Se a partida entre São Paulo e Santos, às 15 horas (de Brasília) deste domingo, no Morumbi, fosse definida por um chavão, certamente ele não seria “clássico não tem favorito”, recorrente em confrontos San-São, mas “duelo de opostos”, comum para jogos de grandes clubes com equipes de menor expressão.
As contratações de pré-temporada do São Paulo foram as que geraram maior expectativa entre as torcidas. Os dirigentes do Morumbi repatriaram, entre outros, ninguém menos que o atacante Adriano, emprestado pela Internazionale e que já fez jus à aposta: é o artilheiro do time com quatro gols marcados no Campeonato Paulista, no qual o Tricolor aparece como melhor entre os grandes, somando 13 pontos.
Por outro lado, o técnico Emerson Leão encontrou um “pasto deteriorado” no Santos, conforme definiu as condições de trabalho que herdou do desafeto Wanderley Luxemburgo. Sem recursos para investir em reforços, o máximo que o clube da Vila Belmiro conseguiu foi trazer o questionado volante Marcinho Guerreiro em termos parecidos aos de Adriano, ficar com o zagueiro Betão, dispensado pelo Corinthians, e acertar com os desconhecidos Evaldo, Luiz Henrique e Douglas.
Como os resultados foram pífios no início do Estadual e a torcida se revoltou, pedindo com freqüência as cabeças de Leão e do presidente Marcelo Teixeira, seja através de cantos de protesto ou pichações, a diretoria resolveu ceder a empresários. O Santos contratou quatro estrangeiros, que ainda não poderão entrar em campo no Morumbi. “Vou trabalhar com o que tenho”, conformou-se Leão.
Na quinta-feira, entretanto, o Santos, ainda cheio de pratas-da-casa, conseguiu um feito: foi o único grande clube a vencer na rodada do Paulistão. Pouco depois de o São Paulo apenas empatar por 1 a 1 com o São Caetano, o Peixe bateu o Marília por 1 a 0, igualando os oito pontos do também badalado Palmeiras no início da rodada. “Ainda temos muito a melhorar para domingo, principalmente nas finalizações. Chutamos muito mal de novo”, alertou Leão, que ainda vê sua equipe como a mais questionada entre as maiores do Estado.
Não são apenas os atacantes santistas que preocupam o treinador. Ele cobra muita atenção com a estrela maior do São Paulo. Inclusive da arbitragem. “O Adriano é grande e a braçada dele também. O zagueiro e o juiz precisam ficar espertos porque, realmente, a coisa é dura na disputa com ele. É um atacante canhoto, de grande envergadura física, que finaliza bem e tem presença na área. Não podemos deixar a bola chegar até ele”, avisou Leão.
Já o centroavante Kléber Pereira, que, no time do Santos, desempenha a mesma função de Adriano, brincou com o apelido do adversário. “Eles têm o Imperador, mas nós temos o Rei”, sorriu, referindo-se a Pelé. “O Adriano é um grande jogador e já mostrou isso na seleção brasileira e na Internazionale. Só que clássico se ganha nos detalhes”, completou Pereira, autor do gol santista sobre o Marília e eleito pelos tricolores como principal ameaça ao gol de Rogério Ceni.
Apesar da preocupação santista com a defesa, foi exatamente a falta de eficiência dos atacantes são-paulinos na competição que custou a queda de posições ao time, fora do G-4 pela primeira vez desde a segunda rodada. Além dos quatro gols marcados por Adriano até então, o time do técnico Muricy Ramalho conta apenas com dois do negociado Souza e outros dois da dupla Hernanes e Jorge Wagner. Os atacantes Borges, Aloísio e Dagoberto – este último lesionado – seguem sem marcar.
O jejum, é claro, incomoda o treinador. “Precisamos jogar mais. No começo, não podia exigir tanto”, disse Muricy, que engrossou o coro dos próprios jogadores. “A gente tem que levar em conta que, daqui pra frente, o time vai mostrar mais entrosamento. Em campo, teremos a cara do Muricy”, concordou o zagueiro Alex, titular na última partida. “Cabe a nós jogar bem. Já se passaram sete rodadas”, vaticinou o volante Fábio Santos.
Em compensação, o São Paulo garantiu que oferecerá bastante resistência a Kléber Pereira e seus companheiros. “Nossa defesa continua difícil de ser batida. A ligação é que deve melhorar”, reforçou o comandante do Tricolor. “As duas equipes jogam de igual pra igual, procuram o gol, e isso favorece a nós”, destacou o zagueiro Miranda, titular da melhor defesa do campeonato, com quatro gols sofridos em sete compromissos até aqui.
Em campo, os dois rivais terão novidades. O São Paulo deverá contar com volta da dupla de volantes Hernanes e Richarlyson, que estava com a seleção brasileira. Além disso, Joílson também retornará à equipe depois de cumprir suspensão com o terceiro amarelo. Os únicos desfalques do Tricolor para o clássico deste domingo seguem sendo os lesionados Dagoberto e Alex Silva.
No Santos, quem deverá reaparecer entre os titulares é o zagueiro Domingos, suspenso na rodada anterior. Leão espera que o porte físico do zagueiro faça frente ao de Adriano. No meio-campo, o armador Luiz Henrique foi mal em suas duas partidas com a camisa dez do Peixe e deverá perder espaço. Rodrigo Tabata é o favorito a ficar com a vaga. Já os pratas-da-casa Alex e Carleto disputam posição na ala esquerda. Com essa equipe, o time visitante espera surpreender e fazer valer o chavão “clássico não tem favorito” no duelo de opostos contra o São Paulo.