Ficaria pior. Aos 19 minutos, o Ceará enfim aproveitou os espaços oferecidos pelo São Paulo, que se lançava todo ao ataque. Fabinho avançou em velocidade e caiu quando encontrou Luiz Eduardo dentro da área. Pênalti. Rafael Costa bateu no meio do gol e conferiu.
As organizadas, então, desistiram de ficar ao lado do São Paulo. Nem mesmo um gol de Alexandre Pato, que dominou na área e concluiu no canto aos 22, mudou a postura do público. Seguiram-se insultos a Michel Bastos, ao vice-presidente de futebol Ataíde Gil Guerreiro, a Osorio e ao restante do time “amarelão” e “sem vergonha”, além de idolatria a Diego Lugano, reforço preterido pelo clube.
Os são-paulinos não pertencentes a organizadas ainda tentaram combater as cobranças mais exageradas com cantos amistosos aos jogadores. Mas não havia calma nem mesmo dentro de campo. Luiz Eduardo entrou em atrito com Uillian Correa enquanto a sua equipe tentava (com direito a chute de Wilder no travessão), em vão, ao menos empatar para afastar a crise que se instalava no Morumbi.